Opinião
Os piratas
Apesar de ser na Islândia que o Partido Pirata pode chegar ao poder, parece ser cá que a ribaldaria tomou conta do Governo.
Três licenciaturas falsas nos gabinetes com respetivos despachos no Diário da República e um ministro da Educação que assobia para o ar; manipulação dos quadros do Orçamento do Estado para 2017, para esconder o enorme desvio na despesa em 2016 e para vender mentiras aos portugueses: a prioridade na educação, anunciando um aumento de 3,1% quando na verdade se corta 2,7%, e um enorme reforço na saúde, anunciando um aumento de 3,7% que é de 1,1%. "Plasmado em números." Em ano de autárquicas, o Governo cria uma norma no Orçamento que desresponsabiliza os autarcas por má despesa pública, esquecendo os efeitos da austeridade.
O primeiro-ministro, que chamou a si todos os sucessos da Caixa, desresponsabiliza-se agora do compromisso assumido com os administradores de não entregarem as declarações de rendimentos no TC, como os outros gestores públicos: "No que diz respeito às obrigações do Conselho de Administração em relação ao acionista, o Estado, essas estão cumpridas." Não estão. Cavalgando vários exemplos, Fernando Esteves escreveu, na Sábado, um artigo violento contra os políticos: "Os políticos são fracos nos princípios e pequenos nos fins. Os adjuntos são minúsculos nos princípios e fraquitos nos fins - e talvez seja esse o segredo para que se deem tão bem."
A quem faz política custa ler isto. Porque se fica sem argumentos e sabemos que as pessoas concordam e acham que é tudo igual. Basta ver a abstenção. A falta de respeito, a indiferença, para com quem se governa, e de preocupação com um papel que é importante, é uma espécie de suicídio coletivo. Não me interessam as comparações descabidas tipo emailgate com watergate - o BE nisto é parecido com o Trump - porque se ficarmos presos a elas não esclarecemos nem avançamos. Não se pode deificar a política, mas simplesmente política não é pirataria.
Jurista
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico