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10 de Maio de 2017 às 19:24

Fátima, futebol e fado

Poucos povos aceitariam este torpor lusitano. Um país que empobrece todos os anos, nos últimos 17 anos, face à Europa, em rendimentos, salários e nível de vida, sem se revoltar ou exigir crescimento económico aos governos.

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A FRASE...

 

"(…) Numa visão simplicista sobre Portugal, o que realmente diferencia as terras lusas de outros países é Amália ou Ana Moura, Eusébio ou Ronaldo, e sempre os três pastorinhos."

 

Tilo Wagner, DN, 8 de maio de 2017

A ANÁLISE...

 

No próximo sábado 13 de maio teremos a presença do fenómeno Salvador Sobral na final da Eurovisão, a provável conquista do campeonato pelo Benfica com direito a festa no Marquês e, sobretudo, a peregrinação do Papa a Fátima com a missa na manhã desse dia. Haverá Fátima de manhã, Futebol de tarde e Fado, ou parecido, de noite. Os três F voltaram e em força, ou nunca de cá saíram.

 

Porque o povo quer festas, "Panem et circenses" já diziam os imperadores romanos, e convém estar entretido para não pensar nem se revoltar. E permanecer numa suave e prolongada letargia para ser mais fácil de ser governado. Aconteceu durante 48 anos… e ao longo da História. Não é mau, é apenas conveniente.

 

Hoje estes três F vêm a calhar. Ainda mal refeitos dos choques traumáticos de 2010/2014, PEC/troika, agrada-nos o suave encanto da narrativa do Governo. Um Governo que se assume herdeiro de Guterres como se Sócrates nunca tivesse existido, apresentando com orgulho o melhor défice de sempre, com um crescimento menor, convencendo-nos que a austeridade acabou como quem vende um casaco de peles insistindo que não se esfolou nenhum animal. E nós acreditamos porque gostamos de acreditar em coisas boas. E admiramos os nossos heróis que clamam contra os credores, os ricos e os que causaram a crise mundial só para prejudicar Portugal, "agarrem-me que eu me vou a eles…, mas agarrem-me mesmo!", e depois negociamos se eles quiserem…

 

E embalados pela prometida reposição de rendimentos, na prática um aumento abaixo da inflação esperada para 2016/2017, agradecemos. E a verdadeira reversão da austeridade, o "brutal aumento de impostos" de Vítor Gaspar, aquela que acabou porque disseram que sim, vale esquecer porque até dá jeito para as contas do défice.

 

Poucos povos aceitariam este torpor lusitano. Um país que empobrece todos os anos, nos últimos 17 anos, face à Europa, em rendimentos, salários e nível de vida, sem se revoltar ou exigir crescimento económico aos governos. Se os outros crescem e enriquecem e nós não… porquê? O resto são enganos, festas e afetos enquanto empobrecemos alegremente.

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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