Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana, naqueles que são os excertos da sua intervenção na SIC.O comentador fala da TSU, do PIB, do embaixador do Iraque, da Operações Marquês.
SÓCRATES E SALGADO ARGUIDOS
É a grande surpresa da semana – Ricardo Salgado constituído arguido no processo Marquês, o processo que investiga, entre outros, José Sócrates.
Alegadamente, pelo que veio a público, o que terá sucedido foi o seguinte: Helder Bataglia, que foi o representante do Grupo Espírito Santo em Angola, terá feito um depoimento explosivo no Ministério Público a declarar que recebeu indicações de Ricardo Salgado para transferir vários milhões de euros para Santos Silva, que é considerado uma espécie de "testa de ferro" de José Sócrates.
Ou seja, a provar-se esta versão, terá sido Ricardo Salgado a corromper José Sócrates, pagando-lhe uns milhões, através de um intermediário amigo, por alegados favores do ex-PM no caso da OPA da Sonae sobre a PT e da venda da posição da PT na Vivo e na posterior compra da Oi.
Se se confirmar esta versão, há quatro conclusões a tirar:
Primeiro: uma reviravolta na investigação com dados novos e de um enorme impacto;
Segundo: a acusação de corrupção sobre José Sócrates, considerada até agora a acusação mais difícil de provar, ganha uma maior consistência;
Terceiro: esta investigação poderá agora estar a chegar ao fim, com acusações a recair, entre outros, sobre José Sócrates e Ricardo Salgado.
Quarto: que podemos estar perante o primeiro caso de corrupção de um PM.
Mesmo assim, há que aguardar com prudência: primeiro, porque o processo ainda não é público; depois, porque não há ainda pessoas acusadas e muito menos condenadas.
DÉFICE MAIS BAIXO
Primeiro: o défice mais baixo da democracia.
O PM anunciou no Parlamento que o défice de 2016 ficará nos 2,3% ou até abaixo deste valor. É um excelente resultado. Abaixo de todas as previsões. Abaixo da meta prevista no Orçamento. Abaixo do objectivo imposto por Bruxelas. Uma boa notícia para Portugal e para o Governo.
Segundo: sair do procedimento de défice excessivo.
Este resultado vai permitir que Portugal saia, daqui a alguns meses, do Procedimento por défice excessivo. O que é que isto significa? Que Portugal deixará de ser visto como um país incumpridor das regras europeias;
E isto tem claras vantagens: dá confiança aos investidores; pode ajudar a melhorar o rating da República; pode contribuir para baixar os juros da dívida.
Terceiro: má apresentação pública.
Apesar de ser um excelente resultado, o Governo não o soube valorizar. Este anúncio até passou relativamente despercebido. Porque o Governo cometeu um erro político e comunicacional enorme: divulgou este resultado no mesmo debate em que se falou da TSU.
Conclusão: a TSU abafou o debate e ofuscou o défice. Um Governo, que em matéria de propaganda costuma ser muito profissional, desta vez foi de um enorme amadorismo. Perdeu uma boa oportunidade para afirmar uma boa impressão.
O DEBATE DA TSU
Genericamente o debate na AR sobre a TSU foi fraco, foi repetitivo e sem novidade. Há, todavia, dois destaques:
Destaque pela negativa – António Costa. Desta vez António Costa não esteve nada bem. Esteve sempre à defesa; foi muito encurralado pelo PCP e BE; não foi capaz de valorizar nem o resultado do défice nem o acordo de concertação social. Claramente, o PM estava naqueles dias em que não se deve sair de casa. Tudo corre mal. E o debate correu-lhe mal.
Destaque pela positiva – Assunção Cristas. Descontando alguns exageros de linguagem, a líder do CDS, nesta matéria da Concertação Social e da TSU, esteve francamente bem: foi firme; foi coerente; e fez oposição com espírito construtivo.
Foi firme ao criticar o Governo, e bem, por não ter assegurado que o acordado na concertação social seria aprovado no Parlamento;
Foi coerente ao anunciar que se abstinha na AR em relação à TSU, tal como já o tinha feito no ano passado;
Fez oposição com espírito construtivo, porque anunciou uma solução para ultrapassar este impasse. É que a luta política é muito bonita mas, se não houver uma solução, quem se lixa é o mexilhão. E aqui o mexilhão são as PME e as IPSS.
Fim da história. Na próxima semana chumbará no Parlamento o Decreto-Lei do Governo;
A seguir, haverá mesmo um plano B, para compensar as IPSS e as PME.
CRISE POLÍTICA À VISTA?
Não vai haver qualquer crise política. Por três razões simples:
O caso da TSU não tem dimensão suficiente para provocar uma crise;
Quem provocasse uma crise seria penalizado nas urnas;
Abrir uma crise seria, do ponto de vista financeiro, um desastre para o país.
Posto isto, o que se passou é um ensaio. Um sinal das diferenças que vamos ter no futuro. É fácil explicar:
Primeiro: este ano, a vida política vai ser mais radicalizada. Porque é um ano de eleições. E em ano eleitoral o radicalismo sobe sempre de tom.
Segundo: vão surgir mais divergências na geringonça. Porque PCP e BE querem fazer prova de vida. Mostrar a sua autonomia em relação ao Governo.
Terceiro: o PSD vai radicalizar o discurso e acantonar-se mais à direita. Anima os seus incondicionais mas perde o eleitorado moderado do centro. Fica mais motivado nas suas hostes. Mas com menos eleitores.
Quarto: o PS vai tentar ocupar o centro, na perspectiva de que, quando ocorrerem eleições, poder ter uma maioria absoluta.
PSD E CDS ZANGADOS EM LISBOA?
Acabou a ideia de coligação entre PSD e CDS em Lisboa. Desta forma acabou também a coabitação pacífica entre os dois partidos. Estão agora de costas voltadas um para o outro.
Há um ditado popular que explica tudo isto: o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.
Há muitos meses que PSD e CDS se deviam ter entendido para uma coligação em Lisboa, liderada pelo
PSD por ser o maior partido.
Como nunca falaram a sério disso, Assunção Cristas antecipou-se ao PSD e agora o PSD não tem hipóteses de ter um candidato forte.
Temos assim uma Certeza e um Dúvida.
- Uma Certeza: Fernando Medina já está eleito. Falta apenas saber qual a dimensão da sua vitória.
- Uma Dúvida: saber quem fica em segundo e em terceiro lugar. É Assunção Cristas? Será o candidato que o PSD há-de ter?
E isto vai ter influência no resto do país. É que o que se passa em Lisboa tem uma influência enorme nas várias eleições pelo país fora.
A ERA TRUMP
Começou mal. O discurso de posse é divisionista, populista, isolacionista, proteccionista. O que prova o quê? Trump presidente é igual ao Trump candidato.
Desconfio que a sua presidência vai ser um susto.
No plano político, vai agravar as divisões dentro da América;
No plano económico, o recurso a medidas proteccionistas, a uma América mais fechada sobre si própria e menos aberta ao mundo, só pode prejudicar a economia mundial;
No plano internacional, vai cortar com as amarras do passado. Os Estados Unidos da América são a superpotência que há várias décadas garante a ordem internacional. Tudo isso pode estar em causa. Na Europa, na NATO, na relação com a China ou na relação com a Rússia.
Uma certeza – Dificilmente fará mais do que um mandato. E mesmo assim um mandato cheio de sobressaltos.
Uma dúvida – Quem lhe sucederá? Será que Obama pode voltar? Sai da presidência novíssimo. Sai da presidência altamente popular. E sai da presidência cheio de vontade de ficar.
É a grande surpresa da semana – Ricardo Salgado constituído arguido no processo Marquês, o processo que investiga, entre outros, José Sócrates.
Ou seja, a provar-se esta versão, terá sido Ricardo Salgado a corromper José Sócrates, pagando-lhe uns milhões, através de um intermediário amigo, por alegados favores do ex-PM no caso da OPA da Sonae sobre a PT e da venda da posição da PT na Vivo e na posterior compra da Oi.
Se se confirmar esta versão, há quatro conclusões a tirar:
Primeiro: uma reviravolta na investigação com dados novos e de um enorme impacto;
Segundo: a acusação de corrupção sobre José Sócrates, considerada até agora a acusação mais difícil de provar, ganha uma maior consistência;
Terceiro: esta investigação poderá agora estar a chegar ao fim, com acusações a recair, entre outros, sobre José Sócrates e Ricardo Salgado.
Quarto: que podemos estar perante o primeiro caso de corrupção de um PM.
Mesmo assim, há que aguardar com prudência: primeiro, porque o processo ainda não é público; depois, porque não há ainda pessoas acusadas e muito menos condenadas.
DÉFICE MAIS BAIXO
Primeiro: o défice mais baixo da democracia.
O PM anunciou no Parlamento que o défice de 2016 ficará nos 2,3% ou até abaixo deste valor. É um excelente resultado. Abaixo de todas as previsões. Abaixo da meta prevista no Orçamento. Abaixo do objectivo imposto por Bruxelas. Uma boa notícia para Portugal e para o Governo.
Segundo: sair do procedimento de défice excessivo.
Este resultado vai permitir que Portugal saia, daqui a alguns meses, do Procedimento por défice excessivo. O que é que isto significa? Que Portugal deixará de ser visto como um país incumpridor das regras europeias;
E isto tem claras vantagens: dá confiança aos investidores; pode ajudar a melhorar o rating da República; pode contribuir para baixar os juros da dívida.
Terceiro: má apresentação pública.
Apesar de ser um excelente resultado, o Governo não o soube valorizar. Este anúncio até passou relativamente despercebido. Porque o Governo cometeu um erro político e comunicacional enorme: divulgou este resultado no mesmo debate em que se falou da TSU.
Conclusão: a TSU abafou o debate e ofuscou o défice. Um Governo, que em matéria de propaganda costuma ser muito profissional, desta vez foi de um enorme amadorismo. Perdeu uma boa oportunidade para afirmar uma boa impressão.
O DEBATE DA TSU
Genericamente o debate na AR sobre a TSU foi fraco, foi repetitivo e sem novidade. Há, todavia, dois destaques:
Destaque pela negativa – António Costa. Desta vez António Costa não esteve nada bem. Esteve sempre à defesa; foi muito encurralado pelo PCP e BE; não foi capaz de valorizar nem o resultado do défice nem o acordo de concertação social. Claramente, o PM estava naqueles dias em que não se deve sair de casa. Tudo corre mal. E o debate correu-lhe mal.
Destaque pela positiva – Assunção Cristas. Descontando alguns exageros de linguagem, a líder do CDS, nesta matéria da Concertação Social e da TSU, esteve francamente bem: foi firme; foi coerente; e fez oposição com espírito construtivo.
Foi firme ao criticar o Governo, e bem, por não ter assegurado que o acordado na concertação social seria aprovado no Parlamento;
Foi coerente ao anunciar que se abstinha na AR em relação à TSU, tal como já o tinha feito no ano passado;
Fez oposição com espírito construtivo, porque anunciou uma solução para ultrapassar este impasse. É que a luta política é muito bonita mas, se não houver uma solução, quem se lixa é o mexilhão. E aqui o mexilhão são as PME e as IPSS.
Fim da história. Na próxima semana chumbará no Parlamento o Decreto-Lei do Governo;
A seguir, haverá mesmo um plano B, para compensar as IPSS e as PME.
CRISE POLÍTICA À VISTA?
Não vai haver qualquer crise política. Por três razões simples:
O caso da TSU não tem dimensão suficiente para provocar uma crise;
Quem provocasse uma crise seria penalizado nas urnas;
Abrir uma crise seria, do ponto de vista financeiro, um desastre para o país.
Posto isto, o que se passou é um ensaio. Um sinal das diferenças que vamos ter no futuro. É fácil explicar:
Primeiro: este ano, a vida política vai ser mais radicalizada. Porque é um ano de eleições. E em ano eleitoral o radicalismo sobe sempre de tom.
Segundo: vão surgir mais divergências na geringonça. Porque PCP e BE querem fazer prova de vida. Mostrar a sua autonomia em relação ao Governo.
Terceiro: o PSD vai radicalizar o discurso e acantonar-se mais à direita. Anima os seus incondicionais mas perde o eleitorado moderado do centro. Fica mais motivado nas suas hostes. Mas com menos eleitores.
Quarto: o PS vai tentar ocupar o centro, na perspectiva de que, quando ocorrerem eleições, poder ter uma maioria absoluta.
PSD E CDS ZANGADOS EM LISBOA?
Acabou a ideia de coligação entre PSD e CDS em Lisboa. Desta forma acabou também a coabitação pacífica entre os dois partidos. Estão agora de costas voltadas um para o outro.
Há um ditado popular que explica tudo isto: o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.
Há muitos meses que PSD e CDS se deviam ter entendido para uma coligação em Lisboa, liderada pelo
PSD por ser o maior partido.
Como nunca falaram a sério disso, Assunção Cristas antecipou-se ao PSD e agora o PSD não tem hipóteses de ter um candidato forte.
Temos assim uma Certeza e um Dúvida.
- Uma Certeza: Fernando Medina já está eleito. Falta apenas saber qual a dimensão da sua vitória.
- Uma Dúvida: saber quem fica em segundo e em terceiro lugar. É Assunção Cristas? Será o candidato que o PSD há-de ter?
E isto vai ter influência no resto do país. É que o que se passa em Lisboa tem uma influência enorme nas várias eleições pelo país fora.
A ERA TRUMP
Começou mal. O discurso de posse é divisionista, populista, isolacionista, proteccionista. O que prova o quê? Trump presidente é igual ao Trump candidato.
Desconfio que a sua presidência vai ser um susto.
No plano político, vai agravar as divisões dentro da América;
No plano económico, o recurso a medidas proteccionistas, a uma América mais fechada sobre si própria e menos aberta ao mundo, só pode prejudicar a economia mundial;
No plano internacional, vai cortar com as amarras do passado. Os Estados Unidos da América são a superpotência que há várias décadas garante a ordem internacional. Tudo isso pode estar em causa. Na Europa, na NATO, na relação com a China ou na relação com a Rússia.
Uma certeza – Dificilmente fará mais do que um mandato. E mesmo assim um mandato cheio de sobressaltos.
Uma dúvida – Quem lhe sucederá? Será que Obama pode voltar? Sai da presidência novíssimo. Sai da presidência altamente popular. E sai da presidência cheio de vontade de ficar.
IRAQUE RETIRA EMBAIXADOR
Esta é a solução possível. Entre o ideal e o péssimo, houve um meio-termo. O melhor possível.
O ideal seria tratar os filhos do Embaixador como qualquer outro cidadão – serem julgados, provavelmente condenados e pagarem as correspondentes indemnizações ao jovem lesado;
O péssimo seria não acontecer nem uma coisa nem outra;
O meio-termo foi este: a família foi ressarcida; os jovens agressores escaparam à justiça portuguesa; mas o Embaixador foi obrigado a sair.
Segundo apontamento – Portugal não podia fazer mais do que aquilo que fez. Porque a imunidade diplomática existe nas leis internacionais e Portugal não podia impedi-la.
O Governo português agiu bem. foi firme e do princípio ao fim do processo não vacilou. A prova está neste facto:
- O Embaixador sai de Portugal para se antecipar à expulsão, que seria humilhante.
Nota final:
Segundo informações ainda confidenciais, os resultados do PIB do quarto trimestre são francamente bons. Melhores do que se esperava.
O crescimento do PIB em 2016 poderá, assim, ficar acima dos 1,2% previstos – algo entre 1,3% e 1,4%.
Esta é a solução possível. Entre o ideal e o péssimo, houve um meio-termo. O melhor possível.
O ideal seria tratar os filhos do Embaixador como qualquer outro cidadão – serem julgados, provavelmente condenados e pagarem as correspondentes indemnizações ao jovem lesado;
O péssimo seria não acontecer nem uma coisa nem outra;
O meio-termo foi este: a família foi ressarcida; os jovens agressores escaparam à justiça portuguesa; mas o Embaixador foi obrigado a sair.
Segundo apontamento – Portugal não podia fazer mais do que aquilo que fez. Porque a imunidade diplomática existe nas leis internacionais e Portugal não podia impedi-la.
O Governo português agiu bem. foi firme e do princípio ao fim do processo não vacilou. A prova está neste facto:
- O Embaixador sai de Portugal para se antecipar à expulsão, que seria humilhante.
Nota final:
Segundo informações ainda confidenciais, os resultados do PIB do quarto trimestre são francamente bons. Melhores do que se esperava.
O crescimento do PIB em 2016 poderá, assim, ficar acima dos 1,2% previstos – algo entre 1,3% e 1,4%.