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Álvaro Nascimento - Economista 16 de Junho de 2021 às 20:00

Produto, ou inflação, potencial?

Apesar das quebras no consumo, as famílias amealharam poupanças que podem ser direcionadas para rubricas da despesa que momentaneamente estiveram “indisponíveis”.

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A FRASE...

 

"O trabalho árduo começa agora."

Ursula von der Leyen, Jornal de Negócios, 16 de Junho de 2021 

 

A ANÁLISE...

 

Com a rápida recuperação da atividade económica que se espera um pouco por todo o mundo, e também em Portugal, à medida que as economias vão gradualmente saindo do confinamento, o momento é de grande otimismo, ainda que com riscos. O pacote de apoios que finalmente a União Europeia pôs em marcha adiciona estímulos positivos e é expectável que, no muito curto prazo, se anulem as perdas de produção que ocorreram com a pandemia e, se bem usados, os fundos têm condições para aumentar o produto potencial.

 

Durante quase dois anos viveram-se períodos de grande artificialidade. Desafiando a ortodoxia macroeconómica, numa das raras vezes da História, verificou-se uma situação em que o produto e o rendimento perderam qualquer ligação. Os rendimentos foram mantidos através do aumento do valor e do prolongamento da maturidade da dívida (pública e privada). Ao mesmo tempo, em vários setores, a atividade esteve suspensa, não oferecendo qualquer sustentação real ao poder de compra que foi permitido manter às famílias.

 

A continuação da procura permitiu escoar stocks e abre agora a necessidade de repor níveis de produção. Ao mesmo tempo, apesar das quebras no consumo, as famílias amealharam poupanças que podem ser direcionadas para rubricas da despesa que momentaneamente estiveram "indisponíveis". Como se depreende, estímulos duplamente positivos para que a economia possa crescer mais nos próximos tempos, como de resto o Banco de Portugal o acaba de reconhecer.

Os sinais de curto prazo são muito positivos e beneficiam, seguramente, o comportamento e as expectativas dos agentes económicos. Contudo, macroeconomicamente, a dívida (pública e privada) encontra-se em níveis mais elevados, colocando sobre a produção futura o ónus de gerar excedentes suficientes para liquidar as responsabilidades assumidas, a menos que o fenómeno monetário - i.e. a inflação - seja capaz de anular o valor dos empréstimos, prejudicando os investimentos e, indiretamente, operando uma redistribuição da riqueza. Se não ocorrer o esperado aumento do produto potencial, o efeito nominal (inflação) será muito provavelmente dominante.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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