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Como tratar da contabilidade de uma 'start-up'

Não devemos olhar para a contabilidade de uma empresa apenas como uma imposição legal, mas como uma ferramenta útil para a gestão e para a definição da estratégia.

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Quando começamos um novo negócio, temos sempre muitas dúvidas e preocupações. A contabilidade da empresa não será a primeira dúvida nem a primeira preocupação, mas é algo de extrema importância no dia-a-dia do negócio, por vários motivos.

 

Não devemos olhar para a contabilidade de uma empresa apenas como um instrumento legal que é obrigatório, mas como uma ferramenta muito útil não só para gerir o nosso negócio como, e acima de tudo, um parceiro de negócio estratégico.

 

Por um lado, podemos tratar a contabilidade desde o ponto de vista meramente técnico, onde os números são o que interessa, e identificar onde estamos a consumir mais o capital, de que forma o estamos a consumir e se esse capital está a proporcionar receita para a empresa. Podemos fazer uma análise tão simples quanto esta. Se a maior parte dos custos não estão concentrados no "core" da nossa actividade, como, por exemplo, no desenvolvimento, promoção e comercialização de um novo produto, caso a actividade se concentre na venda, então a estratégia da utilização dos capitais é errada. Se não investimos naquilo que o cliente compra, ou seja, naquilo que gera receita, estamos a desequilibrar a estrutura financeira da empresa e a colocar em causa a sua sustentabilidade. 

 

Nestes casos, teremos de rever os investimentos e a forma como estamos a aplicar o capital. Parece uma equação simples, mas se não é revista numa folha que pode, e deve ser, solicitada ao contabilista periodicamente, não conseguimos ter essa visão. O que muitas empresas fazem é apenas rever esse mapa financeiro uma vez por ano o que já é tarde de mais. Em resumo, peça este mapa financeiro, de custos e proveitos, ao seu contabilista com alguma regularidade, por exemplo, trimestralmente, para analisar onde está a aplicar o seu capital e identificar se o está a aplicar no "core" do seu negócio.

 

Existe, ainda, o aconselhamento que um parceiro destes pode dar em diferentes matérias que são de igual importância. Saber aplicar custos nas rubricas certas e aproveitar estes custos ao máximo é importante para espelhar a realidade do negócio e não prejudicar aquilo que é o fluxo de capital verdadeiro da empresa. Uma empresa que gera lucro contabilisticamente e que não tem capital disponível, ou seja, liquidez, não é saudável, pois estará a pagar impostos sobre as mais-valias sem ter capital para os pagar.

 

É aqui que deve entrar o parceiro financeiro, de forma a determinar quais os custos a imputar no ano corrente e facturas a realizar para o mesmo ano, e a forma como se factura ao cliente ou, mesmo, como se investe mais ou menos na empresa. É uma combinação de factores que exige alguma perícia por parte do parceiro financeiro que ajude a empresa a ter um retrato o mais fiel possível entre aquilo que é a contabilidade da empresa e a realidade do negócio, bem como a liquidez que esta pretende alcançar.

 

Um dos grandes desequilíbrios é provocado pela falta de cobranças. Diria que este é o factor mais crítico e que exige maior rigor do ponto de vista de aconselhamento financeiro. A forma como garantimos o recebimento logo no início da facturação, medindo o risco que temos com os nossos clientes, e as soluções de facturação a aplicar, bem como os métodos de cobrança que cubram esses riscos, mesmo que tenhamos de reduzir a nossa margem, são de extrema importância e não podem ser esquecidas.

 

O parceiro financeiro é uma peça mais importante do que um empreendedor poderá pensar na fase inicial do negócio, pois poderá ajudar a escolher a melhor direcção a tomar na empresa, a estratégia, e a evitar um descontrolo financeiro através de alguma assessoria na área de vendas e de cobranças.

 

Como último conselho, deve procurar um contabilista profissional, competente nestas matérias, eficiente e rigoroso, e não necessariamente o mais caro, pois isto pode não significar que se trata do melhor. Identifique as qualidades de cada um, segundo as suas necessidades. Depois, determine aquele que consegue suportar financeiramente.   

 
Tome nota

1. Escolha o seu parceiro financeiro com rigor.

 

2. Não entregue a contabilidade da sua empresa a um amigo que lhe possa "desenrascar" uma obrigação legal, pois não se trata disso.

 

3. Trabalhe com o parceiro financeiro assim como trabalha com as outras áreas da empresa, pois ele poderá ajudá-lo em muitas matérias. 

Envie para o "e-mail" jng@negocios.pt as suas questões, dúvidas ou experiências sobre "Como tratar da contabilidade de uma 'start-up'".

 

*Fundador da Zonadvanced e Bluegrana Capital Corporation

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