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A França e a Europa. Destinos cruzados

A França é uma aldeia gaulesa, cercada por todos os lados, já não por soldados romanos, mas sim por emigrantes, terroristas islâmicos e burocratas de Bruxelas.

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Até porque foi (pelo menos, na teoria) um dos pólos do poder europeu que se estabeleceu no pós-II Guerra Mundial e que visava contrabalançar e isolar o poder da Alemanha. Com a Grã-Bretanha fora do barco europeu há muito, a França sempre foi vista por muitos países como o contraponto a Berlim. Mas há muito que falhou nessa missão, seja com Sarkozy ou, sobretudo, com o descalabro que foi François Hollande. Agora, frente a frente, para decidir o futuro da França (e da Europa) estão dois candidatos improváveis: Emmanuel Macron e Marine Le Pen.

 

Esta é uma eleição atípica, mas que diz muito sobre o novo mundo político que se vai desenhando. Pela primeira vez um presidente não se candidata à reeleição (Hollande sabia que a derrota seria copiosa). O candidato do seu partido, o PSF, só teve 6% dos votos, o que diz algo. A ronda final das eleições não tem um candidato dos dois maiores partidos franceses. O vencedor, qualquer que seja, ou não tem partido (Macron) ou tem uma bancada parlamentar ínfima (Le Pen). Ou seja, que França é esta?

 

Macron declarou, após a sua vitória na primeira volta das presidenciais que: "Num ano mudaremos a face da vida política francesa". Se ganhar, ninguém duvida que o fará. Será uma face jovem e fresca. Mas não se sabe se mudará muito mais do que isso. Macron simboliza o "status quo" com uma cara trabalhada pelo marketing, como se fosse um produto novo que ninguém deve perder. E o problema é que a França precisa de mudanças radicais, porque os seus problemas são estruturais, seja na economia, seja nas finanças, seja no emprego, seja no Estado social, seja na relação com os emigrantes, seja na segurança, seja na ligação à europa. São muitos trabalhos para os quais não parece existir uma poção mágica que transforme Macron em Obélix. É por isso que Marine Le Pen, que sabe que dificilmente poderá ganhar, está mais confiante: se tiver 40% dos votos fica com um músculo forte para o futuro. As suas mensagens têm subjacente um projecto político e económico sólido, que bebem no desconforto dos franceses que sentem estar a perder a sua identidade face à economia global ou à emigração. Se perder e tiver um bom resultado nas próximas legislativas, Le Pen poderá muito bem vir a ser a líder da oposição, onde irá capitalizar as emoções dos franceses face à falta de respostas do "establishment".

 

O debate entre Macron e Le Pen foi muito inconclusivo. Sossegou a Europa, porque Macron defende os valores de mercado e de uma comunidade económica, a livre iniciativa e o "status quo". Mas como dizia Jacques Attali, Macron é o último produto do "vazio actual", essa paixão do novo pelo novo. E esse é o problema não apenas de França, mas de toda a Europa. Estas soluções apenas adiam o problema, que mais dia menos dias cairá em cima das nossas cabeças com toda a rudeza: como resolver o problema estrutural do emprego, como conciliar austeridade com crescimento, como resolver o problema da emigração e da identidade cultural, como responder aos desafios da globalização, como criar segurança para os cidadãos? E o problema é que Macron não tem muitas soluções para isso.  

 

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