Opinião
Quem endireita isto?
O momento é atroz para as velhas e novas gerações. Aquelas vão assistir à perda das reformas e financiar filhos e netos, e estas vão ter de emigrar, aguentar a estagnação, viver na precariedade e lidar com o desemprego cíclico.
A FRASE...
"A dívida pública que se emite no Japão e na Alemanha no prazo de 10 anos não só não custa nada aos Estados respetivos como acaba por ser um ganho… tudo isto enquanto o comércio mundial cai e os lucros empresariais também."
Juan Ignacio Crespo, El País, 4 de Junho de 2016
A ANÁLISE...
A fronteira alargou-se entre países de dívida pública a preços baixos e aqueles que criam uma perceção de risco elevada. Os "maus" países recebem especuladores; os "bons" recebem aqueles que têm de garantir segurança das poupanças. A dimensão de mercado dos investidores de risco não é comparável com a dos conservadores. As sociedades mais ricas e envelhecidas só têm de proteger as poupanças dos seus pensionistas. Estes são os verdadeiros investidores da poupança mundial.
São os políticos dos "maus" países, aqueles que geram o risco elevado para a sua sociedade, que promovem o debate do repúdio da dívida pública e a virtude milagrosa de qualquer investimento público. Simultaneamente aplaudem a criação de mais dívida pública, mas evitam analisar as razões da sua insustentabilidade.
O momento é atroz para as velhas e novas gerações. Aquelas vão assistir à perda das reformas e financiar filhos e netos, e estas vão ter de emigrar, aguentar a estagnação, viver na precariedade e lidar com o desemprego cíclico.
Os políticos que atraem especuladores criaram as condições da insustentabilidade passada da sociedade, mas têm a habilidade de vender ao mesmo tempo a sua sustentabilidade futura. Ainda que se oiça o que se quer ouvir, podemos adiar o tempo, mas o tempo não o fará (Benjamim Franklin "dixit").
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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