Opinião
A realidade efectiva das coisas
A resposta à crise económica só pode ser encontrada se for interiorizado o exterior - isto é, se as escolhas internas reconhecerem como prioridade a satisfação das normas de competitividade nos mercados externos.
A FRASE...
"Dinheiro a fundo perdido da UE não é de borla, é dívida a pagar aos mercados."
Rui Baleiras, Diário de Notícias, 8 de Maio de 2021
A ANÁLISE...
A crise económica desencadeada pela peste da covid-19 vai continuar em processo de amplificação enquanto não se considerar controlada a crise sanitária. E quando se chegar a esse diagnóstico de normalização sanitária, não se vai encontrar a normalidade das economias nem as tendências económicas que existiam em 2019. A recuperação das economias não poderá ser pensada e programada se não for reconhecido que a natureza desta crise económica é a de uma descontinuidade que não permite voltar ao padrão anterior. É para esta nova realidade efectiva das coisas que devem ser pensadas as novas estratégias e as novas atitudes, tanto no plano das competitividades comparadas como no plano das reivindicações que podem ser expressas nesse novo campo de possibilidades.
Para a economia portuguesa, esta é a oportunidade para corrigir os erros e as ilusões que se acumularam nas últimas duas décadas, em que a economia não cresceu e a dívida foi utilizada para sustentar políticas distributivas que não tinham contrapartida em melhoria da posição competitiva ou em capacidade de atracção de investimento externo. O que a crise sanitária destruiu já não era sustentável, mas continuaria a existir por inércia dos interesses que se organizaram em função da ilusão se o acidente sanitário não tivesse vindo afastar o manto diáfano da fantasia. Nada que não se soubesse ou que não se tivesse a obrigação de saber.
Na nova realidade efectiva das coisas, já não será possível procurar a defesa do nacionalismo proteccionista, porque o mercado interno não gera recursos para financiar as políticas distributivas, e a gestão da dívida não seria possível se fossem criadas unilateralmente barreiras proteccionistas. A resposta à crise económica só pode ser encontrada se for interiorizado o exterior - isto é, se as escolhas internas reconhecerem como prioridade a satisfação das normas de competitividade nos mercados externos. E a gestão da dívida pública só terá sucesso se for reconhecido que também as transferências financeiras da União Europeia são dívida financiada nos mercados e são responsabilidades assumidas pelos Estados-membros. O futuro não vai ser a continuação do passado.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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