Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
20 de Fevereiro de 2022 às 21:41

Marques Mendes aponta Fernando Medina como próximo ministro das Finanças

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a passagem da pandemia a endemia, o impacto do votos dos emigrantes e a mudança na pasta das Finanças.

  • 7
  • ...

A PANDEMIA EM PORTUGAL

 

  1. Praticamente acabaram todas as restrições que ainda existiam. Resta a máscara e o isolamento para doentes, que terminarão em breve. A pandemia está a passar a endemia. Na cabeça das pessoas já passou. Para a generalidade dos portugueses, a Covid é uma nova doença com a qual tem de se viver e conviver. 
  1. É tempo de fazer um balanço de quase dois anos de pandemia. Do pior ao melhor, tivemos de tudo:
  • Cinco vagas pandémicas, sendo que a primeira, no início de Março, foi um susto; a terceira, no início de 2021, foi um pesadelo com o risco de ruptura do SNS; a quinta, da Ómicron, foi mais impressiva que perigosa.
  • As datas mais marcantes: em Março, o primeiro caso, o primeiro óbito, o primeiro confinamento, o primeiro fecho de escolas e o primeiro estado de emergência; em Maio, a obrigatoriedade de usar máscara (o grande símbolo desta pandemia).
  • Os piores momentos: o dia com maior número de mortes (Janeiro de 2021); o dia com maior número de internados (Fevereiro de 2021); o dia com mais casos (Janeiro de 2022).
  • Os melhores momentos: o consenso político e institucional em torno desta pandemia (Marcelo, Costa e Rio em sintonia); a primeira vacina, em Dezembro de 2020 (um grande sinal de esperança); a confirmação de Portugal como líder mundial da vacinação, em Setembro de 2021 (o sentimento de orgulho nacional).
  • As figuras marcantes: Marta Temido, que até se tornou a Ministra mais popular do Governo; Graça Freitas, um exemplo de resiliência, apesar dos erros; Gouveia e Melo, a "estrela" da vacinação, por mérito próprio; Os peritos do Infarmed, que nos foram dando uma luz ao fundo do túnel; Os profissionais da saúde, os grandes heróis no combate á pandemia.
  1. O SNS merecia uma condecoração por parte do PR. Não é uma condecoração individual, a esta ou àquela pessoa em concreto. É uma condecoração colectiva ao SNS. Enquanto instituição e comunidade de saúde. É uma homenagem a todos os profissionais de saúde. Eles não se limitaram a cumprir as suas obrigações. Foram muito mais longe. Foram um exemplo notável: de dedicação, esforço, sacrifício, de tempo que não tiveram para a família e para o descanso para salvar vidas. O SNS e os seus profissionais merecem esta homenagem.

 

VOTO DOS EMIGRANTES

 

  1. Depois de tudo o que sucedeu, qualquer que fosse a decisão do TC nunca seria uma boa solução. Avalizar os resultados era mau. Seria fechar os olhos a uma ilegalidade. Repetir as eleições era igualmente mau. Não vai servir para nada.
    • Primeiro: poucos emigrantes vão votar. Uns porque estão indignados. Outros porque estão desmotivados. O seu voto não conta para nada.
    • Segundo: por causa de tudo isto, só vamos ter governo em Abril e OE lá para Julho. O governo fica a "apodrecer" e o país a viver em duodécimos.
    • Terceiro: mais de 2 milhões de pensionistas só lá para Agosto vão ter o aumento extraordinário de 10€ nas suas pensões. Para pessoas idosas, pobres, vulneráveis, este atraso conta e é um problema. Mesmo que depois tenham retroactivos.
  1. O PM pediu desculpa aos emigrantes por causa desta vergonha nacional. Fez bem. Perante o que sucedeu, este gesto de humildade e respeito faz todo o sentido. O que também faz todo o sentido é recordar que o maior responsável por este desastre é Eduardo Cabrita. Não é o único. Mas é o maior responsável. Era ele, como MAI, que tinha a responsabilidade de supervisionar o processo eleitoral. Era ele, enquanto MAI, que devia ter proposto à AR a mudança da lei eleitoral. Era ele, que devia ter feito a correcção da lei face aos graves erros que já tinham sucedido em 2019.

Esperemos que o próximo MAI, seja José Luís Carneiro seja qualquer outro, tenha mais capacidade e competência que Cabrita para o exercício da função.

 

PARLAMENTO E GOVERNO: POSSE ADIADA

 

  1. Tudo está adiado. Na AR e no Governo. Mas, no que ao Parlamento diz respeito, há uma novidade já oficiosamente conhecida: Santos Silva será o sucessor de Ferro Rodrigues.
    • É uma boa escolha. Tem um excelente curriculum. Goza de enorme experiência parlamentar. Foi um bom Ministro dos Negócios Estrangeiros. E bem pode vir a ser um futuro candidato presidencial apoiado pelo PS.
  1. Já quanto ao futuro Governo, a maior novidade pode ser o novo Ministro das Finanças. Pela minha previsão, sai João Leão e entra Fernando Medina. É uma decisão que tem muito que se lhe diga. Politicamente é muito curiosa.
    • Primeiro: por que sai João Leão? Não se afirmou no lugar. Apesar de ter bons resultados orçamentais, criou conflitos com muitos Ministros.
    • Segundo: porquê Fernando Medina? Por uma razão pessoal: é íntimo do PM; e por uma razão política: António Costa quer um MF mais político e menos técnico, um perfil radicalmente diferente de João Leão.
    • Terceiro: faz sentido esta escolha de que já há muito tempo se falava? Se Medina tivesse entrado para o Governo numa eventual remodelação pós-autárquicas, isso seria um erro. "Cheirava" a emprego arranjado depois de ter perdido a Câmara. Agora, é diferente: é um ciclo novo, um governo novo, circunstâncias novas.
    • Finalmente: esta escolha pode vir a ter uma influência grande na sucessão futura de António Costa à frente do PS. Medina vai ganhar palco, estatuto, influência e provavelmente popularidade. Hoje, não é um candidato à liderança do PS. Mas bem pode vir a ser no futuro, com outra força e capacidade. Manifestamente, o PM não quer deixar Pedro Nuno Santos à solta. E não dá ponto sem nó. Ao fazer o novo governo pensa no país; mas também não esquece a liderança do PS.

ELEIÇÕES NO PSD E CDS

 

  1. O PSD deverá ter novo líder apenas em Junho ou Julho. Tudo isto é legítimo. Mas é tudo muito surreal. Surreal porque tem consequências políticas que não são benéficas para ninguém.
  • Primeiro: com novo líder só em Junho, significa que o debate do próximo OE ainda será feito com o líder que está de saída. Faz algum sentido que o primeiro grande confronto entre Governo e oposição seja com o líder cessante quando podia ser feito com o novo líder?
  • Segundo: com novo líder só em Junho, vai ter que ser eleita, entretanto, a liderança parlamentar. Mas é natural que o líder que vier a ser eleito queira escolher o seu próprio líder parlamentar. Faz algum sentido eleger hoje um líder, destituí-lo a seguir, para logo depois escolher outro?
  • Terceiro: com novo líder só em Junho, isto significa que, quem quer que ele seja, não vai provavelmente representar o PSD no Conselho de Estado. Porque as eleições dos representantes da AR para o Conselho de Estado são realizadas antes de o líder do PSD ser eleito. Faz sentido que o líder do partido fique de fora do CE durante quatro anos?

 

  1. Entretanto, no CDS Nuno Melo anunciou a sua candidatura à liderança do Partido. Esta candidatura é um acto de coragem. Liderar um partido que não tem representação parlamentar; que vai perder visibilidade e protagonismo; que viu diminuído o seu espaço político; que tem menos recursos financeiros, é manifestamente um gesto corajoso. E um gesto de coragem merece ser enaltecido.

 

  1. A direita em Portugal não está bem. Nada que se pareça, apesar de tudo, com o suicídio que está a suceder com a direita Espanhola. Os factos parecem de novela mexicana: Pablo Casado, o líder do PP, contratou um detective privado para investigar o irmão da líder da Comunidade de Madrid, Isabel Ayuso; descobriu-se que o irmão desta recebeu uma comissão num negócio de compra de máscaras da Comunidade Madrilena; a partir daí, as acusações e contra-acusações subiram de tom; tudo porque entre os dois, Casado e Ayuso, há uma guerra de poder dentro do partido; no entretanto, o PSOE, no poder, e o Vox, na oposição, esfregam as mãos de contentese agradecem!

 

A CRISE DA UCRÂNIA

 

  1. Cada vez é maior o clima de tensão em torno da Ucrânia. A Rússia diz que começou a retirar tropas. A NATO nega e continua a acusar o regime russo. Os EUA anunciam datas para a invasão como forma de dissuadir a Rússia. A Rússia procura um pretexto para dizer que intervém em legitima defesa. Parece que estamos a viver um clima de Guerra Fria. Uma guerra de informação, antes de termos, eventualmente, um conflito bélico e uma guerra económica. Chegados a este ponto de tensão, basta um rastilho, uma provocação, um acto violento, voluntário ou involuntário, para desencadear um conflito armado.

 

  1. Posto isto, há que clarificar que, em toda esta questão, há da parte da Rússia um pretexto claro e duas preocupações escondidas:
  2. O pretexto é a eventual entrada da Ucrânia na NATO. Esta questão é um pretexto. Claro que Ucrânia tem na sua agenda o desejo de entrar na NATO. Mas a NATO não tem na sua agenda a intenção de acolher a Ucrânia. Isso não é possível nos próximos anos. O próprio Chanceler alemão o reconheceu publicamente há dias.
  3. O que incomoda verdadeiramente a Rússia são duas outras preocupações escondidas: a independência da Ucrânia; e a sua eventual adesão à UE.
  • Primeiro: o que incomoda realmente Putin é que a Ucrânia seja um país independente. Que a Ucrânia não seja uma Região da Rússia. O que Putin verdadeiramente deseja é a criação de uma Rússia imperial. Uma Rússia que manda no seu país e nos países vizinhos. Uma espécie de União Soviética da era moderna.
  • Segundo: o que realmente incomoda Putin é que a Ucrânia possa entrar para a UE ou fazer um acordo de associação com a UE. Uma Ucrânia na UE ou com acordo de associação com a UE pode ser uma Ucrânia próspera e desenvolvida. E uma Ucrânia próspera e desenvolvida, mesmo ao lado da Rússia, é uma ameaça para uma Rússia com uma economia decadente e um regime autoritário.
Ver comentários
Saber mais opinião
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio