O imperador Qin, que unificou a China, foi enterrado com os seus guerreiros. Uma obra de arte, que não se esgotou nas réplicas dos seus soldados, antes alargou-se às mulheres, aos acrobatas ou aos músicos. Todos ficaram imortalizados em terracota. Isto é, Qin não queria ser recordado apenas pelos seus dotes guerreiros. Desejava deixar como herança o seu mundo ideal. Hoje, a esperança dos políticos mundanos é mais limitada. Sabem que serão apenas recordados no futuro se tiverem sido Presidentes da República, primeiros-ministros ou "quase isso". Há políticos que se contentam em ser as réplicas Matchbox dos modelos reais. Cada um nasce para um destino. Ainda não se percebeu muito bem se Rui Rio será recordado no futuro como o imperador Qin do PSD ou apenas como um Gremlin de um grande político. Talvez um dia Rui Rio tenha visto "O Fabuloso Destino de Amélie" e tenha ficado inspirado pela saga. Amélie sempre teve uma vida simples. Divertia-se com coisas inocentes: a atirar pedrinhas ao rio Sena ou a partir a crosta do leite-creme. Rui Rio diverte-se com coisas mais sérias: escolher vice-presidentes e secretários-gerais do PSD. E tem um objectivo: chegar ao poder.

Isso, claro, é matéria para um doutoramento em "stress". Mas, com mais ou menos Felicianos ou Elisas, Rui Rio é obstinado. Basta recordar a sua passagem pela Câmara do Porto. Contra tudo, venceu e repetiu a proeza. Portanto, é cedo para menosprezar o líder do PSD. Ele, no fundo, traçou o seu fabuloso destino. Acredita, piamente, que o PS, em 2019, não terá maioria absoluta. Crê que o PCP saltará fora de qualquer novo acordo. E mesmo o BE não é seguro. Assim, se não vencer, Rio está convencido de que será vice-primeiro-ministro e trará o PSD de novo para o poder. E assim calará toda a oposição interna. Não é um mau sonho. E pode até nem se tornar um pesadelo. Mas resta saber como Rui Rio conseguirá sobreviver até 2019.

Grande repórter