Opinião
Caixa de Pandora
Está aberta a caixa de Pandora. Depois das oscilações com as reivindicações sindicais na contagem do tempo para as progressões, depois do anúncio da descida progressiva do IVA na electricidade, vem agora a redução dos passes sociais.
Independentemente do mérito ou demérito de cada uma das possíveis medidas, a verdade é que todas elas são faladas e tratadas já em período pré-eleitoral, à entrada da última sessão legislativa. Juntando a estes dados alguma quebra no nível de crescimento económico, em relação ao ano transacto, temos os elementos necessários para não poder estimar um resultado orçamental diferente do que poderia ser alcançado. Há quem diga que há margem , até por força da redução dos encargos da dívida, mas certo, certo, parece ser a confirmação de que o ano eleitoral traz mais despesa e talvez, também, menos receita.
Em 2014, a um ano de eleições, as sondagens publicadas reflectiam a entrada na liderança do PS do actual primeiro-ministro e, por exemplo, uma sondagem publicada no Jornal de Notícias em 17 de Outubro de 2014 dizia que o PS estava à beira da maioria absoluta. Esse estudo previa 45% para o PS 28% para o PSD e 4% para o CDS (sondagem da Universidade Católica). Mas pouco tempo antes, outra sondagem, no caso da Aximage, ainda com António José Seguro como líder dos socialistas, punha o PS claramente à frente do PSD, embora em situação de empate se fossem contados os votos previstos para o CDS. O tempo andou e sabe-se o que aconteceu.
Há maneiras diferentes de perder eleições, no que à economia respeita, e isso pode acontecer por a crise económica estar no seu auge ou , estando a economia melhor, por não se aproveitarem devidamente os ventos favoráveis. Em 2015, a coligação PAF ganhou as eleições exactamente por ter tomado medidas difíceis ou custosas, mas boas para a recuperação da economia portuguesa, que já estava em curso depois da "saída limpa" do processo de intervenção externo.
A abertura da referida caixa de Pandora pode ter consequências eleitorais diferentes das previstas por aqueles que a abriram. Dar por adquiridas vitórias eleitorais, a um ano de eleições em qualquer democracia, é sempre um exercício arriscado. Mas , lembrando-nos nós de que, ainda há três anos, aconteceu o que aconteceu, ninguém deveria arriscar nenhum vaticínio desse tipo. Ainda por cima, o que esses resultados traduziram foi que os eleitores deram a vitória eleitoral aos autores das medidas difíceis e não concederam o vaticinado triunfo aos contestatários da austeridade - que eles próprios causaram - e portadores de promessas ilusórias.
A democracia é, também, um campo de combate pelas políticas em que se acredita. É compreensível que se resigne quem não tem melhor do que aquilo que existe para oferecer ao país. Quem tem luta para mostrar as diferenças e para fazer vencer o caminho em que acredita para o seu país.
Advogado
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico