Opinião
Petróleo: A Primeira Grande Vítima da Política Monetária
Como é que uma política monetária extraordinariamente generosa num contexto de baixa inflação pode provocar o colapso do preço de um produto com a importância do petróleo?
A FRASE...
"Following ultra-easy monetary policy could well backfire somewhere"
William White, Finanz und Wirtschaft, 19 de dezembro de 2014
A ANÁLISE...
A resposta é simples: a enorme distorção das taxas de juro causada por políticas monetárias extremas conduz a uma enorme distorção das decisões de investimento. No caso do mercado do crude, os custos artificialmente baixos de financiamento desencadearam uma "corrida" ao petróleo de xisto nos EUA que resultou numa expansão significativa da oferta global de petróleo. Desse modo, bastou o abrandamento da economia chinesa e da europeia para que se começassem a gerar dúvidas quanto à sustentabilidade de preços em torno de 100 dólares por barril, valor necessário para manter a viabilidade de muitas das explorações iniciadas a coberto da política monetária ultra-expansionista da Reserva Federal dos EUA que perdura desde 2008.
Com uma depreciação superior a 60% em apenas seis meses, o impacto no "setor do xisto" americano está a ser devastador. À fase de exuberante expansão seguiu-se uma de agonizante retração. Esta dinâmica ilustra de modo perfeito a maior perversão das políticas monetárias: gerar ciclos económicos de amplitude exacerbada. Mesmo que o sistema económico e financeiro global consiga resistir incólume à sangria no mercado petrolífero, fica a pergunta: quantos projetos em quantos setores foram lançados à boleia de taxas de juro comprimidas para além do limite do razoável? E quantos investidores compraram ativos financeiros a preços estratosféricos pela simples razão que há muito já não existem investimentos a preços razoáveis? Receio que o petróleo seja, somente, a ponta do icebergue.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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