Opinião
O prioritário e o inevitável
A deflação poderá estar a bater à porta. Mas nem isso nem a época natalícia conseguem iluminar o Governo e seus acólitos.
Em final de ano, impor-se-ia que o Governo ponderasse os resultados e corrigisse o que errado se mostra.
As políticas restritivas prosseguidas conduziram a que a economia real caísse numa espiral recessiva: queda dos salários reais, do consumo, do emprego, do investimento e consequente redução da capacidade de produção futura. Em resultado estamos mergulhados num empobrecimento social sem fim à vista e numa prolongada recessão que torna praticamente impossível reduzir o défice público (a não ser através da escalada das medidas de austeridade, o que só agrava a situação) e reduz fortemente a capacidade de pagar a dívida.
Não é admissível continuar a permitir que o país se despenhe na degradação económica e na desagregação social.
Não está em causa a necessidade de reduzir o défice e a dívida públicos. O problema é que isso é impraticável em simultaneidade com uma política recessiva. A solução é dar prioridade a políticas que apoiem o aumento da produção, do emprego, da produtividade e competitividade, pois só com um crescimento sustentado será possível reduzi-los duradouramente.
Além disso importa ter presente que a dívida pública não cessou de aumentar, apesar da austeridade e das nefastas e obscuras privatizações, e que os encargos com juros cresceram substancialmente tornando-se um obstáculo acrescido à redução do défice. Na impossibilidade da sua monetarização, é inevitável a reestruturação da dívida: substituição da dívida actual por outra com taxas de juro mais baixas e com prolongamento de maturidades, períodos de carência no pagamento dos juros, desejavelmente anulação parcial.
A deflação poderá estar a bater à porta. Mas nem isso nem a época natalícia conseguem iluminar o Governo e seus acólitos.
Economista e ex-deputado do PCP