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Opinião
03 de Maio de 2016 às 19:53

Um novo ar que se respira?

Os problemas continuam: os portugueses estão sujeitos aos sacrifícios impostos por uma impiedosa consolidação das finanças públicas; continuamos expostos aos constrangimentos decorrentes da existência de um "deficit" excessivo.

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Nos últimos tempos temos tido algumas mudanças bem significativas que se têm traduzido numa onda de moderado otimismo manifestada nas celebrações do 25 de Abril e culminando no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa: o seu dinamismo contagiante; a sua preocupação com a estabilidade a todos os níveis; a incisiva defesa da Constituição da República, a apologia da "descrispação" política e social. E depois, a "geringonça" funciona dando lições de pragmatismo e provas de uma resiliência em que poucos acreditavam. Daí que exista um novo ambiente na sociedade, um novo ar que se respira.

 

De resto, os problemas continuam: os portugueses estão sujeitos aos sacrifícios impostos por uma impiedosa consolidação das finanças públicas; continuamos expostos aos constrangimentos decorrentes da existência de um "deficit" excessivo; existe externamente uma suspeita generalizada sobre a consistência da nossa solução governativa; o apelo ao compromisso feito pelo PR já foi rejeitado pelo principal partido da oposição; o nosso sistema financeiro a passar de crise em crise ou de escândalo em escândalo sem que seja possível lobrigar uma solução credível e sustentável.

 

Estamos a entrar num período particularmente sensível: o da execução do OE16 sobre o qual não se têm vindo a atenuar as críticas iniciais: desde as incertezas que recaem sobre o cenário macroeconómico de partida, que pode condicionar receitas e despesas e assim pôr em risco vários equilíbrios fundamentais, até à falta de recursos, capital à frente de todos os outros, que têm marcado a economia nacional nas últimas décadas. Sem capital não pode haver crescimento e sem crescimento todas as tentativas de equilíbrio sustentável se arriscam a soçobrar. Porque o nosso verdadeiro problema, aquele que nos estrangula e pode eliminar todos os esforços, reside em duas variáveis fundamentais e interligadas: a dívida interna e externa, pública e privada mais os seus custos e a escassez de capital - por causa da dívida, potenciais investidores, olham-nos com desconfiança e, sem crescimento, mesmo que sejamos poupadores exemplares, andaremos a pagar a dívida durante muitas décadas sem resolver satisfatoriamente o problema do empobrecimento e do desemprego. Tudo isto é sabido e tudo olimpicamente ignorado. E sobre isso pouco podemos fazer apesar da alternativa das propostas do Governo marcando diferenças para as precedentes; a nossa margem de manobra é reduzida; dependemos da flexibilidade e da boa vontade dos credores; dependemos sobretudo da política que Bruxelas, Frankfurt e Berlim resolverem adotar perante esse travão ao nosso desenvolvimento.

 

Felizmente não estamos sós. Por razões que nem sempre são as mesmas os problemas do "deficit" e da dívida existem noutros membros da Zona Euro e a Europa podia por uma vez encarar seriamente as questões como um todo, tendo em conta que muitos dos problemas que se põem aos Estados-membros também têm que ver com a forma, talvez precipitada, como o euro foi lançado.

 

Tenhamos esperança que os sinais dos mercados, a posição da DBRS ao considerar que a dívida pública portuguesa é investimento e, por fim, essa possível flexibilidade do Eurogrupo perante a situação portuguesa justifiquem o aliviar da nossa atitude, alternadamente depressiva ou resignada e nos permitam o luxo de aproveitar aquela ténue onda de otimismo que nos pôs a sorrir no 25 de Abril.

 

Economista. Professor do ISEG/ULisboa

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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