O Modelo da Confiança

"O Modelo da Confiança" é um pequeno livro de Ken Blanchard, o mesmo autor de "O Gestor-Minuto" e que participou também no famoso "Quem mexeu no meu queijo?".

Estamos, portanto, perante um daqueles fenómenos de sucesso no mundo da literatura ligada à gestão que ganha pequenas fortunas com livros e conferências em torno de "sound bites", modelos proprietários e muitos truísmos. É um tipo de obra da qual, normalmente, desconfio.

No entanto, este livro parte de uma pergunta interessante e sobre a qual nunca tinha refletido: "Como se descreve a confiança? De facto, trata-se de um conceito subjetivo, muito ligado à perceção e difícil de descrever, seja por palavras ou símbolos. O desafio de "O Modelo da Confiança" é construir uma linguagem para a confiança, um modelo que permita um enquadramento comum e que possa ser aplicado e replicado. Interessante.

O "ABCD Trust Model" pretende ser essa ferramenta e é-nos apresentado logo nas primeiras três páginas do livro. Descodificando, a confiança constrói-se a partir de quatro elementos: A - Able, que significa ser competente capaz ou de ajudar o outro; B - Believable, ligado à credibilidade e atuação íntegra consistente; C - Connected, a preocupação com os outros, mostrar-se e querer conhecer; D - Dependable - fiável, novamente ligado à consistência. Ou seja, a confiança constrói-se em cima de comportamentos que seguem estas quatro dimensões ao qual se deve associar o fator tempo. Está correto e é um insight útil.

Na primeira parte do livro, o modelo ABCD é exposto utilizando uma parábola que utiliza duas fórmulas gastas: a família em dificuldades e os animais falantes. Compreende-se que se pretenda atingir o máximo público potencial, mas é um tipo de abordagem que trata o leitor com uma infantilidade que não merece. E, claro, quando temos papagaios a falar com hamsters sobre os problemas de confiança de um cão com um gato, a mensagem pode adaptar-se, mas perde muito em credibilidade. Como argumentar racionalmente contra o exemplo de liderança de um papagaio?

A segunda parte do livro pretende listar "recursos para construir a confiança", identificando comportamentos positivos e negativos em cada uma das quatro dimensões do modelo e tentando aplicá-lo a situações em concreto, orientando-se muito para a autoanálise e com exercícios de autoavaliação.

"O Modelo da Confiança" não é um livro concetualmente sólido, mas admito que possa ser muito útil na intervenção em cenários de crise. O "ABCD Trust Model" faz todo o sentido e é pena que nos tenha sido mostrado entre dramas familiares e um peixe-dourado a filosofar com um hamster.

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

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