Opinião
Wilders e a tentação holandesa
Por estes dias, Donald Trump parece ser o centro do mundo, causando nervosismo crescente em todo o mundo. Mas, enquanto isso, a Europa não tem pela frente apenas o desafio que a nova administração americana lhe acena.
Tem também os seus enormes problemas internos, a começar pela teimosia alemã sobre a forma como se deve modelar a economia europeia e resolver o problema da dívida. A Europa está frágil e cinde-se a olhos vistos. Trump poderia ser um factor de unificação face a um "inimigo externo", mas parece mais evidente que isso não adoçará o frenesim alemão sobre os países do Sul da Europa nem alterará a posição de muitos países do Leste, também eles empenhados em construir os seus muros perante a apatia de Bruxelas e Berlim. Este ano vai ser de grandes mutações, independentemente dos resultados das eleições que se vão desenrolar em França ou na Alemanha. Muitos esquecem uma das eleições mais importantes de 2017: as que se vão realizar na Holanda. Este é um dos países que criou a primitiva União Europeia e um solavanco forte na sua posição no núcleo duro do projecto europeu pode ter consequências graves e imprevisíveis. Como a tentativa de sair da União Europeia.
Não é uma impossibilidade, tal como não é a vitória de Marine Le Pen em França. A Holanda sempre foi vista como um país tranquilo e multicultural, tolerante e agradável. Da herança vistosa da sua arte à beleza estética da sua selecção de futebol, a "laranja mecânica" dos tempos de Cruyff, a Holanda parecia continuar a ser um país sem problemas. Não é o caso. Em Março, tudo pode mudar. O Partido da Liberdade de Geert Wilders pode muito bem ser a surpresa que ninguém na Europa desejava. Wilders foi uma das vozes mais sonantes da recente reunião de grupos de extrema-direita em Koblenz, onde ele fez o elogio rasgado de Donald Trump. E não deixou de referir que estamos a caminhar para uma "Primavera Patriótica" na Europa. Talvez como metamorfose da célebre "Primavera Árabe", que teve os resultados conhecidos. É um choque para um país sempre preocupado com a lógica do comércio e dos negócios e que sempre buscou o consenso. Este ainda existe na figura do primeiro-ministro conservador Mark Rutte. Mas até este está a ser contaminado pelo vento extremista, tendo já dito que quem não se adaptar aos valores holandeses pode ir embora. Só que o populismo de Wilders já está à solta. Há algum tempo que ele propõe o fecho das mesquitas, banir o Corão e fechar as portas aos que buscam refúgio na Holanda.
Grande repórter