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Lavoisier e Carlos Costa 

Antoine-Laurent de Lavoisier, devido à sua disciplinada metodologia, enterrou definitivamente as crenças mágicas medievais e criou os conceitos da química moderna. Converteu-a, no século das Luzes, numa ciência revolucionária.

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A ele devemos a lei da conservação da matéria: a energia não se cria nem se destrói, apenas se transforma. Não teve sorte: tendo trabalhado como cobrador de impostos foi considerado um traidor e acabou na guilhotina. Nunca foi fácil a vida de quem faz parte das autoridades fiscais ou bancárias. Carlos Costa que o diga. A ternurenta entrevista do governador do Banco de Portugal ao Público mostra claramente essa infelicidade emocional. Carlos Costa desdobra-se entre um homem convicto e duro e uma personagem ciente dos limites dos seres humanos. Nuns casos faz parte dos deuses, noutro é uma vítima das circunstâncias. Tanto diz, com segurança de um super-herói, que "se eu não cumprir o mandato, não cumpro a minha obrigação de salvaguardar a independência do Banco de Portugal" ou "dizer a Ricardo Salgado que não tinha idoneidade foi um acto de grande afirmação do Banco de Portugal", como se esvai em falta de energia, confessando: "O que fizemos foi o que se podia fazer."

 

Fica-se com a noção de que Carlos Costa é, segundo o próprio, um homem com excesso de qualidades. O de sofredor, mas também o de alguém que é como Rocky Balboa. O problema é que a salvaguarda da independência está ferida de um pecado mortal. Carlos Costa foi reconduzido no cargo a poucos meses das eleições por decisão unívoca de Passos Coelho, sem ouvir a oposição. Se um governador do Banco de Portugal não é a soma de consensos, onde reina a sua independência? Apenas na letra da lei? Depois, toda a sua actuação, no quadro da intervenção da troika (que, lembremos, por um milagre qualquer assentou no corte nas despesas do Estado, destruindo o contrato social onde assentava a sociedade portuguesa, mas esqueceu os problemas do sector financeiro) não foi isenta de decisões que geram interrogações. De qualidade e de quantidade.

 

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