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11 de Novembro de 2018 às 21:26

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre as previsões económicas da Comissão Europeia, o caso Silvano, as mudanças na banca e o estado do PSD, entre outros temas.

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PREVISÕES ECONÓMICAS

 

  1. Segundo a Comissão Europeia, Portugal em 2018 vai ter um crescimento económico inferior ao projectado pelo Governo (1,8% de previsão da Comissão contra 2,2% do Governo). Em consequência, a Comissão prevê que o défice previsto pelo Governo(0,2%) vai ser três vezes superior (0,6%).

 

  1. O que dizer destas previsões? Duas coisas:
  2. Primeiro: em matéria de crescimento da economia, a Comissão Europeia provavelmente tem razão. A economia europeia está a arrefecer. Logo, o crescimento da economia portuguesa também está a desacelerar.
  3. Segundo: quanto ao défice, a Comissão Europeia vai falhar na sua previsão. Porquê? Porque Mário Centeno lhe troca as voltas. Faz mais cativações e atinge o défice 0 em 2019. Esta é a grande arma "secreta" de Centeno.

 

  1. Em conclusão, o mais provável é termos em 2019:
  • Menos crescimento da economia;
  • Mais cativações;
  • Menos investimento público que o projectado;
  • Um défice 0% do PIB, porque o Ministro das Finanças quer ficar na história como o Senhor Défice Zero.

 

MUDANÇAS NA BANCA

 

Há excelentes mudanças na banca. Esta semana foram públicos alguns bons sinais de viragem.

 

  1. O primeiro sinal, no BCP – Decididamente, o BCP voltou em força aos lucros; vai voltar a distribuir dividendos em 2019; e, mais importante, comprou mais um Banco na Polónia, onde já tinha um e donde retira bons resultados. É uma estratégia correcta – uma estratégia de crescimento sustentado. É caso para dizer que o novo Presidente Executivo, Miguel Maya, entrou com o pé direito.

 

  1. O segundo sinal, na CGD – Durante anos, a CGD dava prejuízos, o Estado metia dinheiro na Caixa e o erário público pagava a factura. Agora, tudo mudou: a CGD regressou aos lucros; em 2019 já vai entregar dividendos ao Estado (o que não sucede desde 2010); e, desta forma, vai ajudar o erário público.

 

  1. O terceiro sinal, os testes de stress na BancaAté há pouco tempo, os testes de sress na Banca eram um drama para os bancos portugueses. Agora, o drama passou para outros países e para outras geografias. Os bancos portugueses passam bem nos testes de stress. Ou seja: os nossos bancos ainda têm problemas, sobretudo de rentabilidade, mas estão sólidos e a evoluir na direcção certa.

 

O CASO SILVANO

 

  1. Primeiro, é muito mau e muito feio para José Silvano e para Emília Cerqueira. Digam o que disserem, a sensação que fica é que estão a faltar à verdade. Até porque andaram toda a semana a mudar de narrativa. Cada dia havia uma nova versão e uma nova "mentirinha".
  • A ideia verdadeira que passa para as pessoas é esta: José Silvano não estava na AR; Emília Cerqueira registou conscientemente a sua presença; agora que foram descobertos contam uma história da carochinha. Assim, Silvano agarra-se ao lugar de Secretário-Geral; Emília Cerqueira, em recompensa, ganha o lugar de deputada na próxima eleição.
  • Ora, tudo podia ter sido resolvido com decência se um e outro tivessem tido a humildade de reconhecer o erro e de pedir desculpa. Assim, ficam ambos mal na fotografia.

 

  1. Segundo, é muito mau para o Parlamento e para a imagem dos deputados. Como em Portugal a tentação é para tudo generalizar, este infeliz episodio é, na prática, mais um "prego no caixão" da credibilidade parlamentar.

 

  1. Finalmente, é muito mau para Rui Rio, que desvalorizou o caso, tendo considerado que era uma mera questiúncula. Rio não percebe três coisas:
  • Primeiro, que este casos têm um impacto brutal na opinião pública. Um político que os desvaloriza é um político divorciado do sentimento da sociedade.
  • Segundo, que quem, como Rui Rio, prometeu um "banho de ética" não pode agora pactuar com a falta dela. O povo costuma dizer: "Pela boca morre o peixe". Neste caso, Rio falha por ter prometido e não cumprido.
  • Terceiro, Rui Rio não percebe que, pactuando com estas situações, está a dar cabo do melhor que a sua imagem tinha. Uma imagem de seriedade, de ética, de rigor, de cortar a direito. E bem podia ter evitado a graçola de falar em alemão. É um gesto de arrogância.

 

ESTADO DO PSD

 

  1. Como dizia Ana Sá Lopes no Público esta semana, a degradação do PSD afecta os equilíbrios políticos no país (os famosos "pesos e contrapesos"). Afinal, uma democracia precisa de um governo forte e de uma oposição forte.

 

  1. Por que é que o PSD chegou a este estado? O PSD tem quatro problemas:
  2. Primeiro, tem um problema estratégico. No seu íntimo, Rui Rio não sabe ainda o que deseja para o futuro: entrar num governo de bloco central? Viabilizar um governo PS? Juntar-se ao CDS para construir uma nova AD? Enquanto esta clarificação não existir, é difícil fazer oposiçao.
  3. Segundo, tem um problema de discurso. No essencial, Rui Rio tem um discurso que é agradável para um eleitorado que nunca votará nem nele nem no PSD. É o caso do discurso sobre as mais-valias imobiliárias. Agrada ao Bloco, mas não lhe dá um voto. Só lhe pode tirar. Por isso é que Rio chega a ser elogiado por pessoas do Bloco e do PS, mas não da sua área política.
  4. Terceiro, tem um problema de imagem. A imagem mais forte que Rio criou foi como Presidente da Câmara do Porto. Uma imagem de pessoa corajosa, séria, exigente e que cortava a direito. Hoje, essa imagem está a perder-se. Rio hoje está complacente e aparelhista. Quem o viu e quem o vê!
  5. Finalmente, tem um problema de posicionamento. Há confrontos que se podem travar quando se está no poder (foi o caso do confronto com o FCPorto quando era Presidente da Câmara), mas que se devem evitar quando se está na oposição. É que o estatuto não é o mesmo. Por exemplo: um comportamento com os seus deputados, estando no poder, pode dar-lhe autoridade; na oposição, gera divisão e fraqueza.

 

  1. Em conclusão: acho que Rio devia reflectir nisto antes que seja tarde; devia ouvir mais; e os seus colaboradores deveriam pensar que ajudar o líder não é estar sempre a concordar com ele.

 

BE VAI PARA O GOVERNO?

 

  1. A Convenção correu muito bem ao Bloco.
  2. Primeiro: passou a imagem de um partido unido, mobilizado e uma líder incontestada;
  3. Segundo: passou uma imagem de mudança – a mudança de partido de protesto para partido de poder;
  4. Terceiro: foi um comício de críticas duríssimas ao PS. O PS parecia um saco de boxe. Incluindo a crítica à maioria absoluta do PS (o diabo da esquerda).
  5. Quarto: a manifestação de uma vontade férrea de ir para o Governo. Ou seja: o BE passou meia Convenção a "bater" no PS e outra meia a "oferecer-se" para ir com o PS para o Governo.

 

  1. Eis a questão nuclear: o PS irá mesmo para o Governo depois das eleições?
  2. Julgo que não. Em matéria de governação, a paixão do Bloco é uma paixão não correspondida. Como disse recentemente o PM, a relação que existe com o Bloco dá para uma boa amizade, mas não dá para casar.
  3. Eu diria mais: um Governo PS/BE, presidido por António Costa, é um objectivo impossível. Só não percebe isto quem não conhece António Costa. O PM nunca fará governo com o BE. O PS ou tem a maioria absoluta e governa sozinho, ou não tem e não fará governo com o BE. Primeiro, para não comprar uma guerra com o PCP; depois, porque não quer desagradar ao eleitorado do centro; finalmente, porque as divergências não são irrelevantes.
  4. E arrisco mesmo dizer: esta estratégia do BE de "se oferecer" para governar pode ser útil a ambas as partes.
  • O Bloco mobiliza-se eleitoralmente e isso é-lhes positivo;
  • O PS pode obter uma boa quantidade de voto útil na área do centro, naqueles eleitores que "se assustam" com a ideia do BE no Governo e que preferem o PS sozinho a PS acompanhado do Bloco.

 

BEM-ESTAR DAS FAMÍLIAS

 

  1. O INE divulgou esta semana o Índice de Bem-Estar das famílias portuguesas relativo a 2017 (dados provisórios), um índice que, através de 10 indicadores, meda a evolução das condições e da qualidade de vida dos portugueses.

 

  1. Algumas conclusões a tirar:
  2. Índice de Bem-Estar – Estamos sempre a melhorar desde 2004. Baixou ligeiramente em 2007 e 2012, mas a evolução é globalmente positiva. O valor mais alto de sempre foi no ano passado.
  3. O Melhor IndicadorIndicador da Educação, Conhecimento e CompetênciasDe 2004 até hoje, tem vindo sempre a melhorar, o que demonstra que, independentemente dos governos, a aposta na educação tem sido constante.
  4. O Pior IndicadorTrabalho e RemuneraçãoO melhor ano foi 2004. Teve depois uma descida acentuada entre 2009 e 2013 (tempo da crise). Desde 2013 até hoje esteve sempre a melhorar. Mesmo assim, estamos ainda ao nível de 2010.
  5. Indicador relativo à Segurança e Criminalidade – Este indicador mostra bem que de 2013 para cá o sentimento de segurança dos portugueses é grande. Ou seja: baixa criminalidade e alta confiança nas polícias.

 

  1. Em conclusão: boas notícias para o país. Mesmo o pior indicador (Trabalho e Remuneração) está em forte tendência de recuperação.

 

TOURADAS – SIM OU NÃO?

 

  1. Não sou um adepto de touradas, como, de resto, também não sou caçador. Nem uma coisa nem outra me apaixona.

 

  1. Posto isto, direi três coisas relativamente à polémica existente:
  2. Primeiro: não sou fã de touradas mas não me passa pela cabeça defender a sua proibição. Respeito os que pensam de maneira diferente.
  3. Segundo: há uma agenda – mais ou menos escondida – para, a prazo, proibir touradas e proibir a caça. Parece-me um exercício de radicalismo inaceitável.
  4. Terceiro: já quanto à questão do IVA, concordo com a ideia do Governo de não baixar o IVA para as touradas. A razão é esta: se o Estado não tem que proibir as touradas, também não tem de as incentivar, seja pela via fiscal, seja por qualquer outra forma.

Notas finais:

  • Web Summit – Um sucesso (cá dentro e lá fora)
  • Advogados portugueses em altos cargos internacionais (Carmo Sousa Machado, Presidente da Multilaws; e José de Freitas que vai ser em 2019 Presidente da CCBE)
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