Opinião
Uber
O "caso" Uber é revelador das mudanças operadas pelas novas tecnologias e da típica reação de quem não as entende e imagina poder resistir ao inevitável.
O que temos então? Um serviço de táxis convencional, globalmente de péssima qualidade, com muitos veículos velhos e sujos, motoristas mal-educados, agressivos por vezes, frequentemente aldrabões. Quem não teve já uma má experiência num táxi? Quem não foi já enganado?
A "classe" nunca se preocupou em melhorar o serviço. Apesar dos repetidos alertas, das queixas, dos sistemáticos incidentes nos aeroportos, ninguém fez nada. Não fizeram os taxistas. Não fizeram as autoridades.
O problema não é português, mas mundial. Por uma qualquer razão peculiar a profissão de taxista tende a atrair gente malformada. E, no entanto, trata-se de um serviço público de grande responsabilidade que deveria exigir um código de conduta, um tratamento educado dos clientes, higiene, regras de segurança na condução. Tudo isto existe no papel, mas ninguém se interessa pelo assunto. Não só por cá, mas praticamente em parte alguma.
Perante esta realidade alguém teve a ideia de saltar para fora da caixa. Criada em 2009, a Uber depressa alastrou a muitos países e é já hoje responsável por uma considerável percentagem dos serviços de transporte individual. É preciso entender que a Uber não é em si mesmo um serviço de transporte, mas uma aplicação para telemóveis que permite a qualquer pessoa contratar outra para a levar de um lado para o outro. Uma espécie de boleia paga. Mas uma boleia regulada, de base tecnológica, que usa smartphones e GPS de forma a poder servir melhor o cliente. Na Uber eu sei que carro e que motorista me vêm buscar, quando exatamente e quanto tenho de pagar. E não pago diretamente o que evita confusões. Não há gorjetas, esse velho resquício degradante e senhorial.
Na realidade a Uber é um algoritmo. Que tem por base a tecnologia chamada P2P ("peer-to-peer", em português par a par ou ponto a ponto) ainda que numa versão hierarquizada. P2P é uma rede distribuída que permite ligações entre os "pontos" sem necessidade de um servidor central. Foi isto que levou, por exemplo, à criação de sites de partilha de dados, vídeos, músicas, etc… Porque, na verdade, neste tipo de rede um jovem está simplesmente a "emprestar" uma música a um amigo. Não há nada de ilegal nisso. Como não pode haver nada de ilegal se alguém me dá boleia para ir ao aeroporto. Mesmo paga.
É isto que os taxistas não entendem e ao que parece o atual ministro do Ambiente, vá-se lá saber por que razão é responsável pelos táxis, também não entende. As suas declarações são reveladoras. Disse no Parlamento que a Uber não é uma empresa de transportes. Grande novidade. Pois não. É precisamente esse o assunto. A Uber, e outras aplicações do género que já existem, por exemplo, na restauração, viagens, etc…, representam um novo tipo de serviço de mediação que permite a negociação direta entre as partes e não está, nem pode estar, sujeito ao controlo de qualquer entidade estatal.
Por isso a revolta dos taxistas, assim como a falta de informação do ministro, não poderá ter qualquer consequência. Podem recorrer à violência, aos tribunais, eventualmente a multas, e está por saber como se multa alguém só por transportar outra pessoa na sua viatura.
Mas trata-se de uma guerra definitivamente perdida. O sistema Uber vai tornar-se comum eventualmente com uma única diferença, quem tem uma viatura própria e quem tem várias, ou seja, se o serviço é individual ou empresarial. De resto, vamos passar a "chamar" o transporte por telemóvel, poder ver a cara do motorista e o interior da viatura, combinar a hora e o local para onde queremos ir.
Espera-se, portanto, que os políticos se atualizem e entendam que a Uber e outras iniciativas do género representam uma nova forma de economia que, em vez de combater, é preciso estimular. Aliás, a Uber está a criar muitos postos de trabalho.
Uma coisa é certa. Os políticos têm de perceber que não sendo a Uber ilegal também não é preciso criarem mais leis que só condicionam a liberdade e a iniciativa das pessoas. Deixem a evolução fazer o seu caminho.
Artista Plástico
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