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07 de Novembro de 2021 às 21:14

Marques Mendes antecipa "forte bipolarização ao centro entre PS e PSD"

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre a vacinação, as legislativas marcadas para janeiro, as eleições no PSD e a cimeira do clima.

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A PANDEMIA E A VACINAÇÃO

  1. As coisas não vão bem: a pandemia na UE está a agravar-se; a vacinação no mundo é insuficiente; a terceira dose da vacina está atrasada.
  2. Pandemia na EuropaEstá a agravar-se a um ritmo significativo. E, com o Inverno, ainda se vai agravar mais. O que suscita o problema do surgimento de novas variantes – ou mutações das variantes actuais – que podem desafiar a segurança das vacinas que temos.
  3. Vacina no mundoEstá em níveis muito insuficientes para podermos acabar com a pandemia. Portugal é praticamente o único país com vacinação acima dos 80% (exactamente 87% da população). A esmagadora dos países e continentes está nos 50%, 60%. E não é fácil mudar. Os cidadãos desses países e continentes recusam as vacinas.
  4. Em Portugal, as coisas também não estão a correr bem com a terceira dose da vacina, para pessoas acima dos 65 anos: num universo potencial de 2,3 milhões de pessoas só 340 mil (cerca de 14%) estão vacinadas. A vacinação é baixa e a adesão insuficiente. Há aqui três problemas sérios:
    • Um problema de liderança e comunicação: com a saída do Almirante Gouveia e Melo, a liderança e a comunicação na vacinação perderam força. Em particular, falta comunicação eficaz. E, sem comunicação eficaz, as pessoas desvalorizam a vacina. Acham que não é necessária. Não se vacinam.
    • Um problema de saúde pública: com o agravamento da pandemia e a diminuição de anticorpos, sobretudo nos mais velhos, há um risco de agravamento da situação. O que pode traduzir-se em mais doença grave e em mais óbitos.
    • Um problema político: ou o Governo muda a liderança e o processo de comunicação nesta fase da vacinação ou vai ter um problema sério em vésperas de eleições. Os problemas vão agravar-se e a contestação vai começar. É uma questão de tempo.

 

ELEIÇÕES EM JANEIRO

  1. Depois da tempestade a bonança. Durante uma semana, tivemos uma tempestade num copo de água sobre a data das eleições. No momento em que o PR anunciou a data veio a bonança. A data de 30 de Janeiro – que eu próprio e outros tínhamos sugerido – é uma data equilibrada e imparcial:
  2. Evita que os debates televisivos sejam feitos no Natal e Ano Novo, o que seria um disparate e um convite à abstenção.
  3. Permite que o PSD faça as suas eleições internas, tal como Jorge Sampaio há 20 anos permitiu ao PS, mas sem favorecimentos.
  4. Agradou a quase todos os partidos. Pediram 16 de Janeiro, mas recuaram e concordaram com o Presidente.
  5. O PR fez um bom discurso ao país, explicou bem as razões da dissolução e as sondagens dão-lhe razão. Esteve à altura dos acontecimentos. Com excepção da audiência a Paulo Rangel, que bem podia ter ocorrido noutra ocasião para não gerar polémica, fora isso o PR esteve bem em todo este processo:
  6. Fez o que qualquer outro Presidente no lugar dele, à direita e à esquerda, tinha que fazer: dissolver a AR, porque não havia alternativa. O Governo não apresentava um 2º Orçamento e achava inviável governar dois anos em duodécimos.
  7. Avisou previamente para as consequências do chumbo deste OE. Se não tivesse tido essa clareza e transparência, estaria agora a ser acusado de que não avisou, não informou, não definiu previamente as regras do jogo.
  8. Decidiu com independência e autoridade. Não fez a vontade aos partidos – que queriam 16 de Janeiro – nem se deixou condicionar. E foi consensual.

PRIMEIRAS SONDAGENS

  1. Acho que é muito cedo para ter sondagens condizentes com o que pode suceder em 30 de Janeiro. Primeiro, o PSD ainda não decidiu a sua liderança; segundo, uma parte dos eleitores só vai decidir o seu voto lá para meados de Janeiro, depois dos debates.
  2. Há, porém, alguns dados curiosos nestas sondagens (CESOP e Aximage):
    • Primeiro: os portugueses valorizam muito a ideia de estabilidade. Por isso, não gostaram do chumbo do OE e da abertura da crise política.
    • Segundo: responsabilizam por igual os três partidos da geringonça e o PM chega mesmo, pela primeira vez, a ter mais opiniões negativas que positivas.
    • Terceiro: vai haver uma forte bipolarização ao centro, entre PS e PSD.
  1. A sondagem da Universidade Católica (para o Público, RTP e Antena 1) tem um dado ainda mais curioso: a maioria dos portugueses gostaria de ter um governo de maioria absoluta de um só partido, o PS ou o PSD.

É um objectivo quase impossível de alcançar à esquerda e muito difícil à direita. Mas compreende-se a intenção: os portugueses querem estabilidade.

  • Um governo maioritário de coligação é difícil. Logo, não há estabilidade. À esquerda porque a geringonça faliu. À direita porque o Chega é um obstáculo.
  • Um governo minoritário é sempre uma solução instável. Até pode aguentar-se dois anos; até pode ter um ou dois OE aprovados. Mas não governa nem reforma. Limita-se a fazer combate político. E ter eleições de dois em dois anos é uma calamidade para Portugal.
  • Ao contrário, uma maioria absoluta garante estabilidade; um governo de maioria não tem desculpas para não governar nem alibis para não reformar. É a solução "maldita" para os extremos e para a "bolha" política. Mas para os portugueses tem grandes virtualidades.

 

ELEIÇÕES NO PSD

  1. Primeiro apontamento: não é brilhante, numa altura destas, um partido passar um dia inteiro a discutir questões internas. Apesar disso, o Conselho Nacional do PSD não foi o espectáculo deprimente que foi o Conselho Nacional do CDS de há uma semana. Agora houve urbanidade, houve elevação, não houve insultos e não houve golpadas. Nesse plano, foi um bom exemplo de democracia interna.
  2. Segundo apontamento: mais uma pesada derrota para Rui Rio. Mais uma vitória clara para Paulo Rangel. É a segunda vez que sucede em poucas semanas. Nada disto significa que seja este o resultado das directas. Pode ser ou não ser. Mas é um mau sinal para Rui Rio e é um incentivo forte para Paulo Rangel.
  3. Terceiro apontamento: Rui Rio e Paulo Rangel têm agora que se virar para fora. Falar do país e para o país. Têm que apresentar propostas aos portugueses. Têm que fazer destas eleições internas umas primárias das legislativas.
E, ao contrário do que alguns pensam, estas eleições internas do PSD podem suscitar muito mais interesse e atenção no país do que a pré-campanha eleitoral socialista.

 

O CASO JOÃO RENDEIRO

  1. A justiça está agora muito frenética no caso João Rendeiro, depois da fuga deste para o estrangeiro. É a aplicação do célebre ditado popular "Casa roubada, trancas à porta".
  2. Agora é o caso das obras de arte que tinham sido arrestadas pelo Tribunal e de que a mulher de Rendeiro era a fiel depositária. Algumas foram ilegalmente vendidas. À margem dos Tribunais. Tudo igual ao que sucedeu antes: inqualificável o comportamento da mulher de João Rendeiro; um desastre para a imagem da justiça.
  3. A mulher de Rendeiro era fiel depositária das obras de arte. Tinha de as proteger e não de as deixar vender. Não tem desculpa possível.
  4. A justiça fez o que é habitual. Mas o resultado final é de leviandade e imprudência. Então vai confiar-se a protecção das obras de arte à mulher do criminoso? Não podia designar-se um terceiro como fiel depositário? Só ao fim destes anos é que se foi ver o estado das obras de arte? Por que é que não se adoptaram medidas de controle periódico para ver se tudo estava a ser cumprido?
  5. Numa palavra: Rendeiro continua a comportar-se como um patife; a justiça continua a dar de si própria uma imagem desgraçada.

 

CIMEIRA DO CLIMA

  1. Um misto de desilusão e esperança.
  2. A desilusão vem sobretudo do lado da China e da Índia. Com a agravante de a China ser o maior poluidor do mundo. E a Índia o quarto maior.
    • A China propõe-se atingir a neutralidade carbónica apenas em 2060. A Índia em 2070. E não explicam, um e ouro, como lá chegar.
    • Entretanto, quando começou a crise energética, China e Índia voltaram a ligar as suas centrais a carvão. Dois maus exemplos.
  3. A esperança vem sobretudo dos EUA, da UE e dos acordos assinados:
    • Dos EUA uma esperança mitigada: com Trump, os EUA estavam fora do acordo de Paris. Agora estão dentro. É certo que não assinaram o acordo para o abandono do carvão. Mas sente-se hoje outra vontade política que antes não existia quanto ao dossier climático.
    • Da UE o maior sinal de esperança. A UE quer liderar pelo exemplo. Apesar de ser o terceiro maior emissor de carbono, é a região do mundo com maior ambição: o objectivo é atingir a neutralidade carbónica em 2050.
  4. Finalmente, os três acordos assinados – metano, carvão e desflorestação – são sinais na direcção certa. É certo que são bastante proclamatórios. Mas não deixam de ser sinais positivos.
  5. O maior sinal de esperança vem da juventude. Que se manifesta, que pressiona, que agita a opinião pública. Só é pena que esta pressão da juventude não exista em força na China e na Índia. É aí, mais do que no mundo ocidental, que a pressão da juventude faz uma falta enorme para forçar os governos a agir.
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