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Sandra Clemente - Jurista 16 de Abril de 2017 às 21:25

Carmen

Chacón tinha 46, foi ministra da Defesa com 37. Antes disso tinha sido ministra da Habitação. Mulheres novas. Todas as ministras de Rajoy estiveram no funeral de Chacón: uma mulher "tem por trás o poder de todas as mulheres".

Lembro-me de ver a primeira página do El País naquele dia de 2008 e de sentir que um passo decisivo tinha sido dado. Carme Chacón, a primeira mulher ministra da Defesa em Espanha, e na Península Ibérica, passava revista às tropas numa base militar no Líbano, a caminho do Afeganistão, grávida. Quando Bizet a imaginou transgressora, não sabia quantas coisas teríamos de transgredir. Na altura, Espanha estava num momento crucial de implementação da igualdade de género, a "Ley Orgánica para la Igualdad efectiva de mujeres y hombres" tinha sido aprovada um ano antes, a violência doméstica estava na agenda, o governo tinha muitas mulheres e Carme foi uma forte "boot on the ground". Se a nomeação dela foi importante para o país, a fotografia foi-o para o mundo.

 

Voltou ao assunto no último discurso que fez, há uma semana: "Se quiserem ser mães, não sacrifiquem a vossa maternidade pelo trabalho… O mesmo para os homens. Desfrutem. Pode fazer-se, sem dúvida nenhuma, ambas as coisas." Quem é mulher e faz política ouve, muitas vezes, que as mulheres são felizes a fazer outras coisas. As mulheres, obviamente como os homens, são felizes a fazer todas as coisas que quiserem. A vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, disse no funeral de Chacón que Carme "abriu-nos a porta a algumas… em alguns temas que ela normalizou". Hoje a ministra da Defesa espanhola é outra mulher, María Dolores de Cospedal, e já ninguém salienta o facto: é normal. Muita água correu debaixo da ponte desde então, lá como cá, mas é notório o número de mulheres, de todos os partidos, em cargos cimeiros na política espanhola: ministras, porta-vozes, à frente do congresso e do senado, das comunidades autonómicas e das principais câmaras do país, nos partidos.

 

Santamaría lembrou outra coisa interessante, a identificação geracional. Ela tem 45 anos, foi ministra pela primeira vez aos 40. Chacón tinha 46, foi ministra da Defesa com 37. Antes disso tinha sido ministra da Habitação. Mulheres novas. Todas as ministras de Rajoy estiveram no funeral de Chacón: uma mulher "tem por trás o poder de todas as mulheres". Se isto acontece num país onde conseguem coexistir um conservadorismo extremo com uma esquerda tão radical como em Espanha, cá também pode acontecer.

 

Jurista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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