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Notas do verão: bloqueio

O regresso às aulas e ao trabalho mantém vivos os temas dos últimos quatros anos. O tempo passa mas não há progresso, nem político nem económico.

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Em Portugal, a caminhada rumo às eleições de outubro parece estar alheada da maioria da sociedade. Se, como sugerem as sondagens, o PS tiver condições para governar com ou sem o apoio dos seus companheiros de estrada, a nova legislatura poderá ter uma maior legitimidade democrática, mas deverá continuar o marasmo desta. Apenas com magros benefícios para os que se encontram mais próximos do poder. E sem perspetivas de uma agenda reformista, contando apenas com os apoios financeiros da União Europeia.

Se o PS não tiver condições de liderar o Governo - o cenário que mais me agradaria pessoalmente -, será difícil a construção de uma alternativa de governo, e terá a oposição firme do conjunto de instituições públicas da sociedade portuguesa. Será sempre uma liderança limitada e com dificuldades de afirmação.

A aparente resignação da sociedade é compreensível face às condições sociológicas do nosso país.
Nos Estados Unidos, o governo americano continua a fazer estragos no plano internacional. O tom crescentemente agressivo para com a União Europeia, e alguns países individuais como a Dinamarca, começa a ser preocupante por ser oriundo de um país com tanto poder militar. A hostilidade excessiva face à China no contexto da chamada guerra comercial começa a manifestar-se nos mercados financeiros, mas também na economia real. Um acordo parece ser impossível já que nem a China nem ninguém percebe qual o objetivo do governo americano. E para quê assinar um acordo com um governo que pode mudar tudo com um tweet no dia seguinte?

A economia alemã começa a dar sinais de crescente fragilidade. As tensões no comércio internacional acabam por se refletir numa economia fortemente industrializada como a alemã. O Banco Central alemão veio alertar para um risco de recessão ainda este ano. Por enquanto ligeira. Mas este será um tema de debate económico nos próximos trimestres, pelo menos.

No resto da União Europeia os países são notícia no contexto de crises políticas que se arrastam e nunca se resolvem.

No Reino Unido, o novo primeiro-ministro parece determinado a manter na agenda a saída da União Europeia sem acordo assinado no dia 31 de outubro. Ninguém, nem o governo de sua majestade, sabe se é apenas "bluff" ou se é uma decisão mesmo. O governo decidiu um interregno parlamentar mais longo do que o habitual. Se para ter um "bluff" mais credível, se para ter ganhos eleitorais, também ninguém sabe. O cenário de eleições no Reino Unido parece incontornável. Resta saber se antes ou depois de uma saída jurídica da União Europeia. Depois da confusão da participação do Reino Unido nas eleições para o Parlamento Europeu, temos um país que não irá indicar um comissário europeu. Isso é uma decisão temporária ou definitiva? Os britânicos regressam da praia para um país com manifestações na rua. O que era um motivo de interesse turístico no estrangeiro tornou-se um fenómeno também britânico. A mais antiga democracia do mundo deixou de ser um farol de estabilidade e pragmatismo. Uma grande perda.

Em Itália, o verão também foi de crise. Há mudança de partidos de governo, mas sem novas eleições. O Movimento Cinco Estrelas, um partido recente e de caracterização difícil, é agora o partido charneira em Itália. Quem se coligar com eles pode entrar no governo. No primeiro ano foi a Liga. No segundo será o Partido Democrático membro dos socialistas europeus. Será que mudará outra vez no terceiro?

Em Espanha, a crise na formação do governo mantém-se. O PSOE quer imitar o PS português na formação de governo. Mas a Unidas Podemos não quer imitar o Bloco de Esquerda e o PCP e quer uma coligação formal com distribuição de pastas governamentais. O novo governo será certamente fraco com ou sem novas eleições.

O verão manteve vivas todas as crises mais relevantes da política internacional. Nenhum caminho novo se parece ter aberto. As férias não foram retemperadoras nem para os governos nem para os governados. Que regressam de férias cansados e preocupados. O bloqueio passou a ser normal.

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