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Universidades: vamos deixar de precisar delas!

Há um terreno onde a universidade é imbatível. Ensinar. O domínio do saber, do saber-fazer e do saber ser/saber estar são claramente competências das universidades. Mal das empresas se não puderem usufruir destas dimensões.

Um colega meu disse claramente, num fórum público, que a inovação que interessa e onde está o dinheiro para o desenvolvimento é nas empresas privadas. Por isso, ou também por isso, fazer hoje um doutoramento é perder 3-4 anos de vida. Portanto, universidade, vamos deixar de precisar delas!

Na verdade, e na altura não lhe respondi, mas respondo agora, esta é uma das maiores falácias que já alguma vez ouvi. Porquê? Podemos ter que ter modelos de universidades diferentes e muito do que se faz está decrépito e anquilosado. Porém, as universidades desempenham um papel crucial na sociedade, mesmo sabendo que uma boa parte da inovação e do desenvolvimento estão intimamente associados a empresas privadas. Não é por uma questão de ideologia porquanto sou totalmente a favor do privado e só tenho pena que não tenhamos mais. Porém, convém olhar para algumas questões abaixo:

1 – A investigação básica e geração de conhecimento:

As universidades são instituições críticas para a investigação básica e a geração de conhecimento novo. Se assim não fosse teríamos apenas as empresas privadas concentradas em pesquisa aplicada para atender a necessidades específicas de mercado; de outra forma, podemos ter as universidades a explorar questões fundamentais, lançando as bases para inovação futura.

2 – A perspetiva de longo prazo:

As universidades não são impulsionadas exclusivamente por motivos de lucro a curto prazo. Embora possam, e devam, ser geradoras de lucro em áreas que o permitam ter, deverá haver dinheiro canalizado para apostas em financiamento a médio-longo prazo em lógicas de investigação e desenvolvimento que não tenham que ter um fim aplicacional imediato, mas que podem levar a avanços no futuro.

3 – A colaboração interdisciplinar:

As universidades proporcionam um ambiente único para a colaboração interdisciplinar. As empresas não. Investigadores de diversas áreas podem unir esforços para resolver problemas complexos, promovendo a inovação que abranja domínios diversos.

4 – A educação e desenvolvimento de talentos:

As universidades desempenham um papel vital na educação da próxima geração de pensadores, cientistas, engenheiros e profissionais no geral. Fornecem uma educação ampla e profunda que vai além das necessidades imediatas do mercado de trabalho, fomentando o pensamento crítico e a criatividade. E aqui está uma necessidade que jamais será colmatada pelas empresas. Ensinar a pensar, ensinar a criar. Dar liberdade para o fazer.

5 – Considerações éticas e impacto social:

As universidades devem dar prioridade a considerações éticas e ao impacto social da investigação. Podem explorar as implicações da tecnologia e inovação na sociedade, ajudando a orientar o desenvolvimento e uso responsáveis.

6 – Acesso aberto à informação:

As universidades contribuem para a disseminação do conhecimento através de publicações, conferências e outros meios. Esse acesso aberto à informação é crucial para o progresso da ciência e a partilha de ideias, permitindo que investigadores e empresas construam sobre o trabalho uns dos outros.

7 – Incubação de startups:

Os gabinetes de transferência de tecnologia e as incubadoras de empresas que apoiam a transição da investigação para aplicações práticas estão nas universidades. Isso pode levar à criação de startups e empresas derivadas que contribuem para o desenvolvimento económico.

8 – Desenvolvimento cultural e social:

As universidades são centros de desenvolvimento cultural e social. Contribuem para a riqueza intelectual e cultural da sociedade, fomentando um ambiente onde ideias, artes e valores podem e devem prosperar.

9 – Colaboração global:

As universidades facilitam a colaboração global em pesquisa e desenvolvimento. Parcerias internacionais permitem a reunião de perspetivas, recursos e experiência diversas para enfrentar desafios globais.

10 – Aprendizagem contínua e adaptação:

Em campos de rápida mudança, como a tecnologia, as universidades desempenham um papel crítico ao garantir que profissionais e investigadores se envolvam em aprendizagem contínua e adaptação para acompanhar novos desenvolvimentos.

Como se isto não bastasse, há um terreno onde a universidade é imbatível. Ensinar. O domínio do saber, do saber-fazer e do saber ser/saber estar são claramente competências das universidades. Mal das empresas se não puderem usufruir destas dimensões.

Assim, muito embora as empresas privadas possam ser impulsionadoras importantes da inovação e do crescimento económico, os papéis complementares das universidades na promoção de investigação a longo prazo, fundacional e socialmente responsável, bem como no desenvolvimento dos indivíduos nos vários níveis do saber, tornam indispensáveis estas últimas no sentido do progresso global. A colaboração entre universidades e empresas privadas (e públicas), decisiva, pode criar uma relação sinérgica que beneficia o mundo, literalmente, como um todo. Universidades: não, não vamos deixar de precisar delas!

 

As universidades desempenham um papel vital na educação da próxima geração de pensadores, cientistas, engenheiros e profissionais no geral.
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