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José Maria Brandão de Brito - Economista 18 de Outubro de 2016 às 21:15

Uma estratégia para Portugal

O OE de 2017 cumpre as metas e as regras por que tem de se reger no quadro da UEM e o OE de 2016 fica, finalmente, com o deficit abaixo dos 2,5% do PIB como prescreve Bruxelas.

Isto significa que este Governo conseguiu inverter a maldição dos deficits excessivos e que o problema, se não acontecer nada de extraordinário neste mundo volátil em que nos movemos, começa a estar resolvido. Claro que há uma imensidade de imponderáveis e alçapões que os analistas críticos não se cansam de salientar, minimizando e procurando minar a credibilidade de todo o esforço feito. Não é o Orçamento que todos gostaríamos de ter, mas é o que se tornou possível face às restrições internas e externas que me dispenso de repetir. Este simples facto constitui um inegável sucesso que só a direita mais desconsolada, por ter sido arredada do poder, insiste em não ver.

 

Outro problema que este ano, a aproximar-se do fim, nos permitiu começar a resolver, foi a do sistema bancário. Sem ajuda dos nossos parceiros da UE que teimam em não fechar o dossiê da "união bancária" e a obrigar a que cada um dos Estados-membros resolvam por si os seus problemas. Também aqui não se terá chegado a soluções ótimas, mas os movimentos das últimas semanas gerados em torno da capitalização da CGD, da venda do NB, a resolução que se prefigura para o BCI, o renascimento do BCP em terreno firme e a possibilidade de se constituir um veículo que viabilize a limpeza dos balanços autoriza que se encare a consolidação do nosso sistema bancário em bases estáveis. É ainda só um começo, mas também uma esperança de que se encontre um rumo seguro para resolver tudo o que ainda resta.

 

Mas o problema português é de médio e, sobretudo, de longo prazo. O futuro prepara-se. Nos países como nas empresas e nas famílias. Creio que por esta ordem, porque existem nexos de causalidade e de "subordinação" que a aconselham. Por isso, gostaria que 2017 fosse o ano em que os portugueses começassem a pensar no seu futuro como fizeram, no princípio do século, outros países bem mais desenvolvidos do que nós. Quando conseguiremos parar para pensar nesse futuro e numa estratégia? Num alvo em relação ao qual nos mobilizemos e sintamos que fazem sentido os sacrifícios a que de qualquer forma nos sujeitamos, saindo desta lógica em que nos desgastamos dia a dia, com as pequenas coisas de quem pensa pequenino?

 

Essas são as preocupações de quem não tem mais responsabilidades do que gerir esse dia a dia e fazer a gestão calculista dos possíveis ganhos eleitorais.

 

Perspetivar o futuro e prepará-lo é fixar metas e desígnios: quando e como inverteremos realmente a escalada da dívida que nos sufoca? Quando conseguiremos criar sólidas condições de crescimento? É tempo de cortar com esta lógica. Não podemos continuar a marcar passo nas reformas. Por muita vontade que exista, e o Governo do PS tem-na, faltam-lhe meios e falta-lhe o tempo para escrever numa folha de papel objetivos e prioridades, registar como e para onde vamos. Em que áreas e setores vamos ser competitivos e crescer ganhando mercados. Este Governo tem um bom ponto de partida, chama-se "Agenda para a Década" e foi produzida pelo PS quando se preparava para disputar as eleições. Nem era necessário ir tão longe nos pormenores então avançados. Bastava pegar nos pilares então elencados, atualizá-los se fosse caso disso e fazer uma proposta concisa e séria aos portugueses. Nós estamos preparados e ávidos para a receber esse suplemento de esperança para o futuro.

 

Economista. Professor do ISEG/Universidade de Lisboa

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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