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Opinião
16 de Julho de 2017 às 21:19

Notas da semana de Marques Mendes

Luís Marques Mendes, no habitual comentário ao domingo na SIC, fala dos casos da semana. O Negócios publica o excerto desses comentários.

  • ...

RESCALDO DE TANCOS

 

  1.  Tenho um enorme respeito pela instituição militar e sou mesmo um admirador das qualidades do General Pina Monteiro. Posto isto, estas declarações são absolutamente surpreendentes.

a) Primeiro, pela linguagem – Falar em "soco no estômago" e "levantar cabeça" é linguagem mais própria de jogador de futebol. Não é adequado a um oficial general.

b) Segundo, pela contradição – No princípio dizia-se que o assalto tinha sido muito grave. Agora, afinal, parece que já não é: em valor parece que são só uns trocos; em qualidade, parece que é sucata.

  •   Só falta dizer que os assaltantes são uns "queridos", porque até ajudaram a limpar o armazém de Tancos.

 

  1.  Falando agora mais a sério. Eu sei que os Chefes Militares querem ser simpáticos com o poder político, desvalorizando a situação e baixando a pressão sobre o Governo. Já sucedeu antes com o CEME.
  •   Mas atenção! Os Chefes Militares não devem ser simpáticos ou antipáticos, mas sim independentes. Devem recordar que são órgãos do Estado e não órgãos do Governo. Cooperação com o Governo, sim. Subserviência ao Governo, não!
  •   Este tipo de declarações não ajuda em nada ao prestígio da intervenção militar.

  

RACISMO NA PSP DA AMADORA?

 

Três apontamentos:

  1.  Primeiro: Esta acusação do Ministério Público é um trabalho inédito, corajoso e importante.
  •   Inédito, porque não me lembro de uma acusação com esta gravidade e profundidade no âmbito da PSP;
  •   Corajoso, porque esta não é uma investigação fácil de fazer. Trata-se de uma investigação no âmbito de uma força de segurança;
  •   Importante, porque chama a atenção do problema da violência policial dentro das esquadras, ainda por cima com a gravidade de ter motivações racistas. Não é possível erradicar estes fenómenos sem os conhecer e sem os julgar.

 

  1.  Segundo apontamento: A desautorização  da Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI).

a) A IGAI também investigou a actuação da PSP neste caso. E chegou a conclusões bem diferentes das do Ministério Público.

b) Não fica, pois, muito bem neste filme. Sai desautorizada. Afinal, esta acusação do Ministério Público é, na prática, uma "bofetada" na IGAI.

 

  1.  Finalmente: a ausência da Ministra. Perante um caso desta gravidade, não se ouviu uma palavra da Ministra da Administração Interna.
  •   E, todavia, devia ter falado para separar o trigo do joio. A Ministra devia pedir justiça para quem prevarica mas devia apoiar também todos aqueles que na PSP cumprem a lei e não prevaricam. Um caso isolado, ainda que grave, não mancha a reputação e a imagem geral da PSP.
  •   Esta ausência é mais uma prova de que a Ministra está fragilizada e diminuída politicamente.

 

A MINI-REMODELAÇÃO

 

  1.  As remodelações de Secretário de Estado não têm, por norma, novidades políticas. Secretários de Estado são Secretários de Estado. Não são Ministros.

Mas esta mini-remodelação tem 2 novidades: a saída de um peso pesado do PS como é Margarida Marques; e o reforço do poder do Ministro Santos Silva.

 

  1.  Margarida Marques não era uma Secretária de Estado qualquer. Era uma espécie de Ministra dos Assuntos Europeus; íntima de António Costa; uma histórica do PS; competente em matérias europeias.
  •   Sai então porquê? Porque tinha más relações com parte da Comissão Europeia; porque tinha más relações com a REPER; mas, sobretudo, porque se assumiu como uma espécie de Ministra dos Assuntos Europeus e isso colide com o estatuto do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Era como se Santos Silva fosse Ministro dos Negócios Estrangeiros mas amputado das questões europeias.

 

  1.  Por isso é que a saída de Margarida Marques é um reforço do poder e da autoridade do Ministro Santos Silva.
  •   Ele impôs o seu poder. Afirmou a sua autoridade. E ganhou. A partir de agora vai ser, em pleno, Ministro dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos Europeus.
  •   Sem ser ensombrado por ninguém. E coadjuvado por uma Secretária de Estado que é uma embaixadora competentíssima.

 

  1.  Nota final – Nesta viragem de ciclo na vida do Governo, há 2 governantes que saem reforçados - Santos Silva e Pedro Nuno Santos. Ambos deram a cara pelo Governo. E um pode emergir – Pedro Marques, uma espécie de Fontes Pereira de Melo de Pedrógão.

 

 

    O ESTADO DA NAÇÃO

 

  1.    O debate – O debate foi de uma pobreza franciscana. Mais do mesmo. Repetitivo, previsível, sem novidades, centrado nas questões do presente e sem uma ideia para o futuro.

 

  1.    Há sobretudo três conclusões a tirar:

a) Primeira: apesar de ocorrer no pior momento do Governo, o Executivo sai incólume do debate. Não é que António Costa tivesse recuperado a melhor forma do passado. Ainda está longe disso. Mas a oposição não foi capaz de lhe criar nenhuma dificuldade de monta.

b) Segunda: a coligação governamental está de pedra e cal. Mais unida e sólida do que nunca. Quem esperasse brechas e divisões na chamada geringonça enganou-se redondamente. PCP e BE deram uma proteção total ao Governo. Quem pensar em crise política o melhor é "tirar o cavalinho da chuva". A maioria de esquerda está para durar.

c)   Terceira: a vida da oposição não está fácil e não vai ser fácil no futuro.

  •   Não conseguiu capitalizar com tudo o que se passou no pior momento do Governo.
  •   E tem dois obstáculos de monta pela frente: as eleições autárquicas (que não são favoráveis ao PSD) e a economia, que vai continuar a crescer (e essa é a grande mais-valia do Governo).

 

  1.    A desilusão final é que nenhuma questão de fundo foi tratada neste debate. Um exemplo:
  •   Estamos a viver uma oportunidade histórica em termos de crescimento económico. Vamos ter este ano um crescimento de cerca de 3% do PIB. O melhor resultado desde o início do século.
  •   Devíamos aproveitar esta oportunidade para acelerar a redução da dívida pública. Era importante para reforçar a credibilidade internacional; para melhorar o rating da república; para atrair novos investidores. Apesar disso, nem uma palavra.

O FUTURO DE MONTENEGRO

 

  1.  Luís Montenegro teve no debate do estado da Nação a sua última grande intervenção como líder parlamentar. Vai deixar o cargo, por ter atingido o limite de mandatos.

 

  1.  Montenegro foi durante 6 anos consecutivos líder parlamentar do PSD.
  •   Foi um bom líder parlamentar. Dos melhores que o PSD teve até hoje. Combativo, corajoso, sólido e competente. Prestou grandes serviços ao partido.
  •   Ganhou estatuto para poder vir a ser, um dia, líder do PSD. Tem vontade, tem ambição e tem qualidades.
  •   Quando é que isso pode suceder? Como está intimamente ligado a Passos Coelho, tal só poderá suceder quando o actual líder abandonar a liderança.

 

  1.  Disputa da liderança

a) No curto prazo, a seguir às eleições autárquicas, o cenário mais verosímil é haver 2 ou 3 candidatos a líder do PSD: dois certos (Passos Coelho e Rui Rio) e um provável (Paulo Rangel – que já foi candidato no passado, que tem legítima ambição e que, se não voltar a ser, corre o risco de desaparecer deste combate).

b) No médio prazo, a seguir a 2019, há dois outros nomes que podem emergir: Luís Montenegro, que tem um estatuto forte; e mais tarde Carlos Moedas, actual Comissário europeu, que está a fazer um bom lugar em Bruxelas, que pode fazer um segundo mandato e regressar mais tarde à política com prestígio e experiência.

  •   Ou seja, no curto, médio e longo prazo, haverá muito por onde escolher.

 

ALTICE COMPRA A TVI

 

  1.    O que significa esta compra? Uma verdadeira revolução no sector da comunicação social. Um grupo estrangeiro de comunicação social fica com um poder brutal de investimento e de intervenção, quer no sector dos media, quer na área das telecomunicações. É algo a que nunca antes tínhamos assistido. Uma completa mudança de paradigma, no sector da comunicação social.

 

  1.    Que riscos é que esta situação envolve? O risco é o de uma excessiva concentração de poder em vários domínios: no domínio da televisão e da rádio; no domínio das telecomunicações; no domínio dos conteúdos áudio-visuais; no domínio do mercado publicitário.

 

  1.    O que vai suceder agora? A intervenção dos reguladores.
  •   Os reguladores, sobretudo a Autoridade da Concorrência, vão aprovar ou chumbar esta compra?
  •   E, se aprovarem, com que restrições? E com que garantias de não haver afirmações de posições dominantes?
  1.    E os demais operadores – sobretudo a  NOS e a IMPRESA – como vão reagir? Que decisões vão tomar? As dúvidas são grandes. Certas, certas, são duas coisas:
  •   A primeira é que a procissão ainda não chegou ao adro e a polémica ainda só agora começou.
  •   A segunda é o sinal dado pelo Presidente da República. Ao receber no mesmo dia, em audiência,  ter recebido a Altice e Francisco Pinto Balsemão, os dois concorrentes, o sinal de Marcelo é que quer equilíbrio e não hegemonia.
  1.    Nota final – Quanto a António Costa andou muito mal no Parlamento ao criticar a Altice. É um tique socrático. Seja para agradar à esquerda, seja para se demarcar da compra da TVI, um PM não deve pronunciar-se sobre a vida das empresas privadas.


OPERAÇÃO AUTÁRQUICAS

 

  1.    OEIRASUma eleição polémica

a) Vai ser um dos casos mais badalados com uma campanha muito viva e marcante:

  •   De um lado, uma guerra verbal muito forte entre o actual e o anterior presidente. Já foram parceiros, agora são adversários.
  •   Do outro lado, o PS com um candidato cheio de promessas de obras e investimentos. Um candidato que já foi Presidente da Câmara da Amadora.
  •   Do lado do PSD/CDS, um candidato diferente do tradicional – um self made man; um ex-aluno da Casa Pia; que subiu a vida a pulso e que quer fazer uma campanha atípica junto dos jovens.
  •   E, finalmente, a questão essencial: como é que vão reagir os eleitores de Oeiras a um candidato que já foi presidente, que depois foi condenado em tribunal por crimes graves, que cumpriu pena de prisão e que agora regressa? É uma incógnita. Nunca tivemos um caso do género.
  1.    PenicheUm dos poucos casos em que a CDU tem sérias dificuldades.

a) É uma Câmara da CDU há 12 anos. Só que o Presidente da Câmara atinge o limite de mandatos, não pode recandidatar-se e a divisão instalada é grande.

b) Há 2 candidatos da área da CDU:

  •   O candidato oficial, que é actualmente o Presidente da Assembleia Municipal;
  •   O candidato independente, também da área da CDU, é o actual Presidente de Junta da Freguesia de Peniche.

c)   O candidato do PS é um antigo Presidente de Câmara (que entretanto já foi candidato várias vezes) e o candidato do PSD é um jovem, que concorre pela primeira vez.

d) Com a divisão no eleitorado da CDU tudo pode acontecer – qualquer um pode ganhar.



NOTAS FINAIS

  1.  Saudação ao Porto e a Rui Moreira – Ganharam o direito de apresentar a candidatura portuguesa à instalação em Portugal da Agência Europeia do Medicamento.

 

  1.  Homenagem a Américo Amorim
  •   Deixa um grande império. Mas não o herdou. Construiu-o a pulso, com trabalho e iniciativa.
  •   Construiu um grande império. Mas não o construiu à custa ou com o favor do poder político. Américo Amorim cultivou sempre uma certa distância do Estado, dos governos, dos partidos. Não andava pendurado no poder político.
  •   Foi um visionário. Via mais longe que os outros; via antes dos outros; e via onde os outros não viam. Por isso, foi mais longe que os outros.
  •   Criou um grande Grupo Empresarial. Mas não se deslumbrou com o poder. Não se lhe conhecem gestos, actos ou atitudes de exibição ou ostentação do poder. Bem ao invés. Cultivou a sobriedade, a decisão e a simplicidade.
  •   Homens assim fazem falta a Portugal. Criam riqueza, geram emprego e são boas referências.
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