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21 de Março de 2021 às 21:16

Na vacina da AstraZeneca, Portugal foi "Maria vai com as outras"

As habituais notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre o desconfinamento, a vacinação, a maçonaria e as eleições autárquicas.

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UMA SEMANA DE DESCONFINAMENTO

 

1.     Passou a primeira semana de desconfinamento parcial. Aparentemente correu tudo bem. Há mais contactos e mais gente na rua mas, para já, os números continuam positivos:

a)     Infetados, internados e doentes em UCI – Todos os números baixaram no espaço de uma semana;

b)     Em termos europeus, passámos do pior para o melhor. Fomos os piores da UE. Somos agora os melhores. Os que têm menos casos. Andamos em completo contraciclo em relação à Europa.

 

2.     Esta situação é muito positiva mas também muito perigosa. Dá-nos uma falsa sensação de segurança. É preciso ter em atenção:

·     Os principais países da UE têm vindo a piorar. Ora, a verdade é que não vivemos numa ilha.

·     As variantes mais contagiosas continuam por aí.

·     As consequências dos contactos desta semana só se sentem nos próximos dias. Nada de relaxar e facilitar.

 

3.     O mesmo se diga da vacinação.

·     Nos maiores de 80 anos, ainda só 53% tomaram a 1ª dose;

·     O grupo entre os 65 e 79 anos está muito desprotegido;

·     O facto de estarmos na média da UE também nos dá uma "falsa sensação de segurança". Afinal, a UE não está nada bem.

 

 

 

 

 

A POLÉMICA DA ASTRAZENECA

 

1.     Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. O ditado popular aplica-se bem à confusão desta semana na UE. Uns dizem que a AstraZeneca não está a cumprir os contratos firmados; outros dizem que o RU está a boicotar a UE; a maioria diz que a UE negociou mal os contratos e agora está a pagar a factura. A verdade é esta: a UE tem menos vacinas que os EUA e o RU; toda a gente culpa toda a gente; e a imagem da UE está a ser fortemente abalada.

 

2.     O que se passou esta semana na UE é um filme de terror.

a)     Primeiro: descoordenação. A maioria dos países a suspenderem a vacina. Outros a manterem-na. A UE em completa toda livre. Em total autogestão. Sem comando nem liderança.

b)     Segundo: desespero. A Comissão Europeia parecia uma barata tonta. Ameaças ao RU; ameaças às exportações das vacinas. Ameaças de processos judiciais. Como é que a UE, que iniciou tão bem este processo – com a compra conjunta das vacinas – rapidamente resvalou para a incompetência, a balburdia e a irresponsabilidade?

c)     Terceiro: irracionalidade. Todos os países se queixam da falta de vacinas. Mas a seguir resolveram suspender as vacinas que tinham sem qualquer fundamentação científica.

 

3.     Em Portugal nada foi muito melhor. As autoridades portuguesas andaram aos ziguezagues. A apanhar bonés. No domingo, dia 14, o Infarmed e a DGS reafirmaram que a vacina era segura. No dia seguinte, segunda-feira, mudaram de posição e suspenderam a vacina. O que se passou de tão grave em 24 horas? NADA. As autoridades portuguesas comportam-se de acordo com aquela expressão popular "Maria vai com as outras".

 

4.     Agora, a prioridade é retomar a confiança nesta vacina. Há que fazer pedagogia: nenhum medicamento ou vacina tem risco zero; os benefícios reais da vacina são bem maiores que os seus riscos teóricos; as autoridades científicas garantem ser uma vacina segura; logo, há que tomar a vacina.

 

PRÓXIMOS PASSOS DA VACINAÇÃO

 

1.     Vamos ter novidades nos próximos dias. Na UE e em Portugal. Comecemos pela UE onde haverá Conselho Europeu. O mal estar é enorme. Três desafios.

a)     Um desafio de unidade: há alguns países na UE, com a Áustria à cabeça, que querem mais vacinas e boicotam qualquer decisão se não tiverem ganho de causa. Embora não tenham qualquer razão: compraram a vacina mais barata para poupar dinheiro e agora pagam a factura;

b)     Um desafio de restrições às exportações: se se provar que a AstraZeneca não cumpre os contratos é legítimo proibir exportações. Mas isso pode ter retaliações. Os países terceiros que vendem as matérias primas podem retaliar. A UE vai arriscar? Uma guerra comercial é boa solução?

c)     Um desafio de aumento de produção: o que estamos a viver é uma guerra. Em tempo de guerra tem de haver decisões excepcionais. É o que devia haver na mobilização de toda a indústria europeia para aumentar a produção de vacinas. É nisto que a UE se deve concentrar.

 

2.     Em Portugal, duas boas novidades nos próximos dias: a vacina da Johnson & Johnson e a vacinação dos professores.

·     Vacina da Johnson & Johnson  As primeiras doses vão chegar a Portugal já na segunda quinzena de Abril. E em todo o segundo trimestre deste ano – segunda quinzena de Abril, Maio e Junho – a farmacêutica vai entregar a Portugal 1,25 milhões de doses. É uma informação importantíssima: uma vez que desta vacina só é necessário tomar uma dose, isto significa que em dois meses e meio esta vacina, por si só, será responsável por vacinar 1 milhão e 250 mil portugueses.

·     Vacinação dos professores  Um grande número de professores, cerca de 200 mil, vai ser vacinado em dois fins de semana. No próximo fim de semana e no fim de semana a seguir à Páscoa. Numa experiência nova que a task force da vacinação vai lançar. É uma vacinação intensiva, concentrada em dois fins de semana, em grandes espaços disponibilizados pelas autarquias. Só nestes dois fins de semana as autoridades esperam vacinar 200 mil pessoas ou mais. Esta é a primeira experiência de vacinação em massa mas será um ensaio para repetir no futuro.

 

3.     O plano de vacinação. Ordem dos Médicos quer que a grande prioridade sejam os idosos. Que o foco seja no factor idade. Faz sentido. É onde o vírus é mais letal. Desde que as prioridades definidas para os cidadãos que têm doenças graves e estão em grupos de risco não sejam desrespeitadas.

 

A POLÉMICA DA MAÇONARIA

 

1.     As iniciativas do PSD e do PAN tiveram um mérito: o de tornar claro que um titular de cargo político, ao assumir funções, devia tomar a iniciativa de declarar se pertence à Maçonaria, à Opus Dei ou a qualquer outra organização similar. Devia ser um dever cívico e político, especialmente em relação à Maçonaria.

a)     Em pleno século XXI, em liberdade e democracia, não há qualquer razão que justifique o grau de secretismo que ainda hoje envolve a Maçonaria. Organizações secretas ou discretas não são próprias dos dias de hoje.

b)     Este secretismo alimenta as maiores especulações. Especula-se que muita gente vai para a Maçonaria para subir na vida política. Que outros vão para a Maçonaria para terem maior influência nos negócios. Que a Maçonaria é um elevador político e empresarial.

c)     Tudo isto obriga a clareza e transparência. Sob pena de levar a especulações graves e a conflitos de interesses. E não se diga que é reserva da vida pessoal. Quem vai para a política tem que divulgar o seu património e as suas contas bancárias. Por que não divulgar também as Associações a que pertence?

 

2.     Finalmente, a relação da Maçonaria com a Justiça. O caso, aqui, é ainda mais sério. Por causa de duas realidades: por um lado, a relação hierárquica; por outro lado, o dever de solidariedade dentro da Maçonaria. Aplicando tudo isto à justiça, pergunta-se: um magistrado que seja maçon, ao julgar um outro irmão maçónico, deve obedecer a quem? À lei ou à solidariedade maçónica? Estas matérias devem ser debatidas e escrutinadas. Infelizmente há tabu a mais e escrutínio a menos.

 

 

ESTRATÉGIAS AUTÁRQUICAS

 

1.     As autárquicas começam a mexer a sério. E começam a perceber-se melhor quais as apostas estratégicas de cada partido. Alguns exemplos:

a)     A coligação PSD/CDS aposta forte sobretudo em Lisboa e Coimbra;

b)     O PS vai apostar forte em Setúbal e na Guarda;

c)     A CDU vai apostar forte na recuperação  de duas Câmaras "icónicas" que há 4 anos perdeu para o PS – Almada e Barreiro. Para tanto vai candidatar dois pesos pesados do PCP – Maria das Dores Meira será candidata em Almada e Carlos Humberto, ex-Presidente da CM do Barreiro, vai voltar a candidatar-se ao Município.

 

2.     Entretanto, em Lisboa, Chega, BE e IL apresentaram esta semana os seus candidatos. Admito que tenham expectativas altas, em especial o Chega e a IL depois do "sucesso" nas presidenciais. Mas vão correr riscos políticos enormes. Por uma razão simples: esta eleição vai ser fortemente bipolarizada. Vai haver muito voto útil, quer à esquerda, quer à direita. Não restará grande espaço para as candidaturas dos pequenos partidos.

 

3.     Esta eleição vai ser feita à medida dos interesses de Medina e de Moedas.

a)     Fernando Medina  O actual Presidente, se perder, perde muito. Ele e o PS. Até pode haver uma crise política. Mas, se ganhar e até ganhar com maioria absoluta por força do voto útil à esquerda, Medina dá um salto enorme na sua carreira política. Até pode vir a ser em 2026 candidato presidencial apoiado pelo PS. Se António Costa não quiser. Ora, isto que é bom para Medina e o PS – voto útil – é mau para os candidatos à sua esquerda.

b)     Carlos Moedas – Com Moedas a conclusão é muito semelhante: em princípio, Moedas ganha sempre. Se ganhar a eleição, é um grande vencedor. "Mete uma lança em África". Mesmo que não ganhe mas faça um grande resultado, é à mesma um ganhador político e fica na pole position para outros voos. Só que, para ter uma vitória ou um grande resultado, vai ter muito voto útil à direita. O espaço não socialista vai movimentar-se como nunca porque sente que há uma oportunidade única de vencer o PS. A IL e o Chega serão as vítimas.

 

4.     Finalmente, uma originalidade: PM e MAI pensam exactamente o contrário um do outro sobre o modo de organizar as eleições autárquicas. O MAI quer eleições em dois dias. O PM quer tudo num só dia. Como fazem parte do mesmo Governo, é caso para dizer: podiam falar um com o outro de vez em quando!!

 

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