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Opinião
08 de Outubro de 2020 às 10:20

Atracção para o abismo

As polarizações em política resultam de medos que se justificam pela percepção da vulnerabilidade ou pela evidência da superioridade competitiva dos outros. O outro é uma ameaça porque implica a consciência da fraqueza própria.

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A FRASE...

 

"Se o que une muitas pessoas bem à esquerda (ou à direita) é o medo do extremismo de direita (ou de esquerda), então valerá a pena moderar os nossos próprios votos e apoios." 

 

Ricardo Reis, Expresso, 3 de Outubro de 2020 

 

A ANÁLISE...

 

As ilusões em política não se formam por acidente, por erro ou por conveniência, elas servem para esconder a realidade ou para desviar as atenções quando se trata de identificar os responsáveis pela formação de crises económicas ou políticas. Investigando a ilusão, encontra-se o que se quer ocultar.

 

As polarizações em política não acontecem por força de convicções opostas ou por visões do mundo alternativas. As polarizações em política resultam de medos que se justificam pela percepção da vulnerabilidade ou pela evidência da superioridade competitiva dos outros. O outro é uma ameaça porque implica a consciência da fraqueza própria.

 

Onde houver ilusão política e polarização política haverá circularidade de reforço mútuo. Cada ilusão gera novas ilusões, como cada mentira gera novas mentiras para encobrir as mentiras anteriores. E cada oposição gera a justificação da outra oposição, cada uma querendo evitar a subordinação ao que mostra ser mais forte ou mais favorecido pelas circunstâncias.

 

A peste leva as ilusões e as polarizações às suas formas extremas. Um acidente da natureza revela os limites do poder e isso conduz à produção de ilusões, cada um querendo provar que é mais eficiente que todos os outros no controlo da ameaça. E daqui decorre o reforço da polarização, porque é preciso explicar os fracassos e os erros da ilusão do poder através da denúncia dos obstáculos colocados pelos que estão no outro lado da polarização.

 

Nas eleições presidenciais americanas, o nacionalismo proteccionista e a supremacia branca defendidos por Donald Trump são ilusões polarizadoras mais desafiadas pela peste do que pelo candidato democrata. Não tendo uma vacina antes das eleições, Trump escolhe a ilusão de negar a peste rejeitando as indicações médicas, porque essa é a condição para poder dizer, se perder as eleições, que não foi derrotado pelo opositor mas sim pela peste - o que permitirá que o seu lado da polarização continue a defender o nacionalismo protecionista e a supremacia branca ou mesmo impugnar o resultado das eleições.

 

Para não se cair no abismo da ilusão e da polarização em política é preciso defender o pluralismo democrático. Em política, ninguém tem razão sozinho.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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