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Hub universitário português? Só colaborando

Tenho para comigo que as universidades portuguesas e, em particular, as Escolas de Gestão portuguesas deveriam colaborar muito mais. A colaboração entre universidades numa mesma cidade ou pequeno país, especialmente em economias abertas e dependentes do exterior como o nosso, torna-se central para criar um hub de ensino superior e posicionar uma cidade, uma região ou um país, perante o exterior, como um polo mais atrativo para estudantes internacionais. Porquê internacionais?

Se olharmos para a nossa pirâmide etária temos pouco mais de 400.000 crianças entre os zero e os quatro anos. Impressionante. Se se mantiver o rácio de entrada nas universidades como o que acontece à data de hoje, isto é, 60.000 entradas no ensino superior (pico deste ano) para cerca de 570.000 jovens entre os 20 e os 24 anos teremos uma percentagem de acesso de cerca de 10%. Podíamos fazer a mesma conta para os jovens dos 15 aos 19 anos e a percentagem subiria de 60.000 para 530.000 jovens, i.e., cerca de 11%. Se fizéssemos um pequeno “fine-tuning” aos cálculos e apanhássemos apenas metade dos jovens na faixa dos 15 aos 19 anos, i.e., metade de 530 mil, e os somássemos a metade dos jovens na faixa dos 20 aos 24 anos teríamos um valor médio de 10,5% usando os mesmos 60.000 que entraram este ano. Isto dito e fazendo o cálculo para 10,5% de 400.000 crianças, as que hoje têm entre zero e quatro anos, teríamos uma entrada de 42.000 alunos daqui a 14-16 anos no ensino superior (e, consequentemente, perdido 12.000 alunos para o sistema de ensino superior). E se continuarmos a cair na taxa de reposição estaremos sempre a cair no número de alunos que entram nas universidades.

Que não se pense que vão entrar mais alunos com menos população porque isso não é realista. Que não se pense também que depois deste pico de 60.000 entradas irão entrar sempre mais e mais porquanto quando nos deslocamos para os escalões mais baixos em idade a população vai decrescendo. Que não se pense, finalmente, que conseguiremos colocar mais de 10 ou 11% de um estrato de 5 anos de população, seja dos 15 aos 19 ou dos 20 aos 24 anos porque os problemas estruturais do país estarão por resolver e muitos continuarão a não ter como não seguir uma via de trabalho.

Assim, penso que será relativamente óbvio que ou arranjamos novas populações descendentes de imigrantes em Portugal ou nos voltamos de uma vez para o exterior, onde estão os grandes mercados. Apostaria na segunda, de caras, embora ache que a forma de o fazer está toda por pensar e merecia uma atenção absolutamente crítica. Para isso, e não só, as universidades e as escolas de gestão que queiram posicionar-se no mercado internacional e com a capacidade instalada que têm terão de colaborar. Não há como dizer de outra forma.

Porquê?

Para diversificarem a oferta académica e criarem complementaridades e idiossincrasias únicas.

Para poderem beneficiar de infraestruturas partilhadas e multipolares.

Para que a rede de contactos e oportunidades profissionais seja exponenciada, ousando fixar em Portugal alguns dos melhores alunos atraídos – haja empresas dispostas a pagar-lhe salários atrativos.

Para criar um efetivo hub educacional, uma rede mais atrativa e mais vibrante, complementaridade académica e experiencial.

Para fomentar “cross-fertilization” entre docentes e discentes e investigação mais colaborativa.

Para conseguir desenvolver, em conjunto, competências mais globais e atrativas para quem nos procura.

Para que haja maior e melhor acesso a financiamentos internacionais.

Para que possam existir efeitos comunicacionais sinergéticos e em escala na promoção internacional.

Como há uns dias escrevia, as 5 escolas de gestão que estão nos “rankings” do Financial Times estão ufanas e a achar-se as últimas bolachas do pacote. Porém, a realidade é que os critérios dos “rankings” irão mudar, as exigências serão cada vez maiores e não ver mais à frente é sempre de um provincianismo e de uma paroquialidade que deve fazer tremer o comum dos mortais.

Mas, como se diz por cá, é o que é. Sem visão conjunta teremos, com o nosso tamanho, muitas mais dores futuras. Mas preferimos tê-las a deixar de as ter em prol de um desiderato coletivo cujos incentivos deveriam ser pensados e levados à prática. É quando todos estamos bem na fotografia dos “rankings” que devemos pensar nisso. Não quando estivermos piores.

 

Que não se pense também que depois deste pico de 60.000 entradas irão entrar sempre mais e mais.
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