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23 de Abril de 2020 às 09:40

Fisga ou bazuca?

O BCE faz o que lhe compete: coloca a liquidez às portas do Estado e das grandes empresas. Faz falta o passo seguinte: distribuir o dinheiro pela economia e criar emprego. As respostas não são óbvias. Mas, se não formos sábios, a “bazuca” não passará de uma “fisga”!

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A FRASE...

 

"Aí ficaremos a saber se temos uma bazuca ou uma fisga para combater a crise económica."

António Costa, Observador, 11 de Abril de 2020

A ANÁLISE...

 

Foi a economia de mercado, e não a política Keynesiana, que estimulou o crescimento económico recente durante o governo da geringonça. Há uns anos, numa das regulares idas a Lisboa, um taxista dizia-me que não há política económica mais democrática que o turismo. Como me explicava, cada turista é um agente distribuidor de dinheiro: nos táxis, nos restaurantes, nas excursões... Enfim, uma panóplia de pequenos negócios, pouco exigente de investimento e, como dizem os economistas da concorrência, com baixas - e, que me lembre, mais das vezes inexistentes - barreiras à entrada.

O negócio do turismo floresceu à medida que as companhias de aviação encontraram a rota de Lisboa e Porto. Com o reforço das ligações, a oferta respondeu de forma rápida à procura de mercado. Para que melhor se perceba, cada turista funcionou como um "carteiro" portador de liquidez do estrangeiro, numa economia em que a eficácia da política monetária era já reduzida e a política orçamental, sem grande margem para manobra, seguia um rumo de cativações e cortes de investimento.

Foi como se o dinheiro tivesse vindo, não de helicóptero - como o BCE chegou a admitir - mas de avião, nos bolsos de cada turista, para ser entregue diretamente onde mais faltava. No fim, de bolsos vazios e missão cumprida, cada um regressava a casa e recomendava a aventura! Em retrospetiva, melhor que à "bazuca" do Banco Central Europeu, cujos disparos, por vezes, não passam de uma mera "fisga": escapou-se ao canal de transmissão da política monetária e evitaram-se as perdas que lhe são comuns.

Desta vez, com os aviões parados e os aeroportos fechados, que alternativa nos resta para pôr democraticamente dinheiro na economia? Leia-se, como encher de modo rápido os bolsos de cada um e promover a atividade económica, usando os incentivos adequados?

O BCE faz o que lhe compete: coloca a liquidez às portas do Estado e das grandes empresas. Faz falta o passo seguinte: distribuir o dinheiro pela economia e criar emprego. As respostas não são óbvias. Mas, se não formos sábios, a "bazuca" não passará de uma "fisga"!

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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