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30 de Julho de 2019 às 09:30

Do fim para o princípio

Donald Trump, Boris Johnson e Vladimir Putin encerram uma fase da evolução da União Europeia, que continua a ser necessária, mas terá de ter outra forma política. A União Europeia do Tratado de Lisboa chegou ao fim.

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A FRASE...

 

"Rir-se de Boris não é uma estratégia."

Teresa de Sousa, Público, 28 de Julho de 2019

 

A ANÁLISE...

 

É quando uma forma política chega ao fim que melhor se pode avaliar a sua natureza. A construção das instituições da União Europeia teve sempre um problema com a Grã-Bretanha, porque este foi o império europeu que não se resignou a reconhecer o seu fim. Enquanto os outros impérios europeus interpretaram as consequências da Segunda Guerra Mundial como tornando necessário o projecto de uma união europeia de Estados pós-imperiais, o Reino Unido conservou a sua nostalgia imperial, alimentada pela ilusão de que poderia estabelecer uma relação privilegiada com a sua antiga colónia norte-americana.

 

Quando, em 1973, decide abandonar a EFTA e integrar a Comunidade Europeia, o Reino Unido deu o passo necessário para poder ser um dos doze membros fundadores da União Europeia em 1992, mas não resolveu a sua nostalgia imperial, que se revelou em Junho de 2016, quando 51,9% dos eleitores em referendo votaram pela saída da União Europeia. A nostalgia imperial britânica (ou só inglesa, porque sem o apoio da Escócia e da Irlanda) foi mais potente do que a racionalidade estratégica europeia. Esta ilusão do passado imperial dos ingleses combina-se com a inesperada nostalgia da supremacia branca nos Estados Unidos, uma ilusão que precisaria de uma guerra civil para se concretizar, mas que já teve efeitos reais na nova política externa americana de nacionalismo isolacionista, de divisão e enfraquecimento da União Europeia e de afastamento da NATO. As nostalgias do passado de ingleses imperiais e de americanos brancos combinam-se para satisfazerem a nostalgia russa do império soviético ao oferecerem a Putin a oportunidade de se vingar da queda do Muro e do fim do Pacto de Varsóvia.

 

Donald Trump, Boris Johnson e Vladimir Putin encerram uma fase da evolução da União Europeia, que continua a ser necessária, mas terá de ter outra forma política. A União Europeia do Tratado de Lisboa chegou ao fim. Este é o novo princípio da União Europeia. É T.S. Eliot, um poeta americano (nascido em 1888) naturalizado inglês (em 1927) que melhor caracteriza a situação actual: "O que chamamos princípio é muitas vezes o fim. E fazer um fim é fazer um princípio. O fim é de onde partimos." 

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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