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A postos para as autárquicas

Começam a limpar-se as armas para a grande contenda de Outubro. Não é, como nos tempos bolcheviques, uma tomada de diferentes Palácios de Inverno, mas assemelha-se em termos de lógica de poder.

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O poder autárquico foi durante muito tempo o músculo das grandes manobras que decorrem em Lisboa. Mas, nestes tempos de mudança, pululam candidatos não-alinhados, desde figuras que regressam como se nunca se tivessem ido embora a estreantes que driblam o poder dos partidos tradicionais. Afinal nada que já não fosse visível em 1901, quando o perspicaz Mariano de Carvalho escrevia: "Os princípios, conforme vulgarmente se diz, foram à carqueja. Por isso mesmo, porque há muito mais questões de homens e de interesses do que conflitos de ideias, os laços partidários são frouxos." Basta ver o número de candidatos que deixaram os seus partidos porque supõem que são mais importantes do que as estruturas onde evoluíram em candidaturas anteriores.

 

Vai ser interessante verificar o que vai acontecer em Oeiras, no Porto ou em Cascais. Ou em Loures, depois de surgir um candidato conhecido por aparecer na televisão a dizer coisas inenarráveis para um político que não quer ser confundido com um populista. O problema é que parece que o modelo vai vingar, com cobertura dos dirigentes do partido pelo qual concorre. Sabe-se que, na política, o estado de ânimo é decisivo numa campanha que quer ter sucesso. Os eleitores estão cansados, perplexos e irritados. Veja-se Lisboa. Os moradores estão a ser atirados para fora do centro pela pressão imobiliária. O trânsito é caótico e os transportes públicos, deficientes. Que respostas têm os candidatos para este momento explosivo? É preciso dar esperança aos eleitores. Candidatos tristes não ganham eleições. Porque não lideram, não seduzem nem convencem. As opções em Lisboa são frágeis: entre o candidato da cidade postal ilustrado e do "progresso" imobiliário, e uma candidata que quer construir 20 estações de metro (ao arrepio de tudo o que foi a sua política anti-investimento público quando estava no Governo) e outra que esteve desaparecida em combate antes de dizer que não era para ser a escolhida (ficando-se sem perceber quem, entre os anteriores primeiros-ministros do seu partido, era a primeira escolha), que se pode fazer? Ninguém confia em quem não mostre segurança.

 

Pensemos um pouco sobre as autárquicas, sobretudo porque os eleitos nas cidades, vilas e aldeias são quem está mais próximo dos eleitores. E estes querem resultados. O voto é um contrato público sobre o bem comum. Numa época em que os políticos eleitos são produtos das elites (veja-se Macron ou Trump), apesar de não serem eleitos por elas, e em que se assiste à substituição dos gestores e especialistas políticos e económicos por milionários, financeiros e empresários, porque estas elites querem governar directamente, que resposta dará o poder autárquico a este mundo em mudança? Nas autárquicas escolhe-se com mais facilidade um "homem providencial", aquele que "mostra obra". Tornaram-se questões de homens carismáticos, algo que diz muito sobre o caminho da política nos nossos dias. Já não são as ideias que vencem: é a sua percepção. Talvez por isso estas autárquicas nos vão dizer tanto sobre o futuro político de Portugal. 

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