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26 de Outubro de 2016 às 20:10

"Me engana que eu gosto…"

A Europa não pode passar de crise em crise. Cansa. Se a Grécia foi salva para salvar os bancos franceses e alemães, como referiu cinicamente Otmar Issing, desta vez o BCE já os salvou, como pôde.

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A FRASE...

 

"Um dia o castelo de cartas colapsará."

 

Professor Otmar Issing, Central Banking Journal, 13 de outubro de 2016

A ANÁLISE...

 

Custa ouvir um muito dececionado Otmar Issing, um dos "pais fundadores" do euro, primeiro economista-chefe do BCE e federalista convicto, comparar o edifício monetário do euro a um castelo de cartas com má gestão política. Se ele está assim, imaginem os adversários renitentes do euro…

 

A monetização da dívida pelo BCE, na prática uma mutualização da mesma, salvando o euro nesta última crise, e a baixa das taxas de juro a zero, foi sentida pelas populações europeias como uma forma de destruição das suas poupanças para salvar uns quantos "relapsos gastadores", com um risco elevado de prejuízos para o BCE a pagar pelos cidadãos europeus. Este sentimento, junto com a questão dos emigrantes, e alguma desorientação política tem dado força ao euroceticismo que ameaça os sistemas políticos da Europa Central.

 

Essa ameaça paira sobre as importantes eleições francesas e alemãs do próximo ano que podem trazer novas reconfigurações com esse mal-estar a poder estar representado nas tomadas de decisões a partir de 2018. Ou seja, durante o ano de 2017 a Europa vai tentar que não surja nenhuma crise, nada forçar, adiar mais uma vez os problemas possíveis, contemporizar, procrastinar e dizer aos países mais débeis: "Me engana que eu gosto…"

 

E 2018? Os problemas não podem ser adiados indefinidamente. A Europa não pode passar de crise em crise. Cansa. Se a Grécia foi salva para salvar os bancos franceses e alemães, como referiu cinicamente Otmar Issing, desta vez o BCE já os salvou, como pôde. O FMI avisa que só entra em "troikas" nos países do euro se puder restruturar dívida. Nem há clima político para mais resgates. Os países que não aproveitaram o euro baixo, as taxas de juros baixas e a intervenção do BCE, para fazer reformas e crescer, fizessem-nas. Aproveitemos 2017 para preparar 2018, não nos iludamos. As contas do Orçamento não são o mais importante.

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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