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17 de Abril de 2015 às 10:07

Eu quero é "abanar os Lellos"! (O PS quer cantar a Grândola, mas só sai Bon Jovi)

Não é certo que o PS venha sequer a ter "Estado", mas toda a mixórdia à volta das presidenciais mostra bem o quanto o PS está longe do essencial do regime, e das suas possíveis refundações.

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Permitam-me que humorize sobre um sonho que tenho: eu quero, como Henrique Neto, chegar aos 78 anos a abanar os Lellos desta vida.


Maravilhoso: Neto aparece como candidato com toda a carga cívica e política que o PS sonha que tem, e logo José Lello - cuja obra, além da vida partidária, se desconhece por completo - sai em defesa à cacetada: "Henrique Neto é um Beppe Grillo Português". António Costa, com aquela inabilidade que eu sempre achei que ele tinha, mostrou-se "indiferente", em declarações perto da má educação e a roçar a completa ausência de qualquer sentido de Estado. Não é certo que o PS venha sequer a ter "Estado", mas toda a mixórdia à volta das presidenciais mostra bem o quanto o PS está longe do essencial do regime, e das suas possíveis refundações. Esta semana, surge mais uma sondagem a colocar o PS longe da terra prometida; e dizia mais ainda: segundo a Aximagem, a popularidade de Costa está em queda livre. Sobre isso, nem um pio, claro. Nem sobre a seguinte evidência: ao contrário do que sucederia com um líder como Seguro, tudo o que correr mal ganhará contornos de irreversível. Não há álibi, o filho pródigo está na cadeira de sonho. Gela-se o sangue nas fileiras socialistas.


Quem surge? Manuel Maria Carrilho, o mau, o pérfido, Carrilho. Pois sim, mas sucede que Carrilho é talvez dos poucos ministros do Guterrismo com autoridade para tal - há mais de uma década que Carrilho desmontou a desvirtuação dos Estados Gerais às mãos do aparelho profundo do Partido Socialista, e avisou sobre os custos desse "faz de conta, que eu gosto é de poder". Era o tempo de assuntos sérios como Foz Côa, não sei se se lembram; era o tempo da pusilanimidade de Guterres a deixar espaço à ascensão de "starlets" como Sócrates, deixando para trás técnicas de excelência como Elisa Ferreira, entre outros.


João Miguel Tavares (JMT) - que delícia de artigo, meu caro - põe o dedo em todas as feridas no seu "O arroto e a boa contaminação" do passado dia 16, no Público. Como saberá, Carrilho sugeriu a expulsão de Sócrates do partido, caso sejam provadas as acusações que sobre ele pendem. Logo a Guarda Pretoriana do aparelho - como se não houvesse por estas ruas muito mais com que se indignarem - surgiu, alvoroçada. Lello fez insinuações que provam o seu vácuo intelectual e não merecem qualquer comentário, e Isabel Moreira falou de arrotos e violência doméstica. Diz, então, JMT: "Da mesma forma que um condenado não perde direitos políticos, também um homem com um comportamento abjecto na forma como tem reagido publicamente às acusações de violência doméstica não fica diminuído na sua liberdade de expressão, nem perde o direito a que os seus argumentos sejam analisados por aquilo que eles valem, e não pelo carácter de quem os profere". Eu acrescento - o uso arbitrário do direito da presunção de inocência para alguns militantes, e não para outros, diz tudo sobre a trampa em que o partido está feito. Ou, como diz JMT: "O caso Sócrates pode, e deve, contaminar as próximas eleições legislativas. O que não faz sentido é fingir que não há um elefante no meio da sala: ele está lá, partiu a mobília toda, e ainda é acusado de ter levado alguma para casa. O PS não tem de responder por isto? Claro que tem".


"O Eng. Sócrates não confiava nos bancos, por isso circulava o dinheiro em envelopes", diz a defesa do Preso 44. Camaradas, se não querem entrar para a história como o Partido do Euro 2004, decretem já um "blackout" daqueles como no futebol: são capazes de ter mais votos e, sobretudo, melhor memória futura. O PS quer muito cantar a Grândola, mas só sai Bon Jovi: "We're living on a prayer", que é como quem diz: "Vivemos agarrados às preces". E, no meio disto tudo, ninguém percebeu que a Direita está onde sempre se esperou que ela estivesse e que pode muito bem ser que caia sobre o PS a bomba da desilusão. "Ora, o argumento de Carrilho toca num tema essencial, e ainda não devidamente discutido: até que ponto existe uma cumplicidade do PS em relação às acções de Sócrates, e até que ponto o partido falhou na protecção do interesse público ao apoiar caninamente um secretário-geral e um primeiro-ministro com o seu perfil".


Siga a caravana da República, enquanto ladram os cães - se isso significar o fim do PS conforme o conhecemos, que seja então essa a última batalha que nos há-de levar à paz e à maturidade democráticas. Já estivemos mais longe. 

 

 

http://www.publico.pt/politica/noticia/o-arroto-e-a-boa-contaminacao-1692459

 

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