Opinião
Com papas e bolos…
Temos a alegria da bola na zona dos infetados, mas não há data certa para o início das aulas, muito menos começarem mais cedo com um plano de recuperação, não se conhecem critérios de desdobramento de turmas, se é tudo presencial, nada.
A FRASE...
"Macron dá luz verde ao desconfinamento total e anuncia plano para a economia."
Jornal de Negócios, 22 de junho de 2020
A ANÁLISE...
No 3.º aniversário dos incêndios e mortes em Pedrógão Grande, tivemos uma grande cerimónia de anúncio formal da final da Champions em Lisboa. Não foi para anunciar um grande investimento criador de riqueza, um novo hospital há muito prometido ou o desconfinamento total e o regresso a uma vida normalizada, mas cautelosa, como anunciou o Presidente Macron em França, sozinho. Nem para mostrar que Pedrógão, o pinhal de Leiria ou o interior do país estão muito diferentes e mais resistentes a um incêndio, conforme prometido pelo PM, porque isso não acontece, está tudo igual.
É uma medida do país que temos, quando o Estado, através das suas mais altas individualidades, fica extasiado e feliz com um evento que junta 8 equipas em 7 jogos, sem público, sem efeito real na economia via turismo. Porque se tiverem público, duas semanas depois dum campeonato nacional jogado em estádios desertos, com problemas crescentes de contágio em Lisboa, andam a gozar com o pagode. Diz o Presidente que é uma divulgação extraordinária da cidade de Lisboa e isso justifica a pompa e a alegria… na pequenez.
Temos a alegria da bola na zona dos infetados, mas não há data certa para o início das aulas, muito menos começarem mais cedo com um plano de recuperação, não se conhecem critérios de desdobramento de turmas, se é tudo presencial, nada. Apenas promessas de computadores para o online e que ficarão por aí, promessas. As escolas privadas que conheço têm plano de recuperação, começam mais cedo e preocupam-se com os alunos, mas apenas em benefício de quem tem dinheiro para as pagar. O elevador social da educação em Portugal apenas desce.
Na saúde pública, como o SNS não dá para tudo, fecha quase em exclusivo para a covid-19. O fantasma de Pedrógão na saúde, com visões de pessoas infetadas a morrer por falta de assistência, secundarizou as outras doenças. Assim, em três meses foram adiadas 1,4 milhões de consultas médicas, 51 mil cirurgias, das quais 2.500 de doentes com cancro que já estavam em listas de espera, isto para os mais pobres da nossa sociedade que não têm ADSE ou seguros de saúde. O Estado contratualizar com privados minorar o sofrimento dos pobres? Nem pensar, dirá o Bloco. Aguentem! A ideologia fala mais alto.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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