Opinião
Marques Mendes aponta Fernando Medina como próximo ministro das Finanças
No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a passagem da pandemia a endemia, o impacto do votos dos emigrantes e a mudança na pasta das Finanças.
A PANDEMIA EM PORTUGAL
- Praticamente acabaram todas as restrições que ainda existiam. Resta a máscara e o isolamento para doentes, que terminarão em breve. A pandemia está a passar a endemia. Na cabeça das pessoas já passou. Para a generalidade dos portugueses, a Covid é uma nova doença com a qual tem de se viver e conviver.
- É tempo de fazer um balanço de quase dois anos de pandemia. Do pior ao melhor, tivemos de tudo:
- Cinco vagas pandémicas, sendo que a primeira, no início de Março, foi um susto; a terceira, no início de 2021, foi um pesadelo com o risco de ruptura do SNS; a quinta, da Ómicron, foi mais impressiva que perigosa.
- As datas mais marcantes: em Março, o primeiro caso, o primeiro óbito, o primeiro confinamento, o primeiro fecho de escolas e o primeiro estado de emergência; em Maio, a obrigatoriedade de usar máscara (o grande símbolo desta pandemia).
- Os piores momentos: o dia com maior número de mortes (Janeiro de 2021); o dia com maior número de internados (Fevereiro de 2021); o dia com mais casos (Janeiro de 2022).
- Os melhores momentos: o consenso político e institucional em torno desta pandemia (Marcelo, Costa e Rio em sintonia); a primeira vacina, em Dezembro de 2020 (um grande sinal de esperança); a confirmação de Portugal como líder mundial da vacinação, em Setembro de 2021 (o sentimento de orgulho nacional).
- As figuras marcantes: Marta Temido, que até se tornou a Ministra mais popular do Governo; Graça Freitas, um exemplo de resiliência, apesar dos erros; Gouveia e Melo, a "estrela" da vacinação, por mérito próprio; Os peritos do Infarmed, que nos foram dando uma luz ao fundo do túnel; Os profissionais da saúde, os grandes heróis no combate á pandemia.
- O SNS merecia uma condecoração por parte do PR. Não é uma condecoração individual, a esta ou àquela pessoa em concreto. É uma condecoração colectiva ao SNS. Enquanto instituição e comunidade de saúde. É uma homenagem a todos os profissionais de saúde. Eles não se limitaram a cumprir as suas obrigações. Foram muito mais longe. Foram um exemplo notável: de dedicação, esforço, sacrifício, de tempo que não tiveram para a família e para o descanso para salvar vidas. O SNS e os seus profissionais merecem esta homenagem.
VOTO DOS EMIGRANTES
- Depois de tudo o que sucedeu, qualquer que fosse a decisão do TC nunca seria uma boa solução. Avalizar os resultados era mau. Seria fechar os olhos a uma ilegalidade. Repetir as eleições era igualmente mau. Não vai servir para nada.
- Primeiro: poucos emigrantes vão votar. Uns porque estão indignados. Outros porque estão desmotivados. O seu voto não conta para nada.
- Segundo: por causa de tudo isto, só vamos ter governo em Abril e OE lá para Julho. O governo fica a "apodrecer" e o país a viver em duodécimos.
- Terceiro: mais de 2 milhões de pensionistas só lá para Agosto vão ter o aumento extraordinário de 10€ nas suas pensões. Para pessoas idosas, pobres, vulneráveis, este atraso conta e é um problema. Mesmo que depois tenham retroactivos.
- O PM pediu desculpa aos emigrantes por causa desta vergonha nacional. Fez bem. Perante o que sucedeu, este gesto de humildade e respeito faz todo o sentido. O que também faz todo o sentido é recordar que o maior responsável por este desastre é Eduardo Cabrita. Não é o único. Mas é o maior responsável. Era ele, como MAI, que tinha a responsabilidade de supervisionar o processo eleitoral. Era ele, enquanto MAI, que devia ter proposto à AR a mudança da lei eleitoral. Era ele, que devia ter feito a correcção da lei face aos graves erros que já tinham sucedido em 2019.
Esperemos que o próximo MAI, seja José Luís Carneiro seja qualquer outro, tenha mais capacidade e competência que Cabrita para o exercício da função.
PARLAMENTO E GOVERNO: POSSE ADIADA
- Tudo está adiado. Na AR e no Governo. Mas, no que ao Parlamento diz respeito, há uma novidade já oficiosamente conhecida: Santos Silva será o sucessor de Ferro Rodrigues.
- É uma boa escolha. Tem um excelente curriculum. Goza de enorme experiência parlamentar. Foi um bom Ministro dos Negócios Estrangeiros. E bem pode vir a ser um futuro candidato presidencial apoiado pelo PS.
- Já quanto ao futuro Governo, a maior novidade pode ser o novo Ministro das Finanças. Pela minha previsão, sai João Leão e entra Fernando Medina. É uma decisão que tem muito que se lhe diga. Politicamente é muito curiosa.
- Primeiro: por que sai João Leão? Não se afirmou no lugar. Apesar de ter bons resultados orçamentais, criou conflitos com muitos Ministros.
- Segundo: porquê Fernando Medina? Por uma razão pessoal: é íntimo do PM; e por uma razão política: António Costa quer um MF mais político e menos técnico, um perfil radicalmente diferente de João Leão.
- Terceiro: faz sentido esta escolha de que já há muito tempo se falava? Se Medina tivesse entrado para o Governo numa eventual remodelação pós-autárquicas, isso seria um erro. "Cheirava" a emprego arranjado depois de ter perdido a Câmara. Agora, é diferente: é um ciclo novo, um governo novo, circunstâncias novas.
- Finalmente: esta escolha pode vir a ter uma influência grande na sucessão futura de António Costa à frente do PS. Medina vai ganhar palco, estatuto, influência e provavelmente popularidade. Hoje, não é um candidato à liderança do PS. Mas bem pode vir a ser no futuro, com outra força e capacidade. Manifestamente, o PM não quer deixar Pedro Nuno Santos à solta. E não dá ponto sem nó. Ao fazer o novo governo pensa no país; mas também não esquece a liderança do PS.
ELEIÇÕES NO PSD E CDS
- O PSD deverá ter novo líder apenas em Junho ou Julho. Tudo isto é legítimo. Mas é tudo muito surreal. Surreal porque tem consequências políticas que não são benéficas para ninguém.
- Primeiro: com novo líder só em Junho, significa que o debate do próximo OE ainda será feito com o líder que está de saída. Faz algum sentido que o primeiro grande confronto entre Governo e oposição seja com o líder cessante quando podia ser feito com o novo líder?
- Segundo: com novo líder só em Junho, vai ter que ser eleita, entretanto, a liderança parlamentar. Mas é natural que o líder que vier a ser eleito queira escolher o seu próprio líder parlamentar. Faz algum sentido eleger hoje um líder, destituí-lo a seguir, para logo depois escolher outro?
- Terceiro: com novo líder só em Junho, isto significa que, quem quer que ele seja, não vai provavelmente representar o PSD no Conselho de Estado. Porque as eleições dos representantes da AR para o Conselho de Estado são realizadas antes de o líder do PSD ser eleito. Faz sentido que o líder do partido fique de fora do CE durante quatro anos?
- Entretanto, no CDS Nuno Melo anunciou a sua candidatura à liderança do Partido. Esta candidatura é um acto de coragem. Liderar um partido que não tem representação parlamentar; que vai perder visibilidade e protagonismo; que viu diminuído o seu espaço político; que tem menos recursos financeiros, é manifestamente um gesto corajoso. E um gesto de coragem merece ser enaltecido.
- A direita em Portugal não está bem. Nada que se pareça, apesar de tudo, com o suicídio que está a suceder com a direita Espanhola. Os factos parecem de novela mexicana: Pablo Casado, o líder do PP, contratou um detective privado para investigar o irmão da líder da Comunidade de Madrid, Isabel Ayuso; descobriu-se que o irmão desta recebeu uma comissão num negócio de compra de máscaras da Comunidade Madrilena; a partir daí, as acusações e contra-acusações subiram de tom; tudo porque entre os dois, Casado e Ayuso, há uma guerra de poder dentro do partido; no entretanto, o PSOE, no poder, e o Vox, na oposição, esfregam as mãos de contentese agradecem!
A CRISE DA UCRÂNIA
- Cada vez é maior o clima de tensão em torno da Ucrânia. A Rússia diz que começou a retirar tropas. A NATO nega e continua a acusar o regime russo. Os EUA anunciam datas para a invasão como forma de dissuadir a Rússia. A Rússia procura um pretexto para dizer que intervém em legitima defesa. Parece que estamos a viver um clima de Guerra Fria. Uma guerra de informação, antes de termos, eventualmente, um conflito bélico e uma guerra económica. Chegados a este ponto de tensão, basta um rastilho, uma provocação, um acto violento, voluntário ou involuntário, para desencadear um conflito armado.
- Posto isto, há que clarificar que, em toda esta questão, há da parte da Rússia um pretexto claro e duas preocupações escondidas:
- O pretexto é a eventual entrada da Ucrânia na NATO. Esta questão é um pretexto. Claro que Ucrânia tem na sua agenda o desejo de entrar na NATO. Mas a NATO não tem na sua agenda a intenção de acolher a Ucrânia. Isso não é possível nos próximos anos. O próprio Chanceler alemão o reconheceu publicamente há dias.
- O que incomoda verdadeiramente a Rússia são duas outras preocupações escondidas: a independência da Ucrânia; e a sua eventual adesão à UE.
- Primeiro: o que incomoda realmente Putin é que a Ucrânia seja um país independente. Que a Ucrânia não seja uma Região da Rússia. O que Putin verdadeiramente deseja é a criação de uma Rússia imperial. Uma Rússia que manda no seu país e nos países vizinhos. Uma espécie de União Soviética da era moderna.
- Segundo: o que realmente incomoda Putin é que a Ucrânia possa entrar para a UE ou fazer um acordo de associação com a UE. Uma Ucrânia na UE ou com acordo de associação com a UE pode ser uma Ucrânia próspera e desenvolvida. E uma Ucrânia próspera e desenvolvida, mesmo ao lado da Rússia, é uma ameaça para uma Rússia com uma economia decadente e um regime autoritário.