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20 de Novembro de 2022 às 21:44

Marques Mendes: "Gostava que PR, PAR e PM não fossem ao Qatar"

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a polémica Costa contra Costa, a Operação Teia e a entrevista de Cristiano Ronaldo, entre outros temas.

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A POLÉMICA COSTA CONTRA COSTA

 

  1. Antes da polémica, o livro. Este livro, da autoria de Luís Rosa, é um grande sucesso. Primeiro, pelo vendaval político que gerou. Depois, porque é um trabalho sério e profissional. Finalmente, porque não deixa ninguém indiferente. Pode-se concordar ou discordar, mas ninguém passa ao lado do livro.

Alguns dizem que é apenas uma visão da história. Que não é uma verdade absoluta. Claro que não. Mas quem discorda e tem factos distintos, deve apresentá-los. Esta é a riqueza da democracia.

 

  1. A polémica em torno deste livro mostra que a vida política nacional está muito acelerada. Há muita gente nervosa. Com os nervos à flor da pele. Impõe-se um pouco de serenidade. Não vai haver eleições tão cedo. Nada disto é um drama ou um cerco. É só debate e escrutínio. Vejamos:
  2. O processo que o PM anunciou contra o ex-Governador. Muita gente achou um exagero e intimidação. Mas o PM tem direito a fazê-lo. É legítimo.
  3. Os pedidos ao PM para que explique por que é que achava inoportuna a saída de Isabel dos Santos do BIC. São pedidos igualmente legítimos. O PM devia responder. É um dever.
  4. O BANIF. Em 2015 critiquei o Governo PSD/CDS por ter adiado para depois das eleições a venda do BANIF. Mantenho o que disse. Só que agora há documentos novos sobre a forma como "se vendeu" o Banco, já depois das eleições. Assim, é legitimo perguntar:
  • Por que é que a meio do processo de venda, com propostas já apresentadas, se mudaram as regras? Por que é que depois o processo de venda foi mesmo cancelado? Terceiro, por que é que a seguir o comprador do Banif foi decidido sem concurso? E no centro de tudo: Por que é que o comprador do Banif foi "cozinhado" entre Bruxelas e Lisboa? Se nada disto for explicado, tudo se torna muito suspeito.
  • Esta não é uma questão de direita ou de esquerda. É uma questão de transparência ou de falta dela. Perguntar e responder é essencial.

 

A OPERAÇÃO TEIA

 

  1. A chamada "Operação Teia" já fez uma baixa política – Miguel Alves que saiu do Governo. E esta semana – ainda que em assunto distinto, a CM de Caminha anulou o negócio que Miguel Alves tanto defendeu.

Afinal era tudo tão claro, tão transparente, tão estratégico, tão importante e agora anula-se tudo? E, aqui chegados, a última pergunta: o negócio foi anulado. Muito bem. E os 300 mil euros adiantados ao empresário? Como é que o Município os vais reaver? Convinha explicar. Afinal, o que se dizia é que o negócio era seguro para o Município.

 

  1. Ainda na Operação Teia, Luísa Salgueiro, a Presidente socialista da CM de Matosinhos e Presidente da ANMP, foi constituída arguida, alegadamente por ter nomeado sem concurso a sua Chefe de Gabinete, e alguém do PSD local pediu que ela deixasse a Presidência da ANMP.
  • Na política tem que haver regras e limites. Na política, não vale tudo. Esta "exigência" do PSD de Matosinhos não faz qualquer sentido. Aqui, o PSD não tem qualquer razão.
  • Luísa Salgueiro nomeou a sua Chefe de Gabinete sem concurso. Como fizeram dezenas de autarcas do PSD pelo país fora. E todos fizeram bem. Por lei, os Presidentes de Câmara têm direito à livre nomeação dos seus Chefes de Gabinete. Tal como os Ministros. São pessoas da sua confiança pessoal e política.
  • O que deve exigir, neste caso, não é a saída de Luísa Salgueiro: é que o MP corrija o erro "grosseiro" que cometeu.

 

JUROS DOS DEPÓSITOS E PENSÔES

 

  1. Muita gente legitimamente pergunta: quando as taxas de juro internacionais baixaram, as taxas de juro dos depósitos também baixaram. Agora, as taxas de juro definidas pelo BCE sobem. Por que é que os juros de depósitos não sobem também?

 

  1. Mário Centeno, o Governador do BP, já fez um apelo aos Bancos. Disse ele esta semana: "A subida dos juros deve refletir-se nos depósitos". Tem toda a razão. Apesar disso, ainda não há sinais nesse sentido da parte dos Bancos. Apesar dos bons lucros que todos estão a apresentar.

 

  1. A situação é mais séria se compararmos a situação de Portugal com os 19 países da Zona Euro. Vejamos os últimos dados oficiais do BCE:
  • A média na Zona Euro da taxa de juro dos depósitos até 1 ano está nos 0,56%. Em Portugal, está nos 0,05%. A média na Zona Euro é 11 vezes mais alta que em Portugal.
  • Nos 19 países da Zona Euro, os Países Baixos lideram com uma taxa de juro nos depósitos até 1 ano de 1,84%. Portugal está no último lugar.
  • Aqui chegados, é tempo de pedir uma explicação aos Bancos. Quando nos vamos aproximar da tendência europeia?

 

  1. Boas notícias em matéria de atribuição de pensões. Até há pouco tempo, o processo de atribuição de pensões de velhice era um pesadelo. Demorava uma eternidade. Segundo o Ministério da Solidariedade, a situação está a mudar.
  • Em 2021 arrancou o novo regime "Pensão na hora" (pedido feito online e decidido automaticamente).
  • Em 2022, 50% das pensões de velhice já foram atribuídos por este regime.
  • E globalmente – requerimentos online e em papel – o tempo de espera, que era de 110 dias em 2020, reduziu-se para 30 dias este ano.

 

A ENTREVISTA DE CRISTIANO RONALDO

 

  1. É uma entrevista absolutamente surpreendente.
  2. Surpreendente porque é uma grande operação de marketing de Cristiano Ronaldo. Neste Mundial as atenções iam estar focadas em Mbappé, Neymar e Messi. Ronaldo estaria "fora" das atenções. Agora tudo mudou. Os holofotes passaram a estar também centrados em Ronaldo.
  3. Surpreendente pelo risco desta entrevista: se o Mundial lhe correr bem, a entrevista passa como tendo sido um grande golpe de asa de Cristiano Ronaldo; se o Mundial lhe correr mal, Ronaldo vai ser muito criticado. Até vai ser acusado de com esta entrevista ter desestabilizado a Seleção.
  4. Surpreendente, finalmente, porque Ronaldo com esta entrevista despede-se do Manchester United. Nunca mais tem condições para lá voltar. Mas não é uma forma bonita e elegante de se despedir. Este não é o Ronaldo a que estávamos habituados.

 

  1. Cristiano Ronaldo está a viver o drama do fim da carreira. Sair é sempre difícil. Mais difícil ainda para estes "craques". Mas alguém, amigo de Ronaldo, devia explicar-lhe: saber sair é uma arte. E ele, por tudo quanto fez, merece sair pela porta grande. Para isso, deve sair antes que seja tarde de mais.

 

  1. Vai começar o Mundial mais polémico de sempre. Primeiro, a polémica que lhe deu origem, a da corrupção; depois, a polémica em torno de um país que não respeita os direitos humanos. Por tudo isto, gostava que PR, PAR e PM não fossem ao Qatar. Para dar um sinal claro de condenação da situação. E não me digam que ir é necessário por causa do apoio á Seleção. Há milhões de Portugueses que não vão ao Qatar e estarão á mesma a torcer pela Seleção.

 

OS "CRIMES" NA PSP E GNR

 

  1. As reportagens emitidas sobre a PSP e a GNR revelam factos absolutamente inaceitáveis. Estas atitudes não são próprias de servidores do Estado. São actos próprios de verdadeiros energúmenos. Quem serve as Forças de Segurança não pode ter este tipo de comportamentos.
  • O discurso do ódio, do racismo e da violência é crime. Quem tem por dever combater o crime não pode estar a estimulá-lo.
  • Punir estes actos não é limitar o direito à liberdade de expressão. É defender os valores da Constituição.
  • Não servem de justificação as condições dos agentes da PSP e GNR, designadamente os baixos salários. O que aqui está em causa não é a falta de condições. É a falta de idoneidade para servir na PSP e GNR.

 

  1. Perante tudo isto, há três questões relevantes:
  2. Primeira: a intervenção do MAI. O Ministro José Luís Carneiro esteve muito bem. Em três planos: primeiro, a determinar um inquérito independente; segundo, a pedir para não se generalizar: não se pode tomar a parte pelo todo; terceiro, a garantir que não se pode deixar partidarizar a PSP e a GNR.
  3. Segunda questão: a atitude do Chega é intolerável. Primeiro, pela contradição. André Ventura é sempre o primeiro a pedir investigações. Aqui, em vez de esclarecer, quer silenciar. Depois, pela atitude. Esta associação entre o Chega e os agentes de segurança é um desastre para a democracia. Partidariza duas instituições que devem estar acima de toda a suspeita.
  4. Finalmente: o que vai suceder ao Director Nacional da PSP e ao Comandante Geral da GNR? Estes dois responsáveis já deviam ter colocado os seus lugares à disposição. No mínimo. Eu não sei se eles têm culpa. Se conheciam as situações. Se fizeram algo para as resolver. Mas têm uma responsabilidade objectiva. É que sob a sua alçada passam-se acções criminosas. Estão minados na sua autoridade. Recordo que num caso diferente, mas de gravidade semelhante – Tancos – houve responsáveis imediatamente suspensos.

 

A UCRÂNIA E O EGIPTO

 

  1. Primeiro apontamento: esta semana quase se anunciou uma III Guerra Mundial. No final, constatou-se que, afinal, o míssil que caiu na Polónia não era um míssil russo, mas um míssil de defesa ucraniano disparado contra mísseis de cruzeiro russos.

No plano comunicacional há uma conclusão a tirar: é preciso mais cuidado nas notícias sobre a guerra. As audiências e o sensacionalismo não podem valer tudo. A Rússia é a grande criminosa desta guerra, mas isso não nos dá o direito de lhe assacarmos instantaneamente todas as responsabilidades.

 

  1. Segundo apontamento: deste acontecimento retira-se outra conclusão – esta de natureza político-militar. Confirmam-se claramente os sinais de que a Rússia e a NATO estão a fazer tudo para não escalar o conflito. Para que a guerra não tenha dimensão maior. No meio de tanta tragédia, este cuidado é importante. Mostra algum bom senso.

 

  1. Terceiro apontamento: a Cimeira do Clima, no Egipto. Acabou com um acordo minimalista: um fundo destinado a apoiar Países vulneráveis mais afetados pelas alterações climáticas. Muito pouco. Nada, por exemplo, em matéria de redução de emissões, a questão nuclear. UE e ONU estão desiludidas. E o Mundo também. Em matéria de clima a agenda mundial continua a ser a de adiar e não resolver.
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