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20 de Setembro de 2016 às 20:35

A Europa atarantada

Além de todos os problemas que está a levantar, o Brexit pode transformar-se na oportunidade de a UE se repensar e traçar a estratégia que há anos lhe falta. Mas está tudo preso por fios.

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Nota: Este artigo está acessível, nas primeiras horas, apenas para assinantes do Negócios Primeiro.

 

A Europa descobriu a fórmula que, não significando nada de substancial, serve para tudo. Entrou numa "crise existencial", maneira edulcorada de se referir ao atordoamento pós-Brexit e ao estado de semiparalisia em que ficou por todas as crises que vai adiando e cuja solução, cada dia que passa, se vai transformando num quebra-cabeças mais difícil de resolver.

 

Mas essas crises têm nome e não podem ser varridas para baixo do tapete com estados de alma: a falta de liderança, o crescimento perturbadoramente baixo da Zona Euro durante a última década, a desigualdade entre os Estados-membros, a formação de vários clubes mutuamente exclusivos, a união monetária incompleta que a crise do euro transformou numa relação entre devedores e credores, o reacendimento dos populismos e dos nacionalismos, a coisa nova que é o terrorismo islâmico, a fratura gerada pelos imigrantes e os refugiados, a guerra na Síria e a situação sempre explosiva do Médio Oriente, a Ucrânia… 

 

Não são temas que se possam esconder atrás de um qualquer biombo de palavras vazias. A reunião informal dos 27, em Bratislava, deixou um amargo de boca e perplexidade aos que ainda se preocupam com a recuperação da União Europeia e que, iludidos, creem ser possível ir resolvendo uma a uma as crises que a atormentam. Nada disso. Publicamente o que se soube pelos comunicados e conferências de imprensa foi que a diversidade de pontos de vista se sobrepôs ao consenso e à urgência de encarar de frente os problemas. Os nossos líderes fizeram uma pega de cernelha: acordo mesmo só sobre a necessidade de adotar uma estratégia de defesa e segurança comum. Demasiado pouco para as necessidades e para as expectativas geradas.

 

Além de todos os problemas que está a levantar, o Brexit pode transformar-se na oportunidade de a UE se repensar e traçar a estratégia que há anos lhe falta. Mas está tudo preso por fios. É altura de os sinos tocarem a rebate. É cada vez mais difícil estabelecer consensos e cada dia que passa é um dia perdido: em vez de estratégia, os líderes que por enquanto nos governam perdem-se em contas de percentagens de PIB e dos dias que faltam para as suas eleições. Assim não vamos lá. Assim começam a ter razão aqueles que há muito, por argumentos subtilmente diferentes, agoiram o fim da UE. Parece que estamos a fazer tudo para que as suas teses saiam vencedoras esquecendo que nós estaremos no fim da linha e seremos as vítimas dessa inação. A União constrói-se com pontes, com compromissos, com negociações. Com "diktats" e muros estamos no caminho certo para o desfazer da União. 

 

A Europa está em fase de negação. O atentismo paralisa, mata qualquer projeto ou iniciativa. E ironia das ironias, sintoma gritante de impotência e incapacidade, a proclamação convicta do presidente Juncker: existe uma "coincidência no diagnóstico". Ao presidente da Comissão Europeia seria difícil dizer melhor que, por agora, não sabe o que há de fazer!

 

 

Economista. Professor do ISEG/Universidade de Lisboa

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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