Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre as previsões económicas da Comissão Europeia, o caso Silvano, as mudanças na banca e o estado do PSD, entre outros temas.
PREVISÕES ECONÓMICAS
- Segundo a Comissão Europeia, Portugal em 2018 vai ter um crescimento económico inferior ao projectado pelo Governo (1,8% de previsão da Comissão contra 2,2% do Governo). Em consequência, a Comissão prevê que o défice previsto pelo Governo(0,2%) vai ser três vezes superior (0,6%).
- O que dizer destas previsões? Duas coisas:
- Primeiro: em matéria de crescimento da economia, a Comissão Europeia provavelmente tem razão. A economia europeia está a arrefecer. Logo, o crescimento da economia portuguesa também está a desacelerar.
- Segundo: quanto ao défice, a Comissão Europeia vai falhar na sua previsão. Porquê? Porque Mário Centeno lhe troca as voltas. Faz mais cativações e atinge o défice 0 em 2019. Esta é a grande arma "secreta" de Centeno.
- Em conclusão, o mais provável é termos em 2019:
- Menos crescimento da economia;
- Mais cativações;
- Menos investimento público que o projectado;
- Um défice 0% do PIB, porque o Ministro das Finanças quer ficar na história como o Senhor Défice Zero.
MUDANÇAS NA BANCA
Há excelentes mudanças na banca. Esta semana foram públicos alguns bons sinais de viragem.
- O primeiro sinal, no BCP – Decididamente, o BCP voltou em força aos lucros; vai voltar a distribuir dividendos em 2019; e, mais importante, comprou mais um Banco na Polónia, onde já tinha um e donde retira bons resultados. É uma estratégia correcta – uma estratégia de crescimento sustentado. É caso para dizer que o novo Presidente Executivo, Miguel Maya, entrou com o pé direito.
- O segundo sinal, na CGD – Durante anos, a CGD dava prejuízos, o Estado metia dinheiro na Caixa e o erário público pagava a factura. Agora, tudo mudou: a CGD regressou aos lucros; em 2019 já vai entregar dividendos ao Estado (o que não sucede desde 2010); e, desta forma, vai ajudar o erário público.
- O terceiro sinal, os testes de stress na Banca – Até há pouco tempo, os testes de sress na Banca eram um drama para os bancos portugueses. Agora, o drama passou para outros países e para outras geografias. Os bancos portugueses passam bem nos testes de stress. Ou seja: os nossos bancos ainda têm problemas, sobretudo de rentabilidade, mas estão sólidos e a evoluir na direcção certa.
O CASO SILVANO
- Primeiro, é muito mau e muito feio para José Silvano e para Emília Cerqueira. Digam o que disserem, a sensação que fica é que estão a faltar à verdade. Até porque andaram toda a semana a mudar de narrativa. Cada dia havia uma nova versão e uma nova "mentirinha".
- A ideia verdadeira que passa para as pessoas é esta: José Silvano não estava na AR; Emília Cerqueira registou conscientemente a sua presença; agora que foram descobertos contam uma história da carochinha. Assim, Silvano agarra-se ao lugar de Secretário-Geral; Emília Cerqueira, em recompensa, ganha o lugar de deputada na próxima eleição.
- Ora, tudo podia ter sido resolvido com decência se um e outro tivessem tido a humildade de reconhecer o erro e de pedir desculpa. Assim, ficam ambos mal na fotografia.
- Segundo, é muito mau para o Parlamento e para a imagem dos deputados. Como em Portugal a tentação é para tudo generalizar, este infeliz episodio é, na prática, mais um "prego no caixão" da credibilidade parlamentar.
- Finalmente, é muito mau para Rui Rio, que desvalorizou o caso, tendo considerado que era uma mera questiúncula. Rio não percebe três coisas:
- Primeiro, que este casos têm um impacto brutal na opinião pública. Um político que os desvaloriza é um político divorciado do sentimento da sociedade.
- Segundo, que quem, como Rui Rio, prometeu um "banho de ética" não pode agora pactuar com a falta dela. O povo costuma dizer: "Pela boca morre o peixe". Neste caso, Rio falha por ter prometido e não cumprido.
- Terceiro, Rui Rio não percebe que, pactuando com estas situações, está a dar cabo do melhor que a sua imagem tinha. Uma imagem de seriedade, de ética, de rigor, de cortar a direito. E bem podia ter evitado a graçola de falar em alemão. É um gesto de arrogância.
ESTADO DO PSD
- Como dizia Ana Sá Lopes no Público esta semana, a degradação do PSD afecta os equilíbrios políticos no país (os famosos "pesos e contrapesos"). Afinal, uma democracia precisa de um governo forte e de uma oposição forte.
- Por que é que o PSD chegou a este estado? O PSD tem quatro problemas:
- Primeiro, tem um problema estratégico. No seu íntimo, Rui Rio não sabe ainda o que deseja para o futuro: entrar num governo de bloco central? Viabilizar um governo PS? Juntar-se ao CDS para construir uma nova AD? Enquanto esta clarificação não existir, é difícil fazer oposiçao.
- Segundo, tem um problema de discurso. No essencial, Rui Rio tem um discurso que é agradável para um eleitorado que nunca votará nem nele nem no PSD. É o caso do discurso sobre as mais-valias imobiliárias. Agrada ao Bloco, mas não lhe dá um voto. Só lhe pode tirar. Por isso é que Rio chega a ser elogiado por pessoas do Bloco e do PS, mas não da sua área política.
- Terceiro, tem um problema de imagem. A imagem mais forte que Rio criou foi como Presidente da Câmara do Porto. Uma imagem de pessoa corajosa, séria, exigente e que cortava a direito. Hoje, essa imagem está a perder-se. Rio hoje está complacente e aparelhista. Quem o viu e quem o vê!
- Finalmente, tem um problema de posicionamento. Há confrontos que se podem travar quando se está no poder (foi o caso do confronto com o FCPorto quando era Presidente da Câmara), mas que se devem evitar quando se está na oposição. É que o estatuto não é o mesmo. Por exemplo: um comportamento com os seus deputados, estando no poder, pode dar-lhe autoridade; na oposição, gera divisão e fraqueza.
- Em conclusão: acho que Rio devia reflectir nisto antes que seja tarde; devia ouvir mais; e os seus colaboradores deveriam pensar que ajudar o líder não é estar sempre a concordar com ele.
BE VAI PARA O GOVERNO?
- A Convenção correu muito bem ao Bloco.
- Primeiro: passou a imagem de um partido unido, mobilizado e uma líder incontestada;
- Segundo: passou uma imagem de mudança – a mudança de partido de protesto para partido de poder;
- Terceiro: foi um comício de críticas duríssimas ao PS. O PS parecia um saco de boxe. Incluindo a crítica à maioria absoluta do PS (o diabo da esquerda).
- Quarto: a manifestação de uma vontade férrea de ir para o Governo. Ou seja: o BE passou meia Convenção a "bater" no PS e outra meia a "oferecer-se" para ir com o PS para o Governo.
- Eis a questão nuclear: o PS irá mesmo para o Governo depois das eleições?
- Julgo que não. Em matéria de governação, a paixão do Bloco é uma paixão não correspondida. Como disse recentemente o PM, a relação que existe com o Bloco dá para uma boa amizade, mas não dá para casar.
- Eu diria mais: um Governo PS/BE, presidido por António Costa, é um objectivo impossível. Só não percebe isto quem não conhece António Costa. O PM nunca fará governo com o BE. O PS ou tem a maioria absoluta e governa sozinho, ou não tem e não fará governo com o BE. Primeiro, para não comprar uma guerra com o PCP; depois, porque não quer desagradar ao eleitorado do centro; finalmente, porque as divergências não são irrelevantes.
- E arrisco mesmo dizer: esta estratégia do BE de "se oferecer" para governar pode ser útil a ambas as partes.
- O Bloco mobiliza-se eleitoralmente e isso é-lhes positivo;
- O PS pode obter uma boa quantidade de voto útil na área do centro, naqueles eleitores que "se assustam" com a ideia do BE no Governo e que preferem o PS sozinho a PS acompanhado do Bloco.
BEM-ESTAR DAS FAMÍLIAS
- O INE divulgou esta semana o Índice de Bem-Estar das famílias portuguesas relativo a 2017 (dados provisórios), um índice que, através de 10 indicadores, meda a evolução das condições e da qualidade de vida dos portugueses.
- Algumas conclusões a tirar:
- Índice de Bem-Estar – Estamos sempre a melhorar desde 2004. Baixou ligeiramente em 2007 e 2012, mas a evolução é globalmente positiva. O valor mais alto de sempre foi no ano passado.
- O Melhor Indicador – Indicador da Educação, Conhecimento e Competências – De 2004 até hoje, tem vindo sempre a melhorar, o que demonstra que, independentemente dos governos, a aposta na educação tem sido constante.
- O Pior Indicador – Trabalho e Remuneração – O melhor ano foi 2004. Teve depois uma descida acentuada entre 2009 e 2013 (tempo da crise). Desde 2013 até hoje esteve sempre a melhorar. Mesmo assim, estamos ainda ao nível de 2010.
- Indicador relativo à Segurança e Criminalidade – Este indicador mostra bem que de 2013 para cá o sentimento de segurança dos portugueses é grande. Ou seja: baixa criminalidade e alta confiança nas polícias.
- Em conclusão: boas notícias para o país. Mesmo o pior indicador (Trabalho e Remuneração) está em forte tendência de recuperação.
TOURADAS – SIM OU NÃO?
- Não sou um adepto de touradas, como, de resto, também não sou caçador. Nem uma coisa nem outra me apaixona.
- Posto isto, direi três coisas relativamente à polémica existente:
- Primeiro: não sou fã de touradas mas não me passa pela cabeça defender a sua proibição. Respeito os que pensam de maneira diferente.
- Segundo: há uma agenda – mais ou menos escondida – para, a prazo, proibir touradas e proibir a caça. Parece-me um exercício de radicalismo inaceitável.
- Terceiro: já quanto à questão do IVA, concordo com a ideia do Governo de não baixar o IVA para as touradas. A razão é esta: se o Estado não tem que proibir as touradas, também não tem de as incentivar, seja pela via fiscal, seja por qualquer outra forma.
Notas finais:
- Web Summit – Um sucesso (cá dentro e lá fora)
- Advogados portugueses em altos cargos internacionais (Carmo Sousa Machado, Presidente da Multilaws; e José de Freitas que vai ser em 2019 Presidente da CCBE)