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Opinião
07 de Junho de 2017 às 22:04

Purgatório

Os "players-chave" do antigo regime, que atingiu o seu apogeu com Sócrates, continuam a ser desbancados do conforto daquela forma de poder tão pouco transparente.

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"No decurso da operação realizada… no âmbito de um inquérito dirigido pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal foram constituídos quatro arguidos: António Mexia, João Conceição, João Manso Neto e Pedro Furtado… As investigações prosseguem, estando em causa factos suscetíveis de integrarem os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e participação económica em negócio."

Entretanto, como é sabido, juntaram-se a eles o ex-presidente da REN, e atual "chairman" do Novo Banco, Rui Cartaxo, e mais duas pessoas. Une-os a EDP. Bem sei que a história dos Jerónimos é vergonhosa, mas há outras dignas de nota. Esta parece-me muitíssimo relevante. Mais do mesmo, é verdade, mas demonstradora de várias coisas.

Em primeiro lugar, mostra que a justiça continua a fazer o seu papel (apesar de muito lenta e de termos de ver resultados), sem se questionar a presunção de inocência de ninguém; que o resto dos atores faça o seu.

Em segundo lugar, mostra que os "players-chave" do antigo regime, que atingiu o seu apogeu com Sócrates, continuam a ser desbancados do conforto daquela forma de poder tão pouco transparente. Começaram com a queda de Salgado, com avanços e recuos – em relação à EDP, por exemplo, o governo PaF deixou cair antes um secretário de Estado, Catroga continua aí e foi o segundo protagonista da conferência de Mexia, a questão das rendas do setor é antiga –, mas o novelo vai-se desfazendo apesar dos muitos interessados das empresas, à política, à comunicação social, em manter aquele "status quo". Claro que os sinais de reincidência da velha ordem vão aparecendo, como parece ser o caso do Montepio, Santa Casa, aparentemente o Estado a entrar noutro banco, por via desta, em nome do interesse nacional e sem data para sair.

Em terceiro lugar, que o país continua e que há muitas pessoas em todas as áreas e também na política, da direita à esquerda, que querem trabalhar por e viver num país mais solto. O líder do Ciudadanos espanhol, numa entrevista à Vanity Fair, explicou a sua subida e a do Podemos, no rescaldo da crise, com a importância de pedir explicações. Em Portugal, não aconteceram fenómenos semelhantes, mas que temos de virar definitivamente esta página, isso temos.

 

Jurista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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