Opinião
China: o salto em frente de António Costa
A China sabe que Portugal, velho conhecido do entreposto comercial de Macau desde o século XVI, é um parceiro importante, com ligações atlânticas que lhe interessam.
A capital da China, Pequim, esteve até à década de 1950, cercada por muralhas. Não eram sistemas de defesa. Eram, pelo contrário, o fruto da geometria cósmica, um gráfico da ordem universal. A política chinesa dessas épocas estava ligada a fés religiosas, já que o governante era o intermediário entre o Céu e a Terra e o seu império, se governado com sensatez, era um reflexo da ordem cósmica. A Pequim clássica, parte construída nos séculos XIV e XV, reflectia essa ordem. Hoje, exceptuando zonas como a Cidade Proibida, nada disso resta. Mas, nestas últimas décadas, a China saiu das suas fronteiras e tem vindo a deixar a sua impressão digital em todo o mundo. As "novas rotas da seda", vias económicas de expansão chinesa, são a prova disso. É esse mundo que António Costa encontra, numa altura em que, face à inexistência de capital nacional, à austeridade imposta pela União Europeia e ao pouco investimento estratégico de empresas ocidentais em Portugal, o país necessita de diversificar fontes de investimento. A China (tal como poderá ser a Índia) poderá ser uma forte opção.
Até agora o investimento chinês tem sido feito sobretudo em activos já existentes. Mas António Costa, já o mostrou, quer mais. A ligação directa aérea entre Pequim e Lisboa trará mais turistas com poder de compra. Mas Portugal necessita de investimentos estruturantes em novas áreas e é isso que a China poderá trazer. A China sabe que Portugal, velho conhecido do entreposto comercial de Macau desde o século XVI, é um parceiro importante, com ligações atlânticas que lhe interessam. Não foi por acaso que o primeiro-ministro chinês visitou os Açores há poucas semanas, vindo do Canadá, podendo ter feito a viagem de regresso a Pequim pela rota do Pacífico.
Macau foi, e continua a ser, uma plataforma fulcral para a ligação a Portugal e a países da CPLP (sobretudo em África, mas também ao Brasil). As relações entre os dois países foram pacíficas (ao contrário do que sucedeu, por exemplo, com a Grã-Bretanha) e isso não é algo que se esqueça. A China sabe também quais são as fragilidades económicas de Portugal. Mas também reconhece a sua capacidade de manobra num mundo dividido, como foi evidente na eleição de António Guterres para secretário-geral da ONU. A China soube ser discreta nas suas opções e percebeu que Guterres era um máximo denominador comum entre opostos, ao contrário de outros candidatos. Portugal pode ser um pólo dos interesses chineses na Europa. E garante-lhe uma ponte constante no Atlântico. A ordem cósmica chinesa poderá passar, ainda mais, por aqui.
Marrocos: eleições sustentam poder actual
Marrocos não fica longe de Portugal. Fica praticamente ao alcance de um olhar mais atento mas, muitas vezes, e lamentavelmente, não damos atenção ao que ali se passa. No caso, as eleições legislativas da passada semana que garantiram nova vitória ao Partido da Justiça e do Desenvolvimento, com uma maioria simples de 125 deputados num conjunto de 395 eleitos. Ainda assim é uma subida de 18 deputados face aos que tinham sido eleitos em 2011, depois das manifestações da designada Primavera Árabe. O segundo lugar foi para o Partido da Autenticidade e Modernidade, formado por um amigo do rei Mohammed VI, Fouad Ali el Himma, para tentar travar a força dos islamitas, com 102 deputados. Em terceiro ficou o mais antigo partido de Marrocos, o conservador Istiqual, com 46 lugares. E a esquerda é muito frágil: a União Socialista das Forças Populares só conseguiu 20 deputados. O líder dos islamitas, Abdelillah Benkirán, saudou o resultado eleitoral como "uma vitória da democracia". Mas ficou evidente o distanciamento dos eleitores: só participaram 43% do colégio eleitoral de 16 milhões de votantes.
Apesar de o rei continuar a deter um poder considerável no país, o executivo toma importantes decisões em Marrocos. Mas mais uma vez o partido vencedor terá de fazer pactos pós-eleitorais para poder governar e isso tem sido um factor de fricção entre os islamitas e o rei, que acusam de ter um poder "autoritário" e de beneficiar o principal partido da oposição. Em causa está a pretensa "islamização" do país promovida pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento. Os choques políticos prometem não ficar por aqui.
Macau: o lugar da finança
O presidente da Comissão Executiva do Banco Nacional Ultramarino deu uma entrevista à revista Macao, onde mostrou a importância da futura abertura da agência de Hengqin: "A principal estratégia comercial desta agência será acompanhar os nossos clientes a providenciar apoio aos clientes do Grupo CGD que gostariam ou já estejam a investir e a fazer negócio na China. Um número significativo de clientes do BNU dispõe de investimentos na China Continental, particularmente na Província de Guangdong. (…) Por outro lado, uma parte significativa das relações comerciais e de investimento com os CPLP é feita através da China Continental. Desta forma, com a abertura da nossa agência em Hengqin, o BNU irá certamente desempenhar um papel mais activo na promoção de negócios entre a China, Macau e os CPLP." Isto porque Macau é uma plataforma fundamental entre a China e os países da CPLP. E lá o BNU tem uma vantagem reconhecida.
Índia: aquisição de caças concluída
A Índia já confirmou a aquisição de 36 caças franceses Rafale no valor de 8,8 mil milhões de dólares. Os primeiros aviões serão entregues em 2019 e irão substituir os antiquados Sukhoi 30-MKI, que têm pouca capacidade face aos F-16 do Paquistão, com quem a Índia continua a ter uma tensa relação nas fronteiras. Esta decisão tem de ser vista em simultâneo com o corte da assistência militar dos EUA ao Paquistão. Ainda assim os observadores mais atentos consideram que se trata de um número insuficiente de aviões face ao poder da aviação do Paquistão, que também está prestes a ter de modernizar a sua frota militar.
Iraque: tribunal opõe-se a PM
O Tribunal Federal do Iraque declarou inconstitucional a proposta do primeiro-ministro Haider al-Abadi para extinguir os até agora existentes (apesar de apenas simbólicos) cargos de vice-presidente e vice-primeiro-ministro. O tribunal declarou que, para os cargos serem abolidos, seria necessário a aprovação de uma maioria absoluta no Parlamento seguida de um referendo apresentado ao povo iraquiano. A decisão ilustra a fragilidade do Executivo iraquiano.