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Tecnologia na educação

Uma das tendências atuais que preocupa muitas escolas de gestão é a emergência dos MOOCs ("Massive Open Online Courses" – Cursos Abertos Online Massificados).

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A ideia de que é possível oferecer online disciplinas académicas é mais do que uma evolução do ensino à distância clássico. Em qualquer área do saber encontramos hoje on-line, e de forma gratuita, informação, conhecimento, intuições e dados com grande profundidade e complexidade. Esta informação e conhecimento foram no passado o reduto exclusivo de especialistas que por vezes consumiam a sua energia e saber ao longo de toda uma vida e carreira na recolha dessa informação e na organização desse conhecimento. Parece assim viável que muito do ensino superior possa vir a ser oferecido de forma bastante barata e eficiente on-line.


Os MOOCs são uma das últimas tendências na educação superior disponibilizando na internet todos os materiais (incluindo vídeos das aulas) associados a uma determinada disciplina e dando aos estudantes a possibilidade de frequentar e obter aproveitamento às disciplinas ao seu próprio ritmo e de forma eficiente em termos de tempo e custos.

Os MOOCs partem de um conjunto de premissas. Primeiro, que os estudantes beneficiariam de ter aulas com a maior estrela mundial em cada tópico do saber. Segundo, que a produtividade do ensino e da aprendizagem pode ser muito aumentada com o recurso às tecnologias de informação. E terceiro que os custos do ensino superior se estão a tornar proibitivamente elevados e elitistas pelo que se arriscam a excluir do acesso ao conhecimento muitos estudantes com elevado potencial de aprendizagem.

Em termos estratégicos, o eventual sucesso generalizado dos MOOCs, como inovação disruptiva, cria um risco acrescido de sobrevivência para as escolas de gestão quer para as mais prestigiadas que deixam de ser suficientemente atrativas, quer para as escolas mais normais que não têm "estrelas" globais no seu corpo docente.

Os MOOCs têm sido usados com algum sucesso em quase todas as áreas do saber desde a matemática, às ciências exatas, às humanidades e à gestão. Do ponto de vista das escolas e dos estudantes a questão principal é saber se esta forma de aprendizagem se pode vir a tornar importante ou mesmo dominante e afetar a própria sobrevivência das universidades tal como hoje as entendemos.

Quase todas as novidades prometem mais do que acabam por oferecer e dois problemas sobressaem no caso dos MOOCs. Em primeiro lugar as taxas de conclusão dos cursos são muito baixas (por vezes inferior a 10%). As razões são facilmente compreensíveis já que a maioria dos alunos estão tipicamente menos comprometidos com o curso do que quando a sua aprendizagem tem presença física. No fundo aprender é muito mais do que assistir a aulas boas e estimulantes. E assistir a um vídeo previamente gravado exige muito menos comprometimento individual do que estar em presença de um ser humano de carne e osso a falar em tempo real.

Em segundo lugar há aprendizagem, em muitas áreas do saber, que decorre da interação e partilha de experiências com colegas. Isso é muito difícil de ocorrer num ambiente on-line com milhares de alunos cada um a seguir o curso ao seu ritmo. Nas áreas disciplinares em que a interação humana é determinante os MOOCs serão úteis como instrumentos complementares, mas não como fontes primárias para apreender conhecimento novo com alguma complexidade, especificidade, ou nuances conceptuais de alguma relevância.

O próprio custo de produção e administração de MOOCs é bem maior do que poderia parecer à primeira vista.

Como em qualquer tecnologia nova há os apologistas apaixonados e os céticos conservadores. No contexto da lecionação da maioria das disciplinas de gestão confesso que encaro com alguma prudência a possibilidade de este ser o novo paradigma da educação superior. Mas estes cursos estão disponíveis, muitas das aulas são mesmo excelentes e pedagógicas, e é bom alertar os alunos para estas novas oportunidades de aprender.

Prefiro ver estes instrumentos como um complemente e não um substituto dos métodos de ensino tradicionais. Na minha perspetiva, a interação presencial entre seres humanos continua a ser a melhor tecnologia de aprendizagem.

* Professor

Católica Lisbon School of Business & Economics, Universidade Católica Portuguesa

jba@clsbe.lisboa.ucp.pt

(Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico)

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