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O atraso tecnológico europeu

No ano passado, a empresa californiana de microchips Nvidia, impulsionada pelos investimentos em inteligência artificial, tornou-se a oitava empresa americana a valer mais de 1 trilião de dólares, podendo estar próxima de destronar a Apple como empresa mais valiosa do mundo.

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No ano passado, a empresa californiana de microchips Nvidia, impulsionada pelos investimentos em inteligência artificial, tornou-se a oitava empresa americana a valer mais de 1 trilião de dólares, podendo estar próxima de destronar a Apple como empresa mais valiosa do mundo. Em contraste, na Europa, não houve uma única empresa fundada nos últimos 50 anos que atingisse o valor de 100 mil milhões de euros. De facto, as cinco maiores empresas do mundo em valor de mercado são todas americanas e tecnológicas: Apple, Microsoft, Nvidia, Alphabet e Amazon. Das vinte maiores empresas globais, dezassete são americanas, duas são asiáticas (Saudi Aramco, da Arábia Saudita, e Taiwan Semiconductor), e apenas uma é europeia: a dinamarquesa Novo Nordisk, que ocupa a 18.ª posição. Mesmo alargando um pouco a análise, os EUA continuam a dominar, com empresas americanas representando 73% das 30 maiores empresas e mais da metade das 500 maiores.

Nas cidades de São Francisco, Los Angeles, Phoenix e Austin, qualquer pessoa pode hoje chamar um carro autónomo da Waymo para se deslocar. A Waymo, uma subsidiária da Alphabet Inc., originalmente conhecida como Google Self-Driving Car Project, é um de vários operadores que presta serviços de transporte com carros autónomos, concorrendo diretamente com serviços de transporte operados por humanos, como a Uber e Lyft.

Recentemente, tive a oportunidade de usar esses veículos em várias viagens em São Francisco durante uma visita de trabalho. Foi uma das experiências mais futurísticas que já vivi, uma daquelas experiências que pensava viver daqui a 5 ou 10 anos… e que nos faz  reflectir sobre as diferenças do desenvolvimento tecnológico entre os EUA e a nossa velha Europa.

Se por um lado os EUA e a Europa enfrentaram desafios semelhantes nas últimas décadas (como a crise financeira e a pandemia de covid-19), por outro os EUA conseguiram dar a volta e hoje quando analisamos os fatores que geram riqueza, da ciência à inovação e até os incides de natalidade, os EUA estão à frente na maioria dos indicadores.

Entre 2010 e 2023, a taxa de crescimento acumulada do PIB atingiu 34% nos EUA, comparada com apenas 21% na União Europeia e 18% na Zona Euro. Este indicador de PIB em volume não depende de variações nas taxas de câmbio. No mesmo período, a produtividade laboral cresceu 22% nos EUA, mas apenas 5% na Zona Euro. O fosso entre a Europa e os EUA é evidente desde o início da década de 2010 e não pode ser explicado pelas diferenças no crescimento da população em idade ativa.

Em termos comparativos, estados americanos possuem economias tão grandes quanto países inteiros: o Texas equivale à Itália (8.ª maior economia do mundo), Nova Iorque ao Canadá (9.ª maior), a Florida à Espanha (15.ª maior) e o Illinois à Arábia Saudita (19.ª maior). Se analisarmos o PIB per capita, o PIB per capita da Alemanha é inferior ao do Mississipi, o estado americano com PIB per capita mais baixo, enquanto que o da Dinamarca fica abaixo do do Maine ou do Louisiana.

Os fatores que explicam a queda da produtividade laboral na Europa são o investimento insuficiente em novas tecnologias (computadores, inteligência artificial, software, etc.) e os baixos níveis de investimento em investigação e desenvolvimento (I&D).

Apesar da taxa de investimento empresarial ser semelhante nos EUA e na Zona Euro (13,5% do PIB), a parcela destinada à tecnologia é muito maior nos EUA (5% do PIB contra 2,8% na Zona Euro). É essencial que os investimentos empresariais europeus sejam mais sofisticados e voltados para tecnologias de ponta.

Os orçamente para I&D, tanto universitária quanto corporativa, são significativamente maiores nos EUA. Esses recursos são cruciais para impulsionar os ganhos de produtividade.

A União Europeia parece consciente do problema e tem tentando mudar isso. O ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi elaborou um relatório sobre tudo o que estava errado e o que precisava ser feito. O veredito foi claro: são precisas medidas drásticas. A Europa tem de reorientar urgentemente os seus esforços para colmatar o défice de inovação em relação aos EUA e à China, em especial no domínio da tecnologia.

O problema não é a falta de ideias ou de ambição, mas sim o facto de não estarmos a conseguir traduzir a inovação em comercialização. Veja-se o caso da inteligência artificial, a qual tem um enorme potencial de acelerar a inovação em praticamente todas as indústrias e setores económicos. Este é um caso em que os empreendedores dos diferentes blocos geopolíticos encontram níveis diferentes de regulação da utilização de inteligência artificial (IA). Enquanto vários países fora da Europa se têm afirmado pela implementação de estratégias para estimular o desenvolvimento e a aplicação da IA, a UE tem centrado a sua abordagem na ética e na regulamentação, sendo hoje (apenas) líder na criação de políticas e diretrizes para o uso responsável da IA. A menos que a Europa consiga transformar a forma como investe e priorizar a inovação, a diferença em relação aos EUA continuará a crescer.

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