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12 de Maio de 2019 às 21:04

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. O comentador fala sobre o SIRESP, a intervenção de Berardo, a derrota de Mário Nogueira e a crise política, entre outros assuntos.

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NACIONALIZAÇÃO DO SIRESP?

 

  1. O Público de ontem dizia que podia estar iminente a nacionalização do SIRESP, na sequência de um braço de ferro entre o Governo e a Altice. A notícia estava certa mas daí para cá houve evoluções e o ponto da situação é o seguinte:
  • Em princípio, já não vai haver nacionalização;
  • Estão em curso negociações com vista a uma aquisição de capital privado do SIRESP por acordo, de modo amigável;
  • Estas negociações estão bem encaminhadas mas ainda não concluídas.

 

  1. A história é a seguinte:
  • O SIRESP, combinado com o Estado, fez um grande investimento na rede, que o Estado devia pagar e não pagou.
  • Só que o Estado não pode pagar porque o Tribunal de Contas recusou o visto à revisão do contrato a celebrar entre o Estado e o SIRESP.
  • Em função deste problema, o SIRESP ameaçou cortar o sinal e o Estado ripostou, ameaçando nacionalizar.
  • Entretanto, entre ontem e hoje passou-se da quase ruptura para o quase acordo – e as negociações para a aquisição amigável estão em curso e bem encaminhadas.

 

A INTERVENÇÃO DE BERARDO

 

  1. Primeiro: este homem esteve no Parlamento manifestamente a "gozar com o pagode". Não tem o mínimo de respeito pelos portugueses que viram milhões de euros dos seus impostos a entrar nos Bancos, por causa dos prejuízos que este homem e outros causaram ao sistema financeiro.

 

  1. Segundo: como se tudo isto não chegasse, este homem não tem um pingo de vergonha. Depois de tudo o que se passou, dizer que pessoalmente não deve nada e que ainda anda a ajudar os Bancos só pode suceder com quem tem uma "lata" monumental e um descaramento do tamanho do mundo.

 

  1. Terceiro: este comportamento é assustador. Mas mais assustador é pensar o seguinte: como é possível que os Bancos tenham emprestado quase mil milhões de euros a uma pessoa com estas características?

 

  1. Finalmente: em muitos países, em condições semelhantes, já havia gente na prisão – gestores e devedores. Infelizmente, em Portugal, a justiça demora tempo de mais a investigar, a decidir e a julgar. É assim que se perde a confiança nas instituições do Estado.

 

A DERROTA DE MÁRIO NOGUEIRA

 

  1. Mário Nogueira, líder da Fenprof, é o grande derrotado deste processo. Está habituado a ganhar todas as guerras em que se envolve. Teve desta vez a maior derrota da sua vida sindical.
  • Primeiro, porque fez desta questão uma grande causa;
  • Depois, porque esticou a corda até ao máximo e perdeu;
  • Finalmente, a derrota foi tão grande que esta semana, em sinal de desespero, se colou mesmo às propostas do PSD e do CDS;
  • Num país normal e decente deveria assumir responsabilidades pelo fracasso e demitir-se.

 

  1. Há uma razão adicional que devia levar Mário Nogueira a demitir-se. É que a sua conduta prejudicou seriamente os professores.
  • Os professores só vão ter o reconhecimento de 2 anos e 9 meses por culpa de Mário Nogueira. Porque Mário Nogueira teve uma teimosia negocial inqualificável – ou eram 9 anos ou nada de negociação.
  • Se ele tivesse admitido baixar a fasquia dos 9 anos, isso obrigaria o Governo também a ceder e podia ter havido um acordo – quatro anos, quatro anos e meio ou até cinco podia ter sido a solução.
  • Os professores têm hoje uma má imagem na opinião pública. É injusto mas é verdade. Isso deve-se sobretudo a Mário Nogueira.
  • Como em certas questões o país vive de pernas para o ar, Mário Nogueira, em vez de se demitir, agarra-se ao poder.

 

O SILÊNCIO DE MARCELO

 

  1. Em toda esta "crise" o PR não abriu a boca, o que surpreendeu muito boa gente. Compreende-se a surpresa – este é um PR muito falador e interventivo. A verdade, porém, é que Marcelo fez bem em manter-se silencioso. Em boa verdade, não tinha sequer alternativa. Vejamos:
  2. Primeiro: se falasse, qualquer palavra que dissesse era interpretada como estando de um de lado ou de outro, a tomar partido por uma parte ou por outra. Passava de árbitro a jogador. Ainda por cima em tempo eleitoral.
  3. Segundo: tinha de se resguardar para o caso de haver mesmo crise e ter de a resolver, decidindo ou não convocar eleições antecipadas. Qualquer sinal que desse antes, estava a beneficiar uns e a prejudicar outros.
  4. Terceiro: seguiu o exemplo de outros Presidentes em tempo de crise política, segundo o qual o Presidente nunca fala no decurso da crise. Foi assim com Cavaco Silva, na crise do PEC4, e foi assim com Mário Soares em 1987, quando houve um conflito entre o então Governo do PSD e a oposição do PS e PRD. Num caso e noutro, os ex-Presidentes só falaram no final da crise. Para a resolverem.

 

  1. Em conclusão: um Presidente ou fala antes da crise, para a tentar evitar, ou fala depois da crise consumada, para a resolver. Nunca no decurso da crise. Este é o padrão correcto que o PR adoptou.

 

BALANÇO DA "CRISE"

 

O país ganhou e muito; Costa ganhou claramente mas não tanto quanto desejava; Rio e Cristas perderam bastante; PCP e BE nem ganharam nem perderam.

 

  1. O país ganhou e muito. Evitou-se o que seria um pandemónio político e financeiro, com todas as classes profissionais a exigirem o mesmo tratamento dos professores. E mostrou-se que, apesar da importância dos sindicatos, quem manda em Portugal é o poder político e não o poder sindical. Isto é muito importante para a democracia.

 

  1. António Costa ganhou claramente (é o único político vencedor) mas não ganhou tanto quanto desejava. Desejava ter eleições antecipadas e não conseguiu. Mas ganha autoridade política, porque mostrou coragem e responsabilidade. Poucos políticos enfrentariam, a poucos meses de eleições, uma classe tão numerosa e poderosa como a dos professores.

 

  1. A derrota do PSD e do CDS é grande. Maior mesmo que a vitória de Costa.
  • Rui Rio tinha uma imagem de político de contas certas que não cede à táctica política. Acabou por fazer tudo ao contrário. Perante um caso prático, Rio deu a imagem de tacticista, tentando agradar aos professores pela caça ao voto, cedendo na sua imagem de rigor financeiro. E teve uma atitude que não o favorece – atirar a culpa para os deputados. Isto não é bonito (um líder deve assumir e não alijar responsabilidades); e não é justo Margarida Mano é uma deputada correcta e leal.
  • Assunção Cristas, esta semana, foi mais inteligente porque esteve mais recatada. Mas o que fez na semana passada foi mau para a sua imagem e do CDS. Não se percebe como é que tem desbaratado o capital que adquiriu há ano e meio nas autárquicas em Lisboa.

 

  1. Finalmente, o PCP e o BE. Não perderam nem ganharam. Mostraram clareza e coerência de posições. E as suas posições não comprometeram a geringonça.

 

O IMPACTO DA "CRISE" NAS ELEIÇÕES

 

  1. Eleições EuropeiasInverteu-se a dinâmica de campanha. A campanha do PS estava sem alma. Ganhou um balão de oxigénio. Ao invés, as campanhas do PSD e do CDS perderam em crença e motivação.

 

  1. Eleições LegislativasO que se passou é obviamente favorável ao PS. Mesmo assim, é cedo para avaliar o impacto da vitória. Primeiro, porque faltam alguns meses e há factos que ainda podem influenciar, como os incêndios de Verão; depois, porque o Governo e o PM têm uma tendência para a arrogância quando estão a ganhar, o que lhes pode custar caro. Agora, há duas coisas evidentes:
  2. O eleitorado moderado do centro ficou mais próximo das posições de António Costa;
  3. Depois, PSD e CDS perderam um trunfo eleitoral – o rigor financeiro. Se, no futuro, Rio e Cristas acusarem o PS de irresponsabilidade financeira do passado, Costa atira-lhes à cara com a irresponsabilidade financeira do PSD e do CDS no presente, no caso dos professores.

 

  1. Uma coisa começa a ser mais clara: no futuro, nem é provável um Governo de Bloco Central, nem uma geringonça formal como a que tivemos até agora. Cada vez é mais provável um governo minoritário do PS, de geometria variável, fazendo acordos à esquerda e à direita, num cenário em que regressa o risco da instabilidade e dos governos de curta duração.

 

ANTÓNIO COSTA NA EUROPA?

 

  1. O Finantial Times publicou uma lista de potenciais candidatos a Presidente do Conselho Europeu, na qual também figurava o nome de António Costa, que rapidamente disse que não é candidato a qualquer cargo europeu.

 

  1. Eu diria o seguinte:
  2. Agora, António Costa não deixa o país. Mas daqui a 5 anos é muito provável que a sua decisão seja outra.
  3. Daqui a 5 anos, António Costa tem de fazer uma opção: ou ser candidato a PR, depois de dois mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa; ou ir para um cargo europeu, Presidente da Comissão ou do Conselho Europeu.
  4. Eu não sou visionário nem tenho poderes de adivinhação, mas não me surpreendia nada que, terminada a sua experiência como PM, a ambição de António Costa seja um cargo europeu e não a candidatura presidencial.

 

  1. Entretanto, na sequência do Conselho Europeu desta semana, há duas informações algo surpreendentes:
  • Primeira, o Siryza, do PM Tsipras, vai aderir à Internacional Socialista. Quem diria que isto era possível há anos atrás? É a moderação do Siryza. O poder torna os políticos mais conservadores e menos aventureiros.
  • Segunda, a de que Michel Barnier (o Comissário que negociou o Brexit e que esteve há pouco no Conselho de Estado português) pode ser o próximo Presidente da Comissão Europeia. É que uma maioria de países não aceita as candidaturas apresentadas pelos partidos.
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