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02 de Fevereiro de 2017 às 00:01

Vai mesmo mudar

A eleição de Donald Trump provoca e suscita novas razões de reflexão sobre o estado da União Europeia. Essa maior atenção justifica-se também pela proximidade que se pressente entre o novo Presidente dos Estados Unidos e o Presidente da Rússia.

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Sente-se, principalmente, porque todos nós temos, cada vez mais, a sensação do dealbar de uma nova ordem económica mundial. Os equilíbrios ou os desequilíbrios em que tem assentado a atual estão a ser postos em causa, principalmente com aquilo que se vai sabendo das intenções do novo líder da maior potência mundial. Já aqui falei, na semana anterior, do que representa a alteração das regras do relacionamento comercial entre diferentes Estados e diferentes espaços do mundo. Mas, como temos visto, as alterações não se vão ficar por aí e, em certa medida - por muito distante que isso possa parecer -, poderão alterar até os termos em que tem funcionado a estrutura federal dos EUA. Mas adiante.

 

Voltando à UE. O que se sente nesta transição de época é que este espaço em que nos inserimos cada vez conta menos. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é como se estivesse desaparecido porque, provavelmente, não sabe o que há de dizer no meio de tudo isto. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, nunca conseguiu ganhar influência, tendo sido bem menos influente do que o seu antecessor, o primeiro presidente daquele órgão, Van Rompuy. Mas, principalmente, a fragilização dos poderes políticos nos principais Estados-membros da União e a saída do Reino Unido ameaçam pôr definitivamente em causa esta construção fantástica que tem sido levada a cabo há mais de meio século.

 

Muitos se recordarão de quando se dizia que a UE tinha de ser um dos grandes polos de um novo mundo que tenderia a ser cada vez mais multipolar. Tempos em que se falava no desenvolvimento das vertentes da política externa, da segurança e da defesa das comunidades europeias (para usar uma designação anterior), mas todas essas intenções foram sendo congeladas com o tempo. O aprofundamento e a ambição desmedida, os saltos em frente na convergência monetária ou União Monetária, foram pondo a nu as diferenças de desenvolvimento, as contradições das políticas e a quase impossibilidade de ultrapassar essas enormes dificuldades.

 

Com a crise de 2008 e com os problemas grandes nos sistemas financeiros deu-se um tiro grande no porta-aviões desta União. As economias fragilizaram-se, as estruturas sociais entraram em descompensação e os sistemas dos Estados e o sistema global da União perderam energia e vitalidade para responder à crise que é ela própria também global. A economia estagnou, a inflação quase se tornou deflação e o investimento recuou também muito. Estamos numa UE anémica, desvitalizada e se, em França e em Itália, Le Pen ou Pepe Grilo ganham as próximas eleições, para não falar já da Holanda e da Alemanha, então é que se poderá mesma começar a pensar no que vai suceder ao projeto em que os europeus tanto acreditaram. É bom que nos comecemos a preparar, porque o mundo, a Europa e os Estados hão de continuar. Mas é bom, todavia, ter sempre presente que as crises podem ser grandes oportunidades e isso depende da força das sociedades e da capacidade dos seus líderes. Pode pois ser uma oportunidade para a União Europeia se refundar ou renascer, porque está quase a precisar disso.

 

Advogado

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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