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O "não" de Santana Lopes

Santana Lopes pode ser um salto no vazio, mas é contra a rotina da nossa política diária. Acredita que o mais audaz pode ser recompensado. É isso que move Santana Lopes.

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Um grande poeta, Walt Whitman, insinuou que um dia a política seria uma canção. Antevia o tempo em que a política se faria menos à volta de ideias e mais de pessoas. Em que os discursos seriam substituídos por "tweets". Este é o momento em que, perante uma plateia de cidadãos sonolentos, só as emoções fortes os despertam. Um líder tem de ser Cupido e acertar no coração de quem não tem respostas. Ou só tem certezas tão sólidas como as que se expressam nas redes sociais. Os novos líderes compreendem este vazio intelectual. Hoje o "não" une mais do que a ideologia, as facções ou as famílias. Os cidadãos, fartos de cruzar ideias, notícias ou sensações, reduzem tudo à negação, servida num microondas. As certezas ardem como lenha seca. As sociedades pedem descargas eléctricas que as retirem da letargia. Os populistas já perceberam a mensagem. Respondem ao não ao desemprego, ao não aos emigrantes, ao não à corrupção. A Portugal ainda não chegou esse tempo, mas esse caldo está a ser cozinhado.

 

É neste contexto que surge Santana Lopes com a sua Aliança. Lendo as suas linhas "programáticas" no Expresso, não se encontra ali nada de novo. O partido de Santana Lopes quer ser "personalista, liberalista e solidário", mas quer distância de Bruxelas. Quer mais sector privado na saúde e um Orçamento rigoroso, mas que possa sê-lo menos nos dias em que fizer chuva. Ou seja: nada de novo. Então, se não é a nível das ideias que Santana vai surpreender, é com o quê? Com a ruptura de um discurso emocional. Santana Lopes pode ser um salto no vazio, mas é contra a rotina da nossa política diária. Acredita que o mais audaz pode ser recompensado. É isso que move Santana Lopes. E que definirá o seu discurso que, para ser audível, terá de dançar à volta do "não". Será, quer ele queira ou não, contra o "sistema". Só isso trará até ele os deserdados da nova ordem económica e social. Os partidos de hoje são caixas de ressonância dos interesses instalados. Para vingar, Santana Lopes terá de ser a força da ruptura. Impondo um código digital novo: a força do "não".

 

Grande repórter

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