Mas, na passada semana, aconteceu uma outra "saída" - "exit" no vernáculo da indústria. Refiro-me à venda da "start-up" portuguesa BestTables ao gigante TripAdvisor. A BestTables, de que sou utilizador assíduo desde 2011, é um portal que permite efetuar reservas de mesas em restaurantes com presença em Portugal e no Brasil. O valor do negócio não foi revelado, mas os intervenientes nacionais mostraram-se felizes com os termos do acordo, tendo confirmado que existiu um bom retorno para investidores e empreendedores. Tratando-se de um movimento pequeno em valor, mas que se reveste de grande simbolismo.

Temos tido outras boas notícias no ecossistema empreendedor nacional. Entre estas vale a pena destacar o recente investimento na Farfetch, o portal de moda de luxo fundado por José Neves, que valorizou a empresa em perto de , mil milhões de dólares. Mas esta valorização, como acontece nestas situações, é uma expectativa que extrapola um investimento bastante inferior, associado a uma proporcional participação na estrutura acionista da empresa. O valor efetivo de uma empresa materializa-se quando alguém decide pagar um determinado valor por ela. Este confronto entre expectativa e realidade é algo que tem estado presente na discussão pública nacional, embora não no contexto empreendedor. De facto, é cada vez mais evidente que o valor pelo qual o fundo de resolução bancária resgatou o Novo Banco será superior ao que os potenciais compradores estão dispostos a pagar.

É neste sentido que uma saída com sucesso é tão importante. Um ou vários compradores reconhecem o valor efetivo de uma empresa e pagam, gerando retorno para empreendedores, investidores e para uma região.  As saídas acontecem através de uma venda a uma outra empresa, ou através de uma oferta pública de aquisição em bolsa, conhecido pelo IPO. No entanto, o primeiro caminho é bastante mais comum do que o segundo. Um sistema empreendedor requer talentosas e boas ideias, além de capital para as desenvolver, aspetos que têm sido muito debatidos em Portugal. Mas não há dúvida de que um ecossistema empreendedor nunca terá reconhecimento e não poderá crescer se não demonstrar o seu valor económico, que se materializa através de "saídas".

É uma saída que demonstra que o modelo de negócio, a tecnologia e a equipa têm solidez e maturidade suficiente para viver além dos seus fundadores, do seu ecossistema inicial, e do capital de risco. É também através da saída que investidores têm retorno do seu investimento, readquirindo a liquidez que lhes permite considerar investir em novas iniciativas empreendedoras e criar um círculo virtuoso. Em qualquer região, seja nos EUA ou em Portugal , os principais "anjos" que disponibilizam capital-semente, e agentes que dinamizam fundos de capital de risco, são empreendedores e investidores que tiveram saídas com sucesso.

Esta foi precisamente a situação da BestTables, com uma característica adicional: o comprador não é uma empresa marginal de um país pequeno, mas antes um dos gigantes americanos e mundiais na área do turismo online. Portugal tem tido muito poucos eventos de saída, o que demonstra bem o estado incipiente do ecossistema. Os empreendedores e investidores associados a alguns dos mais conhecidos negócios, como a venda da Chipidea, da Enabler, ou da Mobicomp, são hoje protagonistas centrais no desenvolvimento do nosso sistema empreendedor. Que a venda da BestTables seja uma de muitas mais e cada vez melhores "saídas limpas," para que seja possível continuar a reforçar a dinâmica empreendedora e a criar valor em Portugal.

Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics

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