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06 de Setembro de 2013 às 00:01

Calma de morte na Desunião Europeia

Ainda bem que órgãos de outra soberania que não a política – como o nosso Tribunal Constitucional – vão, para já, travando o abalroamento do pouco que ainda resta do modelo social e da economia real. Seria de esperar que não fosse preciso "chumbo" nenhum para que Pedro Passos Coelho metesse a viola ao saco; afinal, muita da "despesa" do tal Estado regressa à economia, na forma de impostos – o mesmo não se pode dizer dos milhões que ele e Relvas sacaram para a sua Tecnoforma, para dar formação a "técnicos" para estruturas a construir, que do papel nem sequer passaram.

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Há um silêncio europeu vulgarizante que não augura nada de bom: o problema do Euro está rigorosamente na mesma, e em 5 anos todos os intervencionados "piigs" pioraram a sua situação social (eufemismo para "sofreram o que não mereciam") apenas para verem a sua situação de dívida soberana agravada também. É ridículo dito assim, mas não é por ser ridículo que deixa de ser mentira: objectivamente, os países do Sul e a Irlanda estão a financiar a Alemanha e em troca recebem nada. 

O neo-liberalismo acaba onde acaba o dinheiro dos outros; e este modelo está esgotado porque a classe média, que o financia, pura e simplesmente não pode mais. Os importadores saloios dos thatcherismos e afins nunca quiseram perceber que uma coisa é exportar energia a rodos e ter um sector financeiro que é um máquina internacional consagrada de lavagem de dinheiro (como a City, em Londres); outra, completamente diferente, é sujeitar uma democracia em construção às selvajarias da auto-regulação, e depois ficar à espera que o espírito reformista nasça como alfaces no deserto... Mexer numa Constituição nestas condições – e com um ministro das Finanças demitido nas 48 horas mais onerosas da História da política portuguesa – é um acto inconsciente; as consequências incomensuráveis são um risco pior que qualquer "swap". Tudo isto se passa debaixo dos olhos de uma sociedade (sim, uma sociedade, não uma empresa) perplexa e tolhida entre as promessas de vida eterna do capitalismo internacional e as dificuldades de um país que nunca soube posicionar-se estratégicamente em relação ao continente em que se encontra e às matrizes – culturais, económicas, ideológicas, etc... – que com ele partilha. Disto exemplo é todo o século XX português; e disto consequência é a ideia que "lá fora é que é" e que tudo está melhor. Mentira.

A "letargocracia" – termo usado pela generalidade dos media internacionais para definir a estratégia de colo e letargia que a Sra. Merkel tem montada – tem efeitos devastadores capazes de fazer corar qualquer alemão civilizado: segundo um estudo de opinião realizado pela revista "Stern", citada no "Público" na semana passada por M.J. Guimarães, metade dos inquiridos entre 18 e 29 anos não sabe sequer em que dia se realizarão as eleições e 73% dos participantes admite estar pouco ou nada interessado nas mesmas. Ora, estes dois números de si já dizem muito sobre a mediocridade partilhada nesta pseudo-europa; mas há mais e mete medo: 90% (!) dos inquiridos não acredita que a chanceler e/ou os media lhes estejam a dizer a verdade sobre o Euro. Para mal dos nossos pecados e destruição das nossas virtudes, o nosso primeiro-ministro contar-se-ia nos 10% de distraídos caso morasse em Berlime não em Massamá.

Em alemão, "schuld" quer dizer dívida, mas também quer dizer "culpa", numa coinicidência semântica que pode vir a crescer ainda mais em impacto: o terceiro resgate à Grécia, bem como o segundo a Portugal, bem poderão vir a transformar este jogos de palavras em algo mais sério, sobretudo se nos lembrarmos que o primeiro banco a falir em euros era alemão (o Hypovereinsbank) e que os alertas sobre a situação bancária na Holanda se sucedem para quem os quer ouvir e pensar a Europa para lá desta calma de morte.

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