Opinião
Pitaias, ou a lata neossocialista
Cada vez os mais pobres da Zona Euro, temos 22% dos portugueses em privação material severa, em perigo de exclusão social. Isto com uma carga fiscal distributiva cada vez mais pesada para um país com o nosso rendimento.
A FRASE...
"Esta crise foi o maior atestado de falhanço das visões neoliberais. Todos os instrumentos do Estado social revelaram-se absolutamente cruciais, nomeadamente o SNS, a escola pública e os mecanismos de proteção social que têm sido indispensáveis."
António Costa, Público, 5 de março de 2021
A ANÁLISE...
Não se conhece nenhum pensador nem visão neoliberal, mas sim liberais e visões liberais, das boas. Como a da Irlanda liberal que gastou 5% do seu PIB em medidas fiscais de apoio e proteção social na resposta à pandemia, ao contrário de Portugal que só gastou 3%, o terceiro pior país europeu a apoiar os seus cidadãos. Ou a visão da Alemanha e de França onde o SNS junta público e privado e ninguém fica perdido em listas de espera por não ter dinheiro para um seguro de saúde, sem necessitar de saber a propriedade do hospital. Mais próximos da Alemanha daqui a cinco anos, diz o PM. Na saúde, nem por isso. Quando um dia se fizer o balanço desta epidemia e os meios utilizados, poder-se-ão contar as mortes desnecessárias por cegueira ideológica, por não se utilizar toda a capacidade hospitalar privada disponível, para tratamento de doenças mortais não covid, praticamente ignoradas. Ou como a visão liberal sueca, onde os pais podem livremente escolher a escola dos seus filhos, pública ou privada, sem terem de ser ricos, como em Portugal, onde a escola pública falhou todas as promessas de meios digitais aos alunos para as aulas à distância. Porque o Estado é uma criação liberal, e a assistência social moderna e o SNS foram criados por Lord Beveridge membro do Partido… Liberal.
Infelizmente não temos por cá desses liberais no Governo, temos neossocialistas ou, se preferirem, pitaias, aquele fruto rosa por fora e amargo por dentro. Dos que dizem acabar com a austeridade e continuam a política da troika de défice zero, com cortes brutais na cultura e no investimento público ao valor mínimo do século, destruindo instituições por mera conveniência ou clientelismo. Dos que vendem o Novo Banco a um fundo-abutre com um cheque de 3,9 bi se quiserem gastar, agindo sempre como se nada tivessem a ver com o assunto. As políticas neossocialistas governam Portugal há 25 anos, com três de interrupção do pântano e quatro sob a troika. Cada vez os mais pobres da Zona Euro, temos 22% dos portugueses em privação material severa, em perigo de exclusão social. Isto com uma carga fiscal distributiva cada vez mais pesada para um país com o nosso rendimento. Quem com a mesma experiência espera resultados diferentes…
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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