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Luís Marques Mendes 23 de Dezembro de 2023 às 21:20

Marques Mendes: "Não é impossível voltarmos a ter eleições legislativas em 2025"

No seu habitual espaço de opinião na SIC, o comentador Marques Mendes faz o balanço de 2023 e fala sobre o custo de vida e a nova Aliança Democrática, entre outros temas.

CUSTO DE VIDA E DESEMPREGO

 

  1. Há um País em campanha eleitoral. Mas há outro País preocupado com, pelo menos, três questões sociais sérias: o custo de vida na alimentação, o custo da habitação e o aumento do desemprego. É preciso alertar quem de direito: 
  • a) Primeiro, a alimentação. Os preços dos alimentos podem aumentar bastante em janeiro. Primeiro, porque cai à medida do IVA Zero. Logo, há cerca de 50 produtos essenciais que vão aumentar cerca de 6%. Depois, porque os preços na produção também vão aumentar.
  • Importa perguntar: o que é que o Governo vai fazer para ajudar as famílias mais pobres e carenciadas? O próprio Governo tinha prometido apoiá-las. Mas as medidas que se conhecem, do OE, não compensam os aumentos. São claramente insuficientes
  • b) A segunda tem a ver com a habitação. Segundo dados do INE desta semana, cerca de 40% das despesas familiares em 2022 e 2023 têm a ver com a habitação. É um valor preocupante. Como é preocupante o facto de as despesas com a habitação terem duplicado em apenas duas décadas (cerca de 20% no ano 2000 e cerca de 40% em 2022/2023).
  • Importa perguntar: não era tempo de os partidos fazerem um entendimento alargado para um programa social de emergência, a vários anos, no fomento e apoio à habitação?
  • c) A última preocupação respeita ao desemprego. Há cinco meses consecutivos que o desemprego aumenta. O número de desempregados está a crescer.
  • Importa perguntar: não seria tempo de acelerar o PRR? A taxa de execução continua muito baixa (cerca de 14% apenas). Para combater o desemprego, precisamos de investimento que gere postos de trabalho. E o grande instrumento que temos à nossa disposição é o PRR. Fala-se muito de PRR, mas os resultados são muito reduzidos.

 

O CASO DAS GÉMEAS

 

  1. Soube-se agora que Nuno Rebelo de Sousa, por iniciativa própria, reuniu duas vezes com o secretário de Estado (SE) da Saúde. E o SE diz que soube do caso das gémeas no contexto de uma reunião em que NRS lhe foi apresentar cumprimentos. Isto é surreal.
  • Então NRS foi apresentar cumprimentos ao SE da Saúde? A que título? A propósito de quê? Ele é alguma autoridade no setor da Saúde? Sejamos honestos: ele não foi apresentar cumprimentos. Ele foi meter uma cunha. Usando e abusando do nome do pai. Não devia ter acontecido.
  • Mas, já agora, se NRS quer ser figura pública e até gosta de apresentar cumprimentos aos governantes, porque é que, ao menos, não dá uma explicação pública do que aconteceu? Ficava-lhe bem.
  1. Aparentemente, o SE da Saúde não cometeu qualquer crime. Mas não sai bem nesta fotografia. Primeiro, porque demorou demasiado tempo a lembrar-se de ter reunido com Nuno Rebelo de Sousa. Depois, porque ao fim de todo este tempo, ainda não foi capaz de explicar quem é que do seu gabinete pediu a consulta ao hospital, porquê e por ordem de quem.
  1. É caso para dizer: o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Aguardemos, então, as conclusões do inquérito que está a ser feito pela Inspeção Geral das atividades em Saúde. É, além do mais, uma entidade que tem fama de ser isenta e rigorosa.

 

A NOVA ALIANÇA DEMOCRÁTICA

 

  1. PSD e CDS decidiram fazer uma nova Aliança Democrática, inspirada no modelo de Sá Carneiro, de 1979. É uma decisão natural. Os dois partidos já se coligaram várias vezes. E é uma decisão que tem vantagens para ambas as partes.
  • Tem vantagem para o CDS. O partido corria o risco de voltar a não eleger qualquer deputado. Com este acordo, regressa ao Parlamento. O acordo é o seguinte: o CDS terá dois deputados em zona segura de eleição (um na lista de Lisboa e outro na do Porto); e terá mais dois candidatos em zona cinzenta. Pode, pois, chegar aos quatro. Para a própria democracia é uma boa notícia. O CDS é um partido fundador da democracia.
  • Tem vantagem para o PSD. Garante na área do centro-direita uma maior concentração de votos. Ora, o nosso sistema eleitoral beneficia estratégias de concentração. Logo, o PSD pode eleger mais deputados do que se concorresse em separado.
  • Finalmente, pode ser uma decisão positiva para a democracia. Esta coligação, com a inclusão de vários independentes, dá um bom sinal para a sociedade: um sinal de abertura a novas caras, fora do aparelho partidário. Renovar e abrir é sempre bom.
  1. A grande questão agora é esta: quem é que vai preencher estes lugares? Convites feitos ainda não há. Mas já há alguns nomes selecionados:
  • Do lado dos independentes, há três figuras possíveis: Miguel Guimarães, ex-Bastonário da Ordem dos Médicos; Eduardo Oliveira e Sousa, ex-Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal; e Alexandre Homem Cristo, um especialista em educação.
  • Do lado do CDS: além de Nuno Melo, também poderão ser candidatos: Paulo Núncio, Nuno Magalhães, Isabel Galriça Neto e João Almeida. Mas não todos em lugares elegíveis.

 

BALANÇO DE 2023

 

  1. É muito difícil encontrar um ano como este: agitado, surpreendente e polémico. Dos mais agitados de sempre. Comecemos pelas polémicas. Destaco três:
  • Os casos e casinhos na TAP, que envolveram uma indemnização chocante, várias revelações e algumas demissões no Governo.
  • A degradação do SNS, com o caos nas urgências. Oito anos de Governo, três ministros e muitos milhões não reabilitaram o SNS.
  • O dinheiro escondido em S. Bento, no gabinete do Chefe de Gabinete do PM, cujos contornos essenciais ainda estão por explicar: de onde veio o dinheiro? Por que estava em S. Bento? Por que não foi declarado ao Fisco? O País continua a aguardar uma explicação.
  1. O grande acontecimento do ano é a crise política:
  • Tivemos uma demissão inédita de um PM com maioria absoluta;
  • Tivemos uma crise política inesperada, insólita e grave;
  • Estamos a caminho de eleições antecipadas que se tornaram inevitáveis, mas que podem abrir caminho a um ciclo de instabilidade. Não é impossível voltarmos a ter eleições legislativas em 2025.
  1. A figura nacional do ano é António Costa. Sobretudo por esta característica invulgar: em 2022, teve o mérito de alcançar uma maioria absoluta; em 2023, teve o demérito de a destruir. Com este agravamento: enquanto os portugueses se lembrarem do que foi este último período da governação, não voltarão a dar uma maioria absoluta a ninguém.
  1. A Igreja Católica foi a instituição do ano. Pela negativa e pela positiva:
  • Pela negativa, na questão dos abusos sexuais. Destapou-se uma realidade vergonhosa. Finalmente, começou a fazer-se justiça às vítimas de tamanhas indignidades.
  • Pela positiva, por causa da realização da JMJ: foi um grande momento popular, de esperança e prestígio para Portugal. O Papa voltou a surpreender pelo seu carisma e mensagem.
  1. Há dois acontecimentos internacionais do ano marcantes: primeiro, pela negativa, a Guerra no Médio Oriente. É tudo mau: o ataque terrorista; a vingança generalizada; a catástrofe humanitária; o risco de uma escalada; a impotência da ONU.Depois, pela positiva, a Inteligência Artificial, que ganhou grande força em 2023 e será a grande revolução do futuro.
  1. Finalmente, um ano em grandes números, avulsos, mas significativos:
  • A Índia ultrapassou a China em população (1,428 MM de pessoas). Uma grande surpresa.
  • A temperatura mais alta do ano ocorreu na Califórnia, EUA (53,9.º). Prova de que as alterações climáticas são uma questão real.
  • Portugal teve em agosto a maior concentração popular de sempre (1,5 milhões de pessoas na JMJ). É histórico.
  • Os nossos imigrantes já somam 660 mil e são vitais para a economia e para a segurança social. Não são um peso. São uma grande ajuda.
  • O pico da inflação em Portugal deu-se em janeiro (8,4%). Felizmente, já é passado.
  • O PRR já pagou 3,2MM€, mas a taxa de execução é baixa (14%). Importa fazer mais e mais depressa.
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