Opinião
Ensino superior: os desafios de hoje para as profissões de amanhã
A educação é a chave para preparar as novas gerações para os trabalhos do futuro. O foco deve estar no desenvolvimento de ofertas formativa abrangentes, flexíveis e dinâmicas, com forte ligação à realidade económica e empresarial, fomentando experiências de internacionalização e desenvolvendo uma consciência ética para o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa e sustentável.
A educação desempenha um papel crucial na preparação das gerações futuras para os desafios e oportunidades dos trabalhos do futuro. À medida que a sociedade avança numa era cada vez mais digital e com cada vez maiores riscos para a sustentabilidade, as exigências aumentam e requerem uma abordagem inovadora e adaptável. E o ensino superior português é desafiado a antecipar as necessidades de um mercado de trabalho em forte mudança. De acordo com o relatório “Future of Jobs” do World Economic Forum (abrange 803 empresas que empregam mais de 11,3 milhões de trabalhadores em 45 economias), as tendências ambientais, tecnológicas e económicas influenciam significativamente a criação (e a destruição) de emprego. A criação de emprego nos próximos anos será impulsionada por investimentos que apoiem a transição climática das empresas, a aplicação mais alargada de normas ESG (“environmental, social and governance”), a maior localização das cadeias de abastecimento, e a crescente adoção de novas tecnologias e maior acesso digital. De acordo com o relatório, prevê-se que 60% dos trabalhadores precisem de formação até 2027 e que 44% das suas competências sejam afetadas nos próximos cinco anos.
Neste contexto, são vários os desafios que o ensino superior enfrenta. Primeiro, ao nível da oferta formativa: considerando que as funções com elevadas expectativas de crescimento estão nas áreas de tecnologia, digitalização e sustentabilidade, as instituições de ensino superior terão de ter capacidade para incorporarem rapidamente nos seus programas temas como sustentabilidade, programação, “big data analytics”, inteligência artificial, digitalização, “cloud computing” e cibersegurança.
Segundo, quanto às competências a desenvolver, o pensamento analítico e criativo, juntamente com as competências cognitivas, estão no topo da lista das que são mais valorizadas por empregadores. E estas competências transversais têm de ser corretamente balanceadas com as competências técnicas fundamentais de cada área científica. O crescente papel da inteligência artificial e automação terá impactos significativos em diversas profissões. Contudo, outras surgirão que exigirão capacidades exclusivamente humanas, como a empatia. Aqui, o contacto com outras culturas, potenciado por programas de mobilidade internacional, tem um enorme relevo. Portanto, a educação deve conjugar a formação de competências técnicas com o desenvolvimento das qualidades humanas.
Terceiro, a importância das parcerias. A colaboração entre instituições de ensino superior, organizações empresariais e do terceiro setor e as entidades públicas é vital. Programas de estágio e de “mentoring”, parcerias com indústrias e currículos alinhados com as necessidades atuais e futuras do mercado de trabalho são basilares. A aprendizagem assente em formação prática e baseada em projetos, bem como as experiências de trabalho durante os estudos, contribuirão para uma melhor preparação dos alunos para a realidade profissional. A construção de programas formativos em forte ligação ao mundo empresarial permitirá dar respostas mais completas às necessidades das empresas, nomeadamente em temas de sustentabilidade, inteligência artificial e liderança responsável, fatores determinantes para o sucesso das organizações. São bons exemplos disto mesmo os programas oferecidos pelo INSURE.Hub, uma parceria entre a Universidade Católica Portuguesa, a Planetiers New Generation e mais de 70 entidades parceiras, nas áreas da inovação e sustentabilidade.
Quarto, a aprendizagem ao longo da vida, a qual deve ser incentivada, possibilitando a atualização contínua de competências ao longo do percurso profissional. A requalificação para os empregos do futuro é fundamental e o sistema de ensino superior português terá aqui um papel central. O programa PRO_MOV, que emergiu da Iniciativa Europeia Reskilling 4 Employment (R4E), criada pela European Round Table for Industry (ERT), é um bom exemplo. Outro é a criação da Academia do Empresário, uma iniciativa da Associação Empresarial de Portugal, da Associação Nacional de Jovens Empresários e do Instituto de Emprego e Formação Profissional, que apostará nas áreas da gestão, liderança e fomento do empreendedorismo.
Em resumo, a educação é a chave para preparar as novas gerações para os trabalhos do futuro. O foco deve estar no desenvolvimento de ofertas formativa abrangentes, flexíveis e dinâmicas, com forte ligação à realidade económica e empresarial, fomentando experiências de internacionalização e desenvolvendo uma consciência ética para o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa e sustentável.