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Timor-Leste: o regresso de Xanana Gusmão 

Timor-Leste tem-se defrontado com vários problemas, a começar pela instabilidade política e a acabar numa economia fraca. Por isso, um Governo forte parece ser, neste momento, a melhor solução para os problemas do país. 

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Xanana Gusmão, herói da resistência à ocupação indonésia, volta a ser a figura central em Timor-Leste. Os resultados das eleições parlamentares confirmam isso mesmo. A Aliança de Mudança para o Progresso, liderada pelos antigos Presidentes timorenses, Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak, obteve 34 dos 65 mandatos do Parlamento Nacional. Ou seja, a maioria. Terá tido 49,56% dos votos totais. Em segundo lugar ficou a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que liderou a coligação minoritária que sustentava o anterior Governo, e que manteve o mesmo número de deputados, 23. No Parlamento ficará também o Partido Democrático (PD), que foi aliado da Fretilin no VII Governo. E pela primeira vez no Parlamento estará a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) que terá três lugares. Só em Junho os deputados deverão tomar posse. Estes resultados poderão conduzir a uma fase de maior estabilidade política no país, que era visível desde as últimas eleições, com um Governo minoritário e fraco, liderado por Mari Alkatiri, numa altura em que Timor-Leste necessita de tomar decisões estratégicas sobre o seu futuro. Recorde-se que a nação é considerada a mais pobre do Sudeste Asiático.

 

Timor-Leste tem-se defrontado com vários problemas, a começar pela instabilidade política e a acabar numa economia fraca. Por isso um governo forte parece ser, neste momento, a melhor solução para os problemas do país. E as tensões pessoais entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, que tinham tentado delegar o poder numa geração mais nova, não ajudaram. E a campanha eleitoral mostrou isso mesmo: as acusações mútuas de cumplicidades com negócios pouco transparentes foi um hábito.

 

Duas missões mais rápidas estarão agora nas mãos do próximo Governo: um Orçamento do Estado e a finalização das negociações com a Austrália para a partilha das receitas do petróleo e do gás existentes no mar entre os dois países. Xanana tem sido principal negociador, por Timor-Leste, da delimitação das fronteiras do mar de Timor e em Fevereiro as duas nações chegaram a um acordo sobre as receitas da zona Greater Sunrise, que poderá proporcionar entre 30 e 45 biliões de dólares, sendo a maior parte de Timor-Leste. Mas não há acordo sobre o local onde o petróleo deva ser processado. As receitas do petróleo são vitais para Díli, já que a maior parte do seu OE e do Fundo Estatal tem a sua proveniência daquela fonte. Outras das questões em cima da mesa é a dos gastos estatais: o CNRT de Xanana sempre achou que os megaprojectos são a melhor solução de investimento, ao contrário dos seus parceiros, que defendem mais dinheiro para o interior do país, muito empobrecido. Saber quem indicará o ministro das Finanças esclarecerá muito sobre o futuro.  

 

Arménia: uma revolução com muitas dúvidas

 

Em Portugal não se dá muita importância à Arménia, mas as mudanças em curso na antiga república soviética do Cáucaso poderão ter implicações muito importantes nas relações entre a Rússia e os EUA e nos equilíbrios no Médio Oriente. Uma mistura de protestos, pedindo alterações democráticas e reformas económicas, causaram uma mutação política no país e a chegada ao poder de um homem que parece surgido do nada, Nikol Pashinyan. Este prometeu o mais claro: direitos humanos protegidos e luta contra a corrupção. Utilizando uma T-shirt e um boné de características militares passou rapidamente a figura de culto em Yerevan. Os protestos, levados sobretudo a cabo pelos jovens (com uma forte percentagem de mulheres), foram o suficiente para encostar à parede a estrutura política que tem dominado a Arménia na última década, personificado por Serzh Sargsyan, apoiado por Moscovo.

 

À segunda vez, Pashinyan venceu a eleição para o cargo de primeiro-ministro no Parlamento. O país faz parte da União Económica Euroasiática e da Tratado de Segurança Colectiva, liderados pela Rússia. E tem uma base militar russa. Mas Moscovo não interferiu. Pashinyan diz que tem como prioridade as relações com a Rússia, mas não se sabe se, havendo eleições antecipadas, e conseguindo uma maioria, essas boas intenções não desaparecerão. Isto porque a estratégia dos EUA é cercar a Rússia através de um arco que vai do Báltico ao Cáucaso. A Arménia tem fronteiras com o Irão e a Turquia, onde todos os conflitos vão dar. E Washington quer aumentar a sua influência na Arménia. Esta tem uma longa história de conflitos com a Turquia. Para Moscovo a maior dor de cabeça seria se o que está a acontecer na Arménia contaminasse o Azerbaijão (rico em petróleo), cuja influência Washington também cobiça.

 

China: a dívida de Angola

 

A dívida bilateral e comercial de Angola à China situava-se no final de 2017 em 21.500 milhões de dólares, segundo o prospecto da emissão de 3.000 milhões de dólares em euro-obrigações colocada na praça financeira de Londres. O documento informa que além da dívida à China, Angola devia a bancos comerciais russos 1.800 milhões de dólares e ao Brasil 1.200 milhões de dólares. "Angola concentrou a exposição da sua dívida à China, Brasil e Rússia e um impacto adverso nas suas economias pode ter impacto na capacidade futura de Angola de aumentar os seus empréstimos", admite o mesmo prospecto, preparado pelo Ministério das Finanças angolano, que coloca em 24.500 milhões de dólares a dívida total a estes três países.

 

O documento salienta que desde 2006 a China tornou-se no "maior importador individual de petróleo angolano", chegando a representar, em 2017, um peso de 61,6% das exportações de petróleo por Angola, no valor de 19.200 milhões de dólares. "Contudo, a dependência de Angola da China para uma proporção tão significativa do seu comércio significa que qualquer perturbação da estabilidade ou crescimento económico na China ou qualquer ruptura económica ou de relações políticas entre Angola e China poderia ter um efeito adverso na economia angolana, que, por sua vez, pode afectar materialmente e adversamente a condição financeira de Angola", bem como a "sua capacidade de pagar" o endividamento em euro-obrigações agora contraído.

 

Chipre: a questão do gás natural

 

Na sequência do encontro entre Chipre (parte grega), Grécia e Israel, que decorreu em Nicósia, para discutir o "pipeline" de gás natural entre a parte oriental do Mediterrâneo para Creta/Grécia/Itália, o Presidente da República Turca do Norte de Chipre, Mustafa Akinci, disse que o projecto não oferece uma rota para a paz. Isto porque exclui os cipriotas-turcos e a Turquia. Os primeiros, segundo Akinci, também têm direito aos recursos naturais da ilha e que fazer o "pipeline" através da Turquia seria a forma mais curta e barata de fazer o transporte de gás.

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