Opinião
Fora de jogo
Quando é que as autoridades nos vão presentear com quadros para um negócio mais transparente e competitivo, tal como é o jogo dentro das quatro linhas? Até lá, haverá mais episódios desta sequela, cuja capitulação ainda iremos compreender melhor!
A FRASE...
"Somos o futebol europeu. Eles não são."
UEFA, Público, 20 de Abril de 2021
A ANÁLISE...
Este artigo esteve para ter como título "Competição fora das quatro linhas", para fazer justiça a um estudo com já alguns anos patrocinado pela Liga Portuguesa de Futebol, sobre a sustentabilidade do desporto-rei. Alguns leitores dirão que os temas da bola não nos deveriam entreter nesta coluna de opinião, resistindo às vaidades reservadas a clubites e outras manifestações de afeto.
O futebol profissional há muito que deixou de ser um tema economicamente irrelevante. Tem implicações muito mais profundas que as simples reações de adeptos a rasgar as vestes por violação de verdade desportiva. O episódio recente só revela o mau desenho institucional das competições e o seu aproveitamento para fins e negócios milionários. Num momento em que tanto se fala de desigualdades, a profunda assimetria na distribuição de poder e de receitas pelos clubes é um assunto que nos deveria pôr a pensar.
Os negócios do futebol apresentam o que os economistas chamam de externalidades de rede, à semelhança de outras indústrias, como as telecomunicações, para dar apenas um exemplo. Que me recorde, apesar de suscetíveis de originar rendas económicas, nada tem impedido nestas a criação de um quadro concorrencial. Há instrumentos para o efeito, mais ou menos perfeitos. A única coisa exigida ao Estado é uma regulação forte, anulando desequilíbrios e socializando benefícios - ou seja, impedindo a privatização das rendas.
No negócio do futebol profissional, apesar de nos ser apresentado o contrário, as rendas existem e estão apropriadas sendo distribuídas de forma incoerente e desequilibrada. Reflexo disto são os clubes e jogadores milionários... e todos os outros! A saída de alguns clubes - que, entretanto, se transformou num regresso - com a participação da alta finança, sugere que as rendas devem ser bem interessantes, para valer a pena toda esta maçada.
Resta-me a questão, quando é que as autoridades nos vão presentear com quadros para um negócio mais transparente e competitivo, tal como é o jogo dentro das quatro linhas? Até lá, haverá mais episódios desta sequela, cuja capitulação ainda iremos compreender melhor!
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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